VIANINHA
Dramaturgia para um teatro revolucionário
Oduvaldo Vianna Filho já trouxe o teatro e o dom da dramaturgia de berço. Filho dos autores de teatro e de radionovelas Oduvaldo e Deuscélia Vianna, ele ganharia notoriedade no Teatro de Arena, em São Paulo, e seria um dos principais nomes do teatro brasileiro nos primeiros anos depois do golpe militar e no período pós AI-5. A carreira e a vida meteóricas de Vianinha (como ficou conhecido pela classe artística) deixariam raízes de um teatro revolucionário que buscava transformar o país.
Nascido no Rio de Janeiro, em 04 de junho de 1936, Vianinha cresceu acompanhando o trabalho dos pais. Oduvaldo Vianna, o pai, escreveu diversas peças para Procópio Ferreira, o maior nome da época. Mas foi durante o tempo em que cursou a Faculdade de Arquitetura na Mackenzie, em São Paulo, onde ingressou em 1953, que Vianinha encontrou o seu caminho no teatro. Ele nunca concluiu o curso, pois já em 1955 fazia parte do Teatro Paulista do Estudante (TPE).
No ano seguinte, Vianinha ingressaria no Teatro de Arena. Como ator, faz parte do elenco do aclamado espetáculo "Eles não usam black-tie" (1958), texto de Gianfrancesco Guarnieri, que deu novos rumos ao Teatro de Arena. Buscando criar um repertório de peças nacionais, que discutissem a realidade brasileira, o Arena cria seu Seminário de Dramaturgia, de onde emerge o talento do autor Vianinha. Seu texto "Chapetuba Futebol Clube" (1959) é o primeiro a ser encenado, a partir da produção do Seminário do Arena.
Com a direção de Augusto Boal, “Chapetuba Futebol Clube” levava pela primeira vez ao palco uma das paixões nacionais: o futebol. O Brasil tinha acabado se sagrar campeão mundial e Vianinha usa as desventuras de um time do interior para falar sobre os dilemas humanos e sociais. Já na década de 1960, Vianinha prossegue no aprofundamento de seu teatro social revolucionário, e cria o Teatro Jovem, que percorreria escolas, sindicatos e comunidades pobres. O grupo encenou “A Mais-Valia vai acabar, seu Edgar”, texto de Vianinha.
O projeto seguinte do dramaturgo foi o Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, no qual a expressão teatro revolucionário ganhou corpo e motivação teórica. Funda em 1964 o Grupo Opinião, que leva aos palcos textos de protesto, como o show Opinião, escrito com Armando Costa e Paulo Pontes. No ano seguinte, atua em "Liberdade, Liberdade", texto emblemático de Millôr Fernandes e Flávio Rangel. Em 1966, em parceria com Ferreira Gullar, escreve "Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come". Escreve "Os Azeredo mais os Benevides", que trata da questão dos trabalhadores rurais sem terra.
Paralelamente, Vianinha se destaca como autor para a TV. É um dos criadores do seriado "A Grande Família”. Ao mesmo tempo, sofre a perseguição da censura. "Papa Highirte", premiado pelo Serviço Nacional do Teatro em 1968, só é encenado em 1979.
Vianinha produz muito, e rápido, talvez com a consciência íntima de uma vida breve. Após ditar as últimas páginas do drama geracional "Rasga Coração", já em fase terminal por um câncer de pulmão, morre no Rio de Janeiro, em 17 de julho de 1974.
(Parte da coletânea GENTE DE TEATRO, de William Mendonça. Direitos reservados.)