MANUEL BANDEIRA
A vida e a poesia esperando a morte chegar

 

   O flerte dos poetas com a morte sempre existiu. Viver e expressar as emoções com intensidade em versos que buscam a eternidade foi uma forma de lutar contra a finitude, ou de se agarrar a ela. Em alguns casos, como o de Manuel Bandeira, um dos precursores do Modernismo, a iminência da morte foi companhia inseparável, ainda que o poeta, nascido em 19 de abril de 1886, em Recife, Pernambuco, tenha vivido longos 82 anos.
   O diagnóstico de tuberculose, recebido pelo poeta aos 18 anos de idade, mudou os rumos de sua vida – que o próprio Bandeira imaginava ser breve. Já com seus primeiros versos publicados, no Correio da Manhã, e pouco depois de ingressar na Escola Politécnica de São Paulo, ele precisou abandonar tudo para buscar possíveis tratamentos para a doença, àquela época incurável. Com o agravamento do quadro, busca tratamento na Suíça, internando-se no sanatório de Clavadel, em 1913.
   Bandeira retorna ao Brasil no ano seguinte, quando começa a Primeira Guerra Mundial. Na Suíça, além do manuscrito do seu primeiro livro de poemas, que jamais recuperou, ele deixa a amizade com um dos grandes nomes da poesia na época, Paul Éluard, expoente do Surrealismo. Desenganado, Manuel Bandeira tem a saúde cada vez mais precária, enquanto escreve com humor e sarcasmo, ou por vezes com lirismo e melancolia, sobre sua condição.
   A morte o rondava. Em pouco tempo, o poeta perderia seus familiares – pai, mãe, irmão e até mesmo a irmã Maria Cândida, que cuidava da saúde de Bandeira. Solitário, como viveria seus próximos anos, o poeta acabou por sobreviver à longa enfermidade, sempre esperando uma recaída. Seus primeiros livros publicados, “A Cinza das Horas” (1917) e “Carnaval” (1919), trazem um misto da influência parnasiana com experiências modernistas.
   Se Bandeira, por um lado, não participa pessoalmente da Semana de Arte Moderna, em 1922, seu poema “Os Sapos”, lido pelo poeta Ronald de Carvalho, se torna um dos pontos altos do evento. Através de Mário de Andrade, que chega a chamá-lo de “São João Batista do Modernismo”, Bandeira se torna colaborador habitual de revistas do movimento, como Klaxon, Revista de Antropofagia e Lanterna Verde, e goza de prestígio no grupo.
   Sem recursos e sem família, Manuel Bandeira passa a escrever crônicas, artigos e ensaios críticos para jornais, enquanto produz, por várias décadas, uma obra fundamental para a literatura brasileira. “Libertinagem”, de 1930, o consolida como expoente do Modernismo. Chegando aos 50 anos, idade que jamais sonhara alcançar, Bandeira recebe o prêmio da Sociedade Felipe d´Oliveira. Os cinco contos de réis do prêmio e a contratação como professor de Literatura no Colégio Pedro II deram ao poeta, enfim, a estabilidade.
   Talvez ainda com senso de urgência, publica suas “Poesias Completas” em 1940, ano em que é eleito para a cadeira 24 da Academia Brasileira de Letras. Porém, continua produzindo por quase três décadas, inclusive os escritos autobiográficos de “Itinerário de Pasárgada”. Dois anos antes de sua morte, reúne toda a sua poesia em “Estrela da Vida Inteira”. Morre em 13 de outubro de 1968, no Rio de Janeiro.

 

(Parte da coletânea HISTÓRIAS DE POETAS, de William Mendonça. Direitos reservados.)