O Outro Lá
Quantas vezes descobrimos que amamos uma pessoa que na verdade nada tem em comum conosco? Eu mesmo descobri isto algumas vezes. Talvez na primeira vez eu tenha tido um medo, mas hoje eu aceito e até acho engraçado. Vou lhes contar minha historia. Só que ela não começa com o sol da primavera, ou os ventos das tardes de outono – quem me dera fosse assim! Porem as coisas nem sempre são como pensamos ou desejamos. A vida às vezes nos prega peças, um tanto quanto dramáticas. É nesta hora que entra minha historia. Um dia eu conheci um menino. Hoje, três anos depois, eu o vejo como um homem com alma de criança. Seu nome? Não direi. Porem irei chamá-lo de “o outro lá” (um apelido que uma amiga e eu demos a ele, para que pudéssemos falar sobre ele em qualquer lugar, sem medos que meu segredo fosse descoberto). Pois bem, o outro lá, quando no conhecemos era um tanto quanto infantil. Ele atrevia-se a me tirar do serio, e eu adorava irritá-lo. Chegamos ao ponto de ele ficar me chutando. E um dia ele sorridente vira para mim e diz: “Minha mãe ficou brava comigo por sua causa!”. Fiquei espantando com o motivo: “Ela disse para eu parar de ficar te chutando”. Estranho, mas um tanto quanto lindinho. Passou-se um ano. Fizemos um teatro juntos na escola, vivemos momentos engraçados e um tanto chatos. Como colegas de escola. Vieram as férias de dezembro. As coisas que haviam passado ficariam para sempre na memória. Tive férias normais. Não muito espantosas ou diferentes do que eu estava acostumado. Chegou fevereiro e as aulas recomeçaram. Foi bom rever os amigos. Conversar, estudar e vê-lo de novo. Mas este ano, éramos mais que colegas de escola. Viramos colegas de classe. Jogávamos jogo da velha nos finais de aulas. E começamos uma disputa. Algo que por mais estranho que fosse mostrava-me que éramos mais parecidos do que eu pensava. E eu passei a reparar nos olhos dele. Um olhar que me lembrava muito a infância que tivera. E um sentimento estranho surgia dentro de mim: confiança. Eu por muitas vezes sabia que podia confiar nos meus amigos ou na minha família. Porem não sentia tal coisa. Com ele foi diferente. Acho que por primeiramente ter achado que ele era diferente, e futuramente ter descoberto que éramos muito parecidos. Acho que por este motivo conseguia sentir que podia confiar nele. Passaram-se verão, outono, inverno e primavera e vieram as férias. E estamos hoje neste novo ano. Passei as férias com minha mãe. Voltei revigorado do litoral. Pronto para viver uma nova vida e quem sabe encontrar meu amor. Mas mal sabia eu, tolo e insano poeta, ou mal saberia você meu leitor infiel que hora lê minhas cartas e chora. E ora as lê e diz: “-Que inutilidade!”. Que o amor eu já conhecia. Mas era um amor impossível. Um amor daqueles que podendo se passar dez anos. Se por um único dia pudéssemos juntos ficar, seria a emoção de uma emoção. A vida nos prega peças. Eu muitas vezes mentir e fingi amar. Outras vezes, mentiram e fingiram que me amavam. Hoje não sei ao certo se poderia dizer que eu amo. Sei que adoro olhar para ele. Vê-lo dormir quando de manha ele acorda cedo, para de projetos ele participar. Ou então de olhar para ele quando ele fica pensando e pensando tentando uma matriz resolver. E ainda adoro ouvir sua voz, tentando ser legal comigo ou então tentando se conformar que ele perdeu pra mim. Ingrata, a vida é um tanto quanto. Um pouco de amor e emoção, talvez ela tenha. Porem. A dúvida que os psicólogos ajudam-nos a resolver, a vida nos causa. A vida tudo pode ser. Menos psicóloga. Porque psicólogos nos ajudam a resolver problemas. E a vida? Ela não nos dá soluções, somente mais duvidas!