CARTA A SANTO ANTÔIN CASAMENTÊRO...-Matéria do Cantinho do Zé Povo-O Jornal de Hoje-Natal-RN-Ed. de 13.jun.2009
Meu Santo Antôin:
Essa carta qui lhe iscrevo hoje, tem dois mutivo. Premêramente, é mode agradicê o qui o Sinhô me deu há 45 anos atráis, qui foi a namorada qui lhe pidí, na vespa do seu dia, no ano de 1963. O Sinhô, querendo vê se era isso mêrmo qui eu quiria, inda demorô um ano mode atendê meu pidido; e no dia 29 de maio de 1964,
cumecei a namorá cum a namorada qui eu lhe pidí e tô cum ela inté hoje... Fazendo ais conta bem dêrêitíin, de namôro nóis tem 45 ano; e de casado, trinta e sete, dento duis trinta e oito. E num me arrepindí não Santo Antôin; Adele, minha muié e namorada inté hoje, me referindo a ela, eu digo qui nem o sardoso Coroné Ludrugero dizia in relação à sua Felomena; “ô muierão macho”!... Ais vêiz tem cada briga da “gôta serena”, mais num demora munto e nóis já ta “no inxirimento dais camaradage de novo”... Pronto; premêramente era isso qui eu tinha qui lhe dizê. Sigundamente; eu quiria tê no Cantinho do Zé Povo, no seu dia; “dois dedo de prosa cum voirmicê”. Mais num é uma prosa pidindo nada não; é aigumas cunsideração sobre o qui o Sinhô tumava de conta nuis tempo de ôtrora e qui hoje; eu acho qui o Sinhô tem a mêrma opinião dêsse véio trovadô matuto. Intonce, ramo lá! No meu tempo de jove, ainda rapaizíin; era tudo deferente, simpres numas coisa e cumpricado n’ôtas; mais munto gostôso; fora da conta, cumo se diz hoje in dia. Quando se avistava uma môça (e era môça mêrmo; cabaço do ligítimo...), uis cabra ficava insaiando cumo era qui ia tumá chegada, mode falá namoro; era um sacrifiço mais disinfiliz dêsse mundo de meu Deus. Quando tumava chegada e ela aceitava namorá, era pegado um na mão do ôto, e só... Quando o cabra era peitudo e chegava a pidí cunsintimento ao pai da môça, mode namorá in casa; era na sala, um sentado junto do ôto, mais cum bem “dois páimo de distança, qui era mode num fazê terra”... E quando o cabra chegava in casa, mêrmo cum essas “dificulidade”, ficava pidindo a Deus qui o dia passasse ligêro e qui a noite chegasse logo, mode êle ir prá casa da namorada. No seu dia, logo na véspa, cumeçava a “curriria”, ais môça atráis de bacia, águia de custurá, caivão, vela, “faca virge” (qui nunca tinha sido usada), mode fazê ais adivinhação e pidido ao Sinhô, prá saí do “poço da solidão”. Essa istóra de “ficá”, discúipe a má palavra, Meu Santo; mais so ixistia nuis “beréu” (cabaré); quando um criente custumêro ia p’ro quarto cum a mêrma muié trêis vêiz siguida, ais ôta, inciumada, já preguntava p’ru cabra:
- Tu vem aqui e só fica cum fulana; o qui danado ela tem qui eu num tenho ?
Ais resposta, Santo Antôin era ais mais variada pussíve. Uns arrespostava dizendo:
- Ela tem tudo o qui você tem, mais você num me dá o qui ela me dá ?!...
Abri esse ispaço, mode ixterná ao Sinhô, cumo me intristêço quando vejo muntas adolecente cunversando sobre o tá do “ficá” e dizendo:
- Hoje eu “fiquei” cum fulano; e êle já dixe qui qué ficá mais eu na ôta festa...
Prá a gente, qui foi criado dento de ôtos princípio de morá; é mêi chocante! Num é querendo “tirá onda de santo não”, mêrmo pruquê, sô fié ao pensamento do sardôso iscritô e meu mestre paraibano, Zé Cavalcante, Seu Zé; qui custumava dizê:
- Quando um ruim passa a sê bom; êle tá pió do qui nunca!... Também sô fié cumo pôcos, àis nossas tradição e raiz curturá; e o Sinhô mêrmo é tistimunha qui derna qui eu me intendo de gente, só num acindí sua fuguêra, no dia 12 de junho de 1981, quando meu pai João Motta foi prestá conta ao Criado; e pru cunhincidença, no dia 12 de junho de 1985, quando minha mãezinha Sivirina siguiu o mêrmo camíin do véíin dela...
É isso aí, Santo Antôin; e no mais, é isso mêrmo.
Arreceba meu agradicimento pura atenção qui dé a essa minha carta, junto cum ais oração desse seu devoto “chêi de gaiofança, mais cum munto amô no coração chêíin de remendo (stend)”.
Fique cum Deus!