PAUL CÉZANNE
O abstrato e o real se misturam

 

   A ousadia de Paul Cézanne, em produzir uma arte que abriu os caminhos para as correntes modernistas do final do século XIX e início do XX, transformaram o artista em um verdadeiro marco geracional. Praticamente da mesma idade de outros impressionistas, como Monet e Renoir, Cézanne influenciaria artistas como Matisse e Picasso, que o considerava o "pai" das correntes modernistas. No entanto, o artista, que dependeu em grande parte da vida da mesada paga pelo pai e que temeu ser deserdado, sofria com as críticas.
   Filho de um banqueiro rico, que não aprovava seu interesse pelas artes plásticas, Paul Cézanne nasceu em 19 de janeiro de 1839, em Provença, na França. A família tinha origem italiana. Muito ligado à mãe, Paul começou a estudar desenho na Escola São José, em Aix. Conheceu o futuro escritor Émile Zola, que se tornaria amigo e incentivador, ainda no Colégio Bourbon, onde estudou a partir de 1852. Chegou a cursar Direito, por ordem do pai, mas acabou abandonando tudo para buscar o sonho de se tornar artista em Paris, no início da década de 1860.
   Sua produção inicial ainda sofre grande influência de Camille Pissarro e Delacroix e da escola romântica, com sua dramaticidade característica. Mas não demorou muito para que a originalidade do artista se mostrasse, tanto na forma de pintar, em diversas camadas, quanto no uso livre da perspectiva. Enquanto isso, sofria com as críticas que recebia – a ponto de cortar a amizade com Zola, um de seus apoiadores iniciais, por considerar que seria a inspiração para um pintor fracassado em um dos romances do escritor.
   No entanto, Cézanne se mostrava contundente ao defender os artistas de seu tempo, que não se dobravam ao realismo acadêmico. Defendeu abertamente Renoir e Monet. Viver de arte, na verdade, estava longe das aspirações de Cézanne, que morreria sem nunca ter vendido um de seus quadros. O artista chegou a esconder por vários anos seu casamento em 1869 com a modelo Hortense Fiquet, que dificilmente seria aceita pela família.
   Na década seguinte, Cézanne definiria um estilo próprio, que visava sempre a ilusão especial, com manchas de cores e a sobreposição de planos. Foi o caso de “Casa do Enforcado” (1874), seu trabalho mais famoso. A figura humana já não trazia os traços realistas e acadêmicos, ou mesmo a dramaticidade romântica. Cores, luz, sombra e novas proporções para corpos e objetos surgiam em suas obras.
   Nos anos seguintes, fez experimentações. Desde "Banhistas" (1875), passando por "Vista de Gardanne" (1886), chegando a "A mesa de cozinha" (1890), "Os jogadores de carta" (1892), Cézanne buscava novas formas de expressão. Cézanne também chegou a trabalhar com a simplificação geométrica das formas da natureza, o que influenciaria definitivamente algumas correntes modernistas, como o cubismo.
   Paul Cézanne tinha 67 anos quando não resistiu a uma gripe, após ser atingido por uma tempestade no campo, onde pintava. O artista morreria em 22 de outubro de 1906. Quase um século depois, sua obra "Cortina, jarro e compoteira", uma natureza-morta, foi vendida em um leilão por mais de 60 milhões de dólares, em 1999.
 

(Parte da coletânea MESTRES DA ARTE, em produção, de William Mendonça. Direitos reservados.)