Cartas de Um Viajante - XXIV

Acontece, que se apodera de mim uma cólera, um sentimento vil

e escurecido qual turva minha mente e sufoca meu coração...

Meu destino sem dúvidas é a solidão!

Amanheci esquecido ao pé da montanha, uma carta cobria meu peito

que desnudo estava coberto de sangue e feridas, uma ave negra me

acompanha de longe, mas eu sei, não é Ravenus!

Chamei aquele que me sobrevoava, e este demorou a atender o meu pedido, eu tinha entre os dedos uma carta que gostaria de saber o que significava, eu tinha em meus olho o vácuo emocional da despedida.

Perguntei para onde Ravenus tinha ido, este negou-se a me responder, quis ameaça-lo, mas logo segurei-me, era tudo desvalido, ele se foi e a culpa foi minha. Com toda sua incordialidade, este mandou-me ler a carta e falou que iria me acompanhar até o próximo vilarejo... e... "nunca mais!"

Caminhei com olhos cegos por lágrimas e devaneios, andei pela montanha e segui até onde parecia ser o começo de uma estrada, estava fazendo de fato um sol mui quente, e haveria ainda o que subir.

Sentei-me e pus me a descançar. Então, começou a me sufocar o peito as letras escritas em pena preta, guardada esta dentro do envelope para apoderar-se de mim ainda mais a culpa e a lembrança.

Ainda me engasgo com estas letras... Ravenus, aonde estarás tu agora?

Para vós, diabos que se riem de mim, vos deixarei o que anseiam... E deixarei para minha alma aquilo que a tinta leve deverá levar... O que me consome mais que tudo!

Estás aqui parte da razão de meus sofreres mais intimos, coisa que vós jamais deveríes saber:

"Não sabes, Ralph, o que dizes, nem o que pensas, tua mente te apoassas como demonios de mim! E este teus olhos tão doces se tornaram tão perigosos que eu temo tanto por ti e por tua insensatez... Jogou-te aos céus e ao precípicio em loucura, e sinto eu ter parte devedora nisso, mas de fato, lobo, eu não quero continuar a ter de me ausentar em tua presença. Sinceramente, pensamentos me cobrem a cabeça, são tão profanos quanto teus dedos que desesperados tentam me tocar a todo custo...!

Eu já não consigo manter-me em razão, e sei que aos poucos sucumbiria a essa bestialidade... Mas de fato, não posso

te aceitar, não nestas condições inefaveis que decorrem em ti e a mim. Então, sinto muito, mas tenho de partir.

Lhe roguei uma companhia até o proximo vilarejo, ele cuidará de ti da maneira qual devo me privar... Tu nunca precisou dizer palavra alguma...!

Logo nos veremos de novo.

De seu sempre amigo,

Ravenus ... "

Mizéria! Todos meus intimos devaneios estavam certos! Mil vezes miséria! Ai, se eu tivesse me afastado quando pude!

Mas aquela alegria traiçoeira que me cegou e me diluiu nos vicios das carícias dele me impediu de pensar em algo além de mim... Eu sou tão egoista... Mais que tu, meu caro amigo emplumado... Os céus da noite te pertencem, e não mais haverá o lobo à te importunar e segurar teu vôo em terra! Partirei agora só!

Agredeço-te sempre, meu caro... Sempre! Há em mim ainda coisas que não devo decifrar.

Conturbados cumprimentos à todos,

Ralph Wüf

Ralph Wüf
Enviado por Ralph Wüf em 08/12/2008
Reeditado em 12/12/2008
Código do texto: T1325673
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.