LAURA WHEELER WARING

Retratos para a visibilidade afro-americana

 

   A falta de espaço e de representatividade para os afro-americanos nas artes plásticas foi um dos muitos aspectos da segregação e do racismo nas décadas seguintes à abolição da escravatura nos Estados Unidos, em 1863. Fenômeno semelhante ocorreu na música, na literatura e em outras expressões artísticas. Apenas com o chamado "Renascimento do Harlem", movimento cultural das décadas de 1920 e 1930 que tomou aquele bairro de Nova Iorque com artistas negros, que vários nomes se destacaram. E coube a Laura Wheeler Waring registrar esses personagens em retratos plenos de técnica e sensibilidade.

   Nascida em Hartford, Connecticut, em 16 de maio de 1887, Laura Wheeler veio de uma família abastada. O pai era pastor e gozava de prestígio na comunidade, enquanto a mãe, professora, incentivava a vocação de Laura para as artes. A própria Laura seguiu carreira no magistério, sustentando-se com seu trabalho em sala de aula. Estudou na Hartford Public High School e na Pennsylvania Academy of Fine Arts, na Filadélfia. Antes mesmo de se graduar, já lecionava.

   Durante 30 anos, Laura Wheeler atuou na Cheyney State Normal School, que se tornaria a Cheyney University, na Filadélfia, onde fundou o Departamento de Artes e Música. Seu trabalho artístico, com retratos, paisagens e naturezas mortas, se destacou, ao ponto da artista ser premiada com uma bolsa de estudos em Paris, em 1914. A viagem foi interrompida pelo início da 1ª Guerra Mundial. Mas Laura ainda voltaria algumas vezes à capital francesa, para estudos, como em 1924, ou para a lua de mel com Walter Waring.

   Tomar contato com os trabalhos impressionistas, em sua primeira viagem a Paris, por artistas como Monet, Cezanne e Manet, foi uma influência definitiva na estética de Laura Wheeler Waring. Na sua segunda viagem, estudou na Academie de la Grande Chaumiere, produzindo trabalhos como “Houses at Semur, France”, de 1925 e uma grande coleção de esboços, que se tornariam obras anos mais tarde. 

   Laura Wheeler participou da primeira mostra de arte afro-americana, em 1927, organizada pela William E. Harmon Foundation. Seus retratos dos artistas e ativistas do Renascimento do Harlem, como o diplomata James Weldon Johnson, o sociólogo W.E.B. DuBois e a estrela de ópera Marian Anderson, fizeram registros importantes da luta por afirmação e visibilidade dos afro-americanos – raríssimas vezes presentes nas telas. Um conjunto de oito desses retratos integrou a exposição “Portraits of Outstanding American Citizens of Negro Origin”, em 1944.

   Por vezes classificada como elitista, por críticos, Laura Wheeler subvertia esse rótulo produzindo trabalhos que representavam negros pobres e cenas de seu cotidiano. Foi também ilustradora, sempre destacando cenas do cotidiano da comunidade afro-americana em publicações como The Crisis, da National Association for the Advancement of Colored People, instituição influente na luta pelos direitos civis dos negros – além do seu importante trabalho como arte-educadora.

   Avessos à publicidade, vivendo de forma discreta, Laura e o marido, professor universitário, não tiveram filhos. Após uma longa enfermidade, a artista morreu em 03 de fevereiro de 1948, na Filadélfia. Seus trabalhos estão hoje em vários museus e galerias dos EUA e foram expostos com repercussão também na Europa.

 

(Parte da coletânea MESTRES DA ARTE, em produção, de William Mendonça. Direitos reservados.)