Cartas de Um Viajante - XXV

Oh, noite!

Somente essas estrelas são realmente belas e importantes, eu de nada valho e nada significo além de minha própria e misera insignificância. Não passo de moléculas perdidas e unidas que não correspondem nem a mais mínima fração do universo, meu nome é qualquer palavra redutível à quase nada ou qualquer coisa do gênero! Eu não passo de uma sombra esquecida do passado, algo bom e fugaz como a embriaguês!

Minhas veias dilatam questões que ousadas defenestram-se de minha garganta. Qual é a diferença entre o vinho e o fumo? Por que aquilo que queima meus lábios é tão diferente (e letal) do que aquilo a queimar suas entranhas? Um povo que anseia a felicidade... A mediocridade é um caminho! Mas qual a diferença entre o manto da ignorância que vós vestis? Nenhum, meus caros, nenhum!

Vestem-se da mesma roupa, embriagam-se de quaisquer maneira... E vós ainda (n)os põe a margem de uma sociedade inventada para se ter dos homens o suor?! Quão doudos vocês são!

Sou um desastre vestido de homem, sou uma fuga presa em cárcere! Eu não sei expor palavra alguma, jamais serei um sábio! De tudo e à todos, sou uma farsa sóbria!

Esse mundo me traveste e profana enquanto esta solidão tamanha me abocanha em todas as partes de meu intimo! Que eu seja para sempre insuficiente! Minha pequenez simboliza todo o meu valor... Nem esta minha falha memória comigo colabora. Tantas vozes! Todas tão vazias...

Vós inventais verdades e mentiras, dissemina-las como vírus e contamina-nos com seu ar de certeza; Estou absorto neste meu pseudo testamento. Não tenho nada se não dúvidas inimagináveis que me tomam o sono e a preguiça. Meu cachimbo para sempre se apaga...!

As imagens se pintam como quadros e eu sou uma figura desconexa entre eles, me sinto as vezes elevado e altivo, uma tranqüilidade tingida de medo e uma secura tão forte na boca...! Vossas vísceras são tão podres quanto as minhas! Não há diferença se não os vícios de consumo e tortura!

Queria poder estalar como aquilo que aceso prendo entre meus dedos, os ecos são tão puros e serenos! Poderia quem saber haver vida afinal! Que eu seja uma mentira ornada de farsas! Minha mediocridade não se compara as coisas belas...

Se isso é uma visão distorcida do mundo, então sou um homem desfocado. Tudo o que tenho é a insanidade.

- E talvez isso seja muito mais do que tudo que vós ainda tereis. -

Atenciosamente,

Ralph Wüf

Ralph Wüf
Enviado por Ralph Wüf em 15/12/2008
Reeditado em 20/12/2008
Código do texto: T1337210
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