JAN VERMEER
O enigma de um talento inexplicável
Sobre Jan Vermeer, o escritor francês Marcel Proust classificaria: “um enigma”. Para Proust, nada se parecia com Vermeer em sua época, mesmo em meio à fulgurante arte dos Países Baixos, e nada o explicava. O artista que eternizou a “Moça com o brinco de pérola” (1665) ou sua cidade, na “Vista de Delft” (1660), já era um mestre em sua guilda e um talento reconhecido antes de completar 20 anos – pouco se sabe sobre sua vida até então.
Batizado e, provavelmente nascido em Delft, na Holanda, em 31 de outubro de 1632, Johannes Vermeer era o segundo filho do tecelão e comerciante Reynier Janszoon, que só adotaria o sobrenome Van der Meer (ou Ver Meer) quando o artista completara 15 anos de idade. Sabe-se que Vermeer ingressou como aprendiz na guilda de pintores de São Lucas, em Delft, seguindo o modelo associativo de aprendizado e formação que vigorava na época. Ele presidiria a guilda por duas vezes, na década de 1660.
Naquele tempo, diversos pintores se estabeleceram na cidade, que era a quarta maior da Holanda e possuía uma arquitetura agradável e convidativa. Leonard Bramer teria sido um dos mestres de Vermeer. Já Carel Fabritius, pupilo de Rembrandt, fazia sucesso em Delft até ser vitimado durante a explosão de um paiol na cidade, em 1654. O trabalho inicial de Vermeer tinha uma identidade comum com Fabritius, mas não há registro da parceria dos dois.
O artista, nascido em berço calvinista, adotou o catolicismo, religião de sua noiva Catharina, com quem se casaria em 1653 e teria 11 filhos. Data desse período inicial um dos quadros mais conhecidos de Vermeer: "Cristo na casa de Marta e Maria". Mesmo que seu trabalho seja incluído no movimento Barroco, muitas das soluções gráficas e do uso de luz, sombra e efeitos visuais serviriam de inspiração para obras de correntes modernistas, mais de dois séculos depois.
Apesar de renomado e respeitado como artista em seu tempo, Jan Vermeer passou por grandes dificuldades financeiras e, quando morreu, estava completamente falido. Nos últimos anos de sua vida, a cidade de Delft foi invadida pelo exército francês, durante um conflito entre a Holanda e o país vizinho. O mercado de arte declinou drasticamente e Vermeer foi obrigado a entregar várias de suas obras como pagamento para contas do dia-a-dia. Mudou-se com a família para a casa da sogra, alugando a própria residência.
O trabalho de Vermeer se apoia no cotidiano e em paisagens de sua cidade e seu tempo. Lá estão "A leiteira" (1658-60), "A rendeira" (1669), "O astrônomo" (1668), "A leitora à janela" (1657), entre outros personagens de Delft, além de cenas como "A aula de música" (1662) e "O concerto" (1665). Uma questão nebulosa sempre foi a atribuição de autoria a seus trabalhos, nem sempre um consenso entre os estudiosos.
Alguns dos quadros de Vermeer seriam escondidos dos credores pela viúva, Catharina, que também fez grandes esforços para recuperar outros junto aos comerciantes locais nos anos seguintes à morte do artista. Jan Vermeer morreria em 15 de dezembro de 1675, na mesma cidade em que nasceu.
(Parte da coletânea MESTRES DA ARTE, em produção, de William Mendonça. Direitos reservados.)