O poeta que decidiu contar histórias (parte 2)
Há alguns meses meu primo Vladimir postou em uma rede social um relato muito interessante, após um show dos Titãs, e bom de memória, ele discorreu sobre tempos em que a nossa geração exercia certa fidelidade e até criatividade escutando rádio, lps, fitas cassete, enfim, métodos incompreensíveis a uma geração ambientada no streaming.
Eram tempos em que não conseguíamos ouvir nossas músicas favoritas a qualquer momento. Ou comprávamos um disco ou fita do artista, ou ficávamos escutando o rádio torcendo pra que aquela música tocasse e, com muita sorte e um rádio gravador, poderíamos gravar em uma fita virgem.
Também não tínhamos o Google para pesquisar as letras e aprender a cantar, tocar... Então a maioria tinha o famoso "caderno de música", onde escrevíamos as letras das músicas pra lembrar, aprender a cantar e de alguma forma ter nossa "playlist" sempre a disposição.
E é aí que nasce o Poeta: como muitos jovens da minha geração, eu tinha meu caderno e escrevia as letras das músicas que eu gostava. E com o tempo, não sei se por pretensão ou vaidade, comecei a imaginar como seriam essas músicas se eu fosse o artista, e passei a escreve-las desse jeito, parodiando, parafraseando e copiando muita coisa.
Só comecei a levar isso a sério e fazer meus próprios poemas com o tempo, conforme me dava bem nas redações de escola, e aos poucos era incentivado a participar de concursos de poesia e prosa. Já não tinha mais o caderno de música e sim uma pasta de poemas, que eu rabiscava nos cadernos de escola, tirava a folha e guardava nessa pasta, uma pasta vermelha bem velha e grosseira que ficou na casa da minha mãe quando me casei.
Mesmo assim eu ainda copiava muito, mas gradativamente, com uma certa experiência e lendo outros escritores, aprendi a usar melhor as palavras e colocar minha visão, minha personalidade nesses poemas que anos depois, com as bandas que formei e ajudei a formar, viraram canções, pra depois voltarem a ser poemas e textos e agora ser tudo junto, cada um em seu momento.
Entendi com o tempo que nenhum artista consegue ser 100% original. Penso que é tudo uma questão de processo criativo, como saber usar suas influências, bebendo de diversas fontes e escolhendo seus temas pra enfim usar a sua lente, a sua visão (e isso sim é original, por que cada um tem a sua) pra finalmente fazer sua obra.
Penso nessas obras como uma contrução, uma casa, por exemplo. O construtor, o pedreiro, também é um artista. Veja bem como as casas são iguais e ao mesmo tempo cada uma tem sua característica. São iguais por que todas têm basicamente cozinha, banheiro, sala, quarto e são levantadas do mesmo jeito, mas do alicerce ao teto, cada construtor usa seus materiais, seus procedimentos, e cada casa fica com um modelo, uma cor diferente.
E é assim mais ou menos que começou a saga do poeta que decidiu contar histórias. Até a próxima parte (se houver).