Eu me autobiografio
Sou um relógio programado para acordar mais tarde.
Sem confetes, apenas vespertina, embora tenha nascido em manhã carnavalesca. É sério, cesária, a 16 de fevereiro de 1985.
E chovia e chovia, enquanto eu chorava, toda profana em meu enterro do avesso, uma blasfeminina com o sexo exposto à fama:
- Bem-vinda à vida, señorina Benevides Paola!
Carrego alguns tiques na fase lunar. Às vezes fico à míngua quando sangro, depois cresço, então me renovo do nada e fico de cara cheia. Desapareço detrás das nuvens de novo. Daí vem meu despertador, que se encaixa bem no punho esquerdo, avisando: canhotismo virou intérprete agora! Em latim, esquerdo é sinistro, sinônimo de sombrio.
Em francês, é gauche, desajeitado. Em italiano, mancino é o mesmo que desonesto. No Brasil, canhoto é um dos nomes do demo. E olha que não acho coisa ruim de todo, quem me conhece que me compre bem caro, cumprimenta-me a mão destra e vê quem eu sou na força do apertado!