CARTA ABERTA À MINHA IRMÃ MARTHA - Matéria do Cantinho do Zé Povo-O Jornal de Hoje-Edição de 01 Ago 2009-Natal-RN

Minha querida irmã, Martha:

Derna de mil novecentos e cacête, qui sigundo uis sábios, “quando num se pode fazê aquilo qui se deve, deve se fazê aquilo qui se pode”... Tô lhe dizendo isso, minha fia, no CANTÍIN DO ZÉ POVO, cum a premisssão duis meus leitô; puro fato de num pudê tá presente fisicamente na festa duis seus “sete ponto zero”. Mais fique certa qui é um mutivo prá lá de justo; tô viajando a seiviço da produção do meu show de quinta fêra, dia 06 de agôsto, no Triato Aiberto Maranhão. É isso mêrmo, quinta fêra, dia 06, ais nove da noite... E você, sendo fía de quem é, eu tenho certeza qui a mió homenage qui posso lhe prestá, é agradá a quem fô me assisti. E prá qui isso acunteça, eu tenho qui me disdrobá no antes, no durante e no dispôi do show... Cumo você já sabe, o show se chama CANTURIA DE MATUTO, e é um tributo à nossa querida e sardosa cumediante, MYRIAM GURGEL MAIA, recém falecida. Num quero cumetê cum você, o êrro qui cumití in relação a ela, a quem eu cunsiderava uma irmã tão querida quanto ais ôtas nove, nascidas de papai e de mamãe... Quero lhe homenageá in vida, lhe dizendo qui você puxô a mamãe, ao consolá quaiqué um qui têja passando um má momento. E arrelembro aqui,uma vêiz qui eu tava prá lá de imputicido, “mais infadado do qui béimuda de sapatêro e mais isquentado do qui baiguía de ferrêro”... Você vêi me consolá, tentando “butá pano quente”, dizendo qui eu num divia ficá daquele jeito, cum a cara feia, qui oiasse ais coisa boa qui eu tinha na minha vida, e ôtas coisa mais... Me alembro perfeitamente da cara de ispanto qui você fêiz, quando eu dixe, de repente:

- Ôxe; e tu tais pensando o quê ? Qui eu sô maniquim de aifaiate, é ? Apôis eu num sô não; maniquim de aifaiate é qui “véve o tempo tôdo cum um ferro ispetado na bunda, e surrindo”...

A risadage de quem tava ao redó, se uviu puruma meia légua, penso eu... Arrelembro tombém ais istripulia sua e dais prima da gente lá na Maiada de Roça, cunversando todo tipo de munganga, mode incabulá o sardoso Véio Arcelino. Cumade Luzia e cumade Zéfinha do Véio Arcelino só fartava indoidá cum você. Só qui na Maiada, você incontrô “o texto da panela”, qui era Sinhôzíin (pai de Avaní Policarpo) que era motorista de papai. Êle era tão bonzínn qui curria atráis da gente cum um cabo de vassôra melado de istrumo, mode sujá a gente... Uma vêiz papai foi prá Campina, num levô Sinhôzíin, quem foi dirigindo foi SeuValério. Papai sempre andava drumindo no banco trazêro e Sinhôzíin achô qui quem ia abri a púrtêra era Valério, e melô a tramela da purtêra cum istrumo; aí, quem vêi abri a purtêra foi papai, qui se melô foi tôdo... E quando chegô na casa grande da fazenda, papai parecia “um sirí dento de uma latra”... Puraqui, valha-me Deus; quem sufria nais suas mão era Mãe Miana, Maria Vermêia, Raimunda (irmã de Mãe Miana) e mais uma ruma de gente, daquelas qui ajudaro a mamãe e Quena a criá nóis tudíin... É isso aí,minha irmã! Num tenha véigonha de chorá; e munto menos de sortá a criança qui graças a Deus; ixiste dento de você... Num tenha véigonha dais istripulia que fêiz, pois elas são relíquias do seu passado. Qui Deus lhe dê mais uma porrada de anos de vida e de saúde...Num sei de suais pretensão, mais sobre mim, de minha vontade, “Só quero morrê, dispôi de véínn,/ dispôi de passá, cum munta decença,/ p’ruis cabra mais jove, minha ixperiênça,/ brincando cum uis neto, já duis meus netíin./ Ceicado pru todos, de amô e caríin,/ prá minha partida, pronto, quero tá./ Qui Deus só premita, a mim viajá,/ dispôi qui eu tivé, cumprido a missão,/ cagando na sala, amassando c’áis mão,/ e cantando galope na bêra do má”... Deus lhe dê tôda saúde e tôda felicidade do mundo!... Seu irmão caçula,

Bob

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 01/08/2009
Reeditado em 01/08/2009
Código do texto: T1730708
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