Cartas de Um Viajante - XXI
Boa noite,
Hoje sinto o peito mais leve, e a mente mais calma. Não estou mais só.
Enquanto caminhava em saída da cidade encontrei desmaiado um homem, a sua magreza chamou-me a atenção, e sua beleza também. Tímido aproximei-me do moribundo. Ele respirava tão suave! Parecia que dormia! Toquei-lhe a face e levantei-lhe as mantas. Pelos Deuses! Naquela hora meu seio se abalou e meus olhos se inundaram! O desacordado era Ravenus! Seus cabelos negros caindo na face branca como o gelo, os olhos puxados e pequenos, os lábios finos e o nariz altivo... Pus seu corpo apoiado em minhas costas e comecei a caminhar, levando-o. Encontrei uma gruta e adentrei cauteloso, deixei-o em lugar seguro e saí em busca de caça e lenha. Mas que calor trouxe ele à meu peito! Melhor foi só ver os olhos de breu cinzento se abrindo. O olhar assustado, e logo o sorriso gentil!
Entreguei-lhe comida e àgua, o corpo esguio e magro estava mais fino que o de costume, os dedos transpassavam facilmente os ossos pscianos. Ele, se não recebesse hoje cuidados, provavelmente morreria. Após o jantar, contou-me tudo o que passara, cada segundo, cada dor, e cada trajeto. Falou-me de vilas e povos, céus e tempestades, fome e feras.
Seu caminho foi árduo, logo contei à ele o meu. Assustou-se e troteou de meus sofreres; Ah, Ravenus! Sarcástico como sempre! Tão meigo... Agora ele dorme coberto por minhas sujas roupas, sirvo-me apenas de uma calça para tapar-me as vergonhas, tenho o seio desnudo e renovado; Agora talvez haja esperança!
Amanhã seguiremos em caminha à próxima vila, preciso reter o tamanho de meu cabelo e a distância entre as montanhas. Ainda sou um assassino!
A noite vai alta, porém calorosa. A brisa é fresca e hoje não faz frio. O céu é límpido. Deve ter chegado o verão! Os tempos são propensos à viagem.
Calorosos Cumprimentos,
Ralph Wüf
- Há ainda uma lua no céu...