STANISLAW LEM
O romancista polonês que mirava as estrelas

 

   Quando “Solaris”, romance do polonês Stanislaw Lem de 1961, chegou ao mundo capitalista, inicialmente por uma tradução francesa e quase uma década depois em versão para o inglês, o autor se transformou em uma celebridade literária mundial – ainda que fosse alvo de algumas teorias da conspiração sobre sua real identidade. O romance foi adaptado para o cinema russo, em 1972, por Andrey Tarkovsky, e americano em 2002, com direção de Steven Sodenberg. Seis décadas depois, os livros de Lem já venderam mais de 45 milhões de cópias e foram traduzidos para mais de 50 idiomas.
   Stanislaw Lem nasceu em 12 de setembro de 1921, na cidade ucraniana de Lviv que, dois anos antes, tinha sido anexada à Polônia. Era filho de uma família burguesa, como ele próprio definiria. O pai era médico e veterano do Exército austro-húngaro. Criança superdotada – chegou a ser avaliado como a criança mais inteligente do sul da Polônia em um dos primeiros testes experimentais de QI – Lem tinha acabado de terminar os estudos quando eclodiu a 2ª Guerra Mundial.
   Durante a guerra, a família foi expulsa de casa pelo exército polonês, que instalou metralhadoras em sua sacada. Passaram a viver na casa de um tio de Lem, na mesma cidade – mas viriam o país colapsar, como definiria Lem em 1996, num documentário para a TV polonesa. Lviv foi ocupada pelos soviéticos e, em pouco tempo, pelos nazistas. O sonho da faculdade, entre outros, acabou sendo adiado e Stanislaw Lem sobreviveu como soldador, usando documentos falsos.
   A região de Lviv seria anexada pelos soviéticos com o final da guerra. Assim, Lem e sua família foram removidos em 1945 para Cracóvia. Chegou a cursar Medicina mas evitou passar nos exames finais, para não ser obrigado a ingressar no exército. Começou, então, a dar vazão à sua “grafomania” publicando poemas e histórias em revistas locais. O conto “O homem de Marte” é desse período. A estreia em livro aconteceu com “Hospital of the Transfiguration”, história fantástica.
   Em viagem de férias, Stanislaw Lem conheceu o diretor da editora Czytelnik e reclamou que não conseguia ler na Polônia histórias de ficção científica. O editor teria dito, segundo Lem: "por que você não as escreve?". Ele produziu em semanas "Astronautas" (1951) e depois, já sob contrato, escreveria vários romances em sequência, que viriam a público nos anos seguintes. Mesclando tramas instigantes, um bom toque de humor, e pitadas de reflexões filosóficas, passou a viver de literatura.
   Dessa época, destaque para “O Diário das Estrelas” (1957), com as aventuras espaciais de Ijon Tichy – personagem que estaria presente em alguns de seus contos e romances –, "O Retorno das Estrelas" (1961) e “Solaris” (1961), uma das obras-primas da ficção científica mundial, presença inevitável em resenhas e listas de melhores livros. Em 1971, lança “O incrível congresso de futurologia”, que se passa em futuro dominado por drogas psicotrópicas que alteram a percepção da realidade.
   Outras obras de destaque são "Fiasco" (1986), "A voz do mestre" (1968) e "Paz na Terra" (1987). O autor morreria de insuficiência cardíaca, em 27 de março de 2006, em Cracóvia.

 

(Parte da coletânea ESCRITORES DE SCI-FI, FANTASIA E AFINS, de William Mendonça. Direitos reservados.)