Cartas de Um Viajante - XX
Sinto-me tão cansado e tão velho, a solidão tem me abatido profundamente e já nao sei se tenho condições de prosseguir.
Ainda tenho visões aterradoras na minha mente... Os olhos abertos, o corpo esmagado pelo impacto da queda que sofre quem se joga pela janela do desespero... A face deforme pelo pavor. A fuga é a morte.
Ecos esmagam meu peito, o sangue derramado ainda se coagula no tecido puido, as vergonhas consumidas em levianidade... Meu peito é vazio, o tédio me têm consumido em cama. Até quando andar em solidão? Nenhum sinal de Arlid para atormentar-me o juizo, nenhum sinal de ninguém.
Continuo em uma caminhada sem direção ao rumo de lugar nenhum. Em qual inferno estará eu agora me enfiando?! Que som em "ré" é este que me atormenta a alma?! Soa como um cântico fúnebre de minha própria morte... Nem os demônios me querem!
Nessas horas imagino-a deletiando-se em uma nova vida, ennquanto eu estou aqui debaixo deste céu estrelado de derrotas pálidas e virtudes perdidas. Me sinto tão velho e usado, tão chato e cansado... Eu quero retornar ao meu lar! Quero denovo sentir o peito arder, ter minha alma consumida nas chamas da paixão e da inspiração, e não novamente este vento gélido e essas mãos geladas apunharem-me o seio e o leito febril de pranto sempre inacabados, interrompidos por um sono desastrado em meia à lua cheia.
Já não sei mais em que tempo estou, esta viajem já se tornou massante e eu anseio seu fim... O meu fim! Que haja a elevação sem antes a loucura! Que haja a glória sem antes a batalha... Que haja a vida sem a morte. Eu não sou um artista, não sou um sonhador, sou apenas um homem velho sem convicções. Os sofrimentos já são nulos e este cançasso me deixará em sepulcro. A vida se tornou meu próprio veneno, e a solidão minha amante mais enamorada.
Ralph Wüf