Cartas de Um Viajante - XXIII

Boa noite,

Esta solidão desmedida me sufoca e o ar longínquo de Ravenus mais ainda. Miséria! Têm algo em mim que me desconforta... Olhos tão negros que me fazem ter vontade de me perder no breu daquele céu noturno e nublado. Eu já não consigo me entender, meu peito queima e desfalece em pleno céu de verão!

Há dias que estamos parados neste lugar, existe algo que nos impede a travessia... Cobram dinheiro que não temos! Um precipício tão fundo, um castelo de cristal tão límpido... Não há como passar por entre este sem pagar, não há como sobrevoar sem que setas sejam lançadas, o caminho até a queda e o lado é longo. Pela noite os homens não dormem, o castelo está sempre acordado à espreitar aqueles que tentam o atravessar.

Demônios! Não há sequer uma ponte à quilômetros! Nem um vilarejo, nada! Ravenus pode passar tranquilamente desde que ágil como corvo escape ligeiramente das flechas que estes homens reluzentes e transparentes lançam.

Esta minha fúria conturbada e estes meus olhos de lobo nada me ajudam! Me sinto impotente e cansado, Ravenus não ousa proferir uma palavra sequer...! Maldita tortura!

Já não sei se agüento mais... Essa ausência presente me desconsola, esta solidão, essas mãos que não consigo alcançar, e nem sei por quê anseio tanto isso! O vento lhe manda ósculos e ele os contrapõe com a brisa de suas asas... Miséria! Mil vezes miséria! O que está acontecendo comigo, querida? Até onde estarás tu enterrada?

Não entendo o que se passa entre eu e Ravenus! Não entendo o que se passa entre tu e eu!

Ah, maldição! Me sinto tão perverso e tão nojento! Mesmo assim, tudo nele me agrada... Menos esta frieza irremediável, ele parece me odiar! As vezes temo pelo que se passa em minha mente, esta minha imaginação desvairada e insana me consome com pensamentos profanos... Ah! se ele me entendesse... Ou será que sentes o mesmo e por isso se afasta? Chega! Antes que eu enlouqueça (mais), chega! Preciso ir embora! Os guardas estão ausentes do portão, existem vielas por detrás dos muros que o lobo pode percorrer... E porque não a besta?!Hahahaha! Miséria, mil vezes miséria! Que caia a loucura sobre mim!

Agora me vou!

Caso eu morra, digam ao corvo que o lobo acalentava-lhe no seio segredos...

Insones cumprimentos,

Ralph Wüf

Ralph Wüf
Enviado por Ralph Wüf em 09/12/2008
Reeditado em 09/12/2008
Código do texto: T1325838
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