WILL EISNER
O espírito inovador da linguagem das HQs
Alguém poderia estudar, seriamente, o que havia de especial na água da DeWitt Clinton High School, escola do Bronx, em Nova Iorque, pela qual passaram três dos maiores nomes da indústria dos quadrinhos em todos os tempos: Stan Lee e dois alunos mais velhos, chamados Bob Kane e Will Eisner. Os três artistas influenciaram gerações de artistas e leitores, mas foi definitivamente Eisner o principal inovador na linguagem gráfica.
William Erwin Eisner nasceu no Brooklyn, em Nova Iorque, em 06 de março de 1917, numa família de imigrantes judeus pobres, que chegaram aos Estados Unidos fugindo da 1ª Guerra Mundial. A mãe era húngara. O pai, de origem austríaca, sustentava a família como pintor de cenários para teatro. Graças às precárias condições econômicas e a busca de trabalho, a família se mudou muito durante os primeiros anos de Eisner.
O talento para o desenho logo se destacou entre as habilidades de Will Eisner. Seus primeiros trabalhos foram publicados no jornal da DeWitt Clinton e, repetindo seu pai, o jovem artista fazia painéis para as peças teatrais da escola. Foi também entregador de jornais, para ajudar no sustento dos dois irmãos mais novos. Eisner não chegou a se formar e, assim, ingressou na Art Students League de Nova Iorque, enquanto fazia ilustrações para várias publicações.
Um de seus colegas de trabalho logo virou sócio: Jerry Iger. Juntos, fundaram a Sundicated Features Corporation, ou Estúdio Eisner & Iger, que vendia trabalhos para as principais publicações na segunda metade da década de 1930. Até mesmo o modo de se produzir quadrinhos, como uma linha de produção que incluía profissionais especializados (desenhista, roteirista, letrista, colorista e arte-finalista) surgiu no Eisner & Iger, por onde passaram profissionais como Jack Kirby.
Will Eisner mudou o método de produção e, talvez principalmente, a linguagem das HQs. O universo visual e narrativo dos quadrinhos de seu personagem The Spirit, para muitos, elevou o entretenimento pop e descartável à categoria de arte. Praticamente, não há pessoa que não se surpreenda com a inventividade de The Spirit, mesmo décadas depois de sua produção. A chamada splash page, página de abertura das histórias, um quadro de grande apelo visual, era puro experimentalismo.
Incensado e imitado em vida, o artista dá nome ao principal prêmio oferecido pela indústria dos quadrinhos, o Will Eisner Comics Industr Award. Sua influência chegou até mesmo ao Brasil, onde o jovem fã Maurício de Sousa, colecionador das aventuras do “Espírito”, repetiria o modelo de sucesso. Um grande nome dos quadrinhos dos últimos anos, o roteirista Alan Moore, afirma que foi Will Eisner quem “deu cérebro às HQs”.
Eisner produziu quadrinhos para as Forças Armadas dos EUA, durante a 2ª Guerra Mundial, criou os popularíssimos suplementos dominicais de quadrinhos na imprensa e foi responsável por reunir, pela primeira vez, quadrinhos em livros (os álbuns e, posteriormente, as graphic novels). Produzindo até os últimos dias, Will Eisner foi submetido a duas cirurgias no coração, no final de 2004. Ainda articulava com seu editor os novos trabalhos que iria publicar, mas faleceu na madrugada de 03 de janeiro de 2005.
(Parte da coletânea FERAS DOS QUADRINHOS, em produção, de William Mendonça. Direitos reservados.)