NICHELLE NICHOLS - Um ícone interestelar da igualdade racial

NICHELLE NICHOLS
Um ícone interestelar da igualdade racial

O rosto afro-americano mais conhecido da TV por décadas foi, sem dúvida, o de Nichelle Nichols. Mais de um ano antes que Ertha Kitt assumisse o papel de Mulher-Gato na série cômica Batman, a tenente Uhura viajava pelas galáxias, enfrentando perigos alienígenas e, várias vezes, salvava o dia com suas habilidades de comunicação e coragem. Hoje nas mãos de Zoe Saldana e Celia Rose Gooding, o papel da oficial de comunicações da Enterprise é um marco na teledramaturgia.
Nichelle, nascida Grace Dell Nichols, no dia 28 de dezembro de 1932, em Robbins (Illinois), conta em sua biografia “Beyond Uhura: Star Trek and Other Memories” (1944) que o primeiro contato real com o racismo aconteceu aos 12 anos de idade. Quando precisou ingressar em uma academia de dança para continuar os estudos de balé, Nichelle enfrentou a resistência do professor, que expressou a ela e ao pai a visão racista de que negros não eram aptos para a dança clássica. Ela foi aceita após uma audição impecável.
Primeira barreira vencida, a multitalentosa Nichelle Nichols seguiu a carreira artística, como dançarina, cantora e atriz. Atuou em espetáculos teatrais em Chicago e em Nova Iorque. Foi cantora na banda de Duke Ellington, excursionando pela Europa e América. Mudou-se para a Costa Oeste dos Estados Unidos, onde atuou no teatro e recebeu as primeiras oportunidades na TV.
Gene Roddenberry, criador de Star Trek, escalou Nichelle Nichols para um dos episódios de sua série “The Lieutenant”, de 1964. Daí a escolher a jovem e carismática atriz para encarnar a tenente Uhura foi um pulo. Ainda que seu personagem fizesse parte da ponte de comando, muitas de suas falas em curtas – às vezes, apenas uma fala em alguns episódios. Desestimulada, ao final da primeira temporada da série, Nichelle chegou a pedir demissão a Roddenberry, para aceitar um papel na Broadway.
A reviravolta aconteceu graças a um fã inesperado: Martin Luther King Jr., líder da luta pelos direitos civis dos afro-americanos. Em um evento, King alertou Nichelle sobre a importância de sua personagem, em uma série de TV que apresentava a possibilidade de um futuro em que havia igualdade de gênero e raça no planeta. A atriz permaneceu na franquia por décadas – chegando a protagonizar o primeiro beijo inter-racial da TV norte-americana, com William Shatner, o capitão Kirk.
Além da série clássica, Nichelle foi uma das protagonistas dos seis filmes para o cinema com a tripulação original e também deu voz a Uhura na série animada. Tão inspiradora quanto a personagem, a atriz foi estrela de uma campanha da Nasa que visava recrutar mulheres e afro-americanos como astronautas. A primeira mulher negra a ir ao espaço, Mae Jemison, que integrou uma missão da Endeavour em 1987, cita Nichelle como grande inspiração.
Na idade mais avançada, Nichelle Nichols enfrentou um AVC, em 2015, e teve que se afastar das convenções de fãs, em que era muito celebrada, após o diagnóstico de demência, em 2018. A mulher que encarnou o protagonismo da mulher negra morreu em 30 de julho de 2022, em Silver City, no Novo México.