ARISTÓFANES
Sátira e crítica social na Grécia antiga 

 

   Aristófanes não foi o primeiro a se utilizar da comédia como gênero dramático, mas, entre os grandes comediógrafos gregos, foi aquele que deixou a obra mais relevante. De suas 44 peças conhecidas, onze chegaram integralmente aos dias de hoje e algumas delas, como “As Vespas”, “As Nuvens” e “As Rãs”, continuam sendo encenadas com frequência, 2.400 anos depois de terem sido escritas. Conservador e crítico das mudanças sociais que ocorriam em seu tempo, Aristófanes compôs uma obra, ironicamente, inovadora do teatro.
   Pouco se sabe sobre a vida do escritor ateniense. Tanto sua data de nascimento (entre os anos de 450 a.C. e 445 a.C.) quanto a de morte (provavelmente entre 380 a.C. e 375 a.C.) são desconhecidas. Sabe-se que teve uma formação intelectual e cultural sólida e que teria origem abastada e da aristocracia ateniense, tendo crescido possivelmente na Ilha de Egina. Seu pai se chamava Filípedes. Aristófanes viveu o período de pujança econômica e cultural de Atenas, cidade-estado que rivalizava em importância com Esparta.
   Em seus textos, criticava a corrupção que dominava a sociedade local. Seu alvo principal eram políticos, como Cléon (que chegou a processá-lo) e Hipérbolo, que foram seus adversários também na vida pública. Mas Aristófanes não poupava ninguém com seus textos contundentes, apelando para a linguagem forte. Os ricos comerciantes, artistas, filósofos, poetas e até mesmo os deuses, com seu comportamento extremamente humano, também eram personagens das comédias do autor, muitos nomeados diretamente. 
   Por tudo isso, se a popularidade entre o público era grande, não se podia dizer o mesmo entre aqueles que julgavam e premiavam as peças nos históricos concursos oficiais  da época. Aristófanes conquistou o primeiro prêmio com as comédias “Os Cavaleiros” (424 a.C.), “Os Acarnenses” (ou Os Acarnianos, 425 a.C.) e “As Rãs” (405 a.C.), mas acredita-se que podem ter sido seis vitórias nas Leneias. 
   Seus textos permitem uma reconstrução em detalhes da vida na Grécia antiga,  constituindo-se quase em um documento histórico. Como fazia parte da aristocracia e apontava sua lâmina ferina para os erros da sociedade, Aristófanes iniciou a carreira assinando suas peças sob pseudônimo. Em 425 a.C., usando o nome Calístrato, o escritor derrotou dois poetas cômicos importantes à época, Cratino e Êupolis, com sua encenação de "Os Acarnianos".
   Pelo menos um dos contemporâneos de Aristófanes lhe rendeu homenagens, o filósofo Platão. Ele enalteceu a inteligência do artista, como ressaltado na “Antologia Grega”, editada por E. Cougny. “As Graças procuravam um altar eterno; e o encontraram na inteligência de Aristófanes”, disse Platão. Preocupado com a encenação em si, o comediógrafo vestia o coro com figurino alusivo ao título da peça e deu expressividade às máscaras, que eram usadas nas apresentações que ocorriam nos amplos anfiteatros gregos.
   Sobreviveram integralmente até hoje, além das já citadas: “As Nuvens” (423 a.C.), “As Vespas” (422 a.C.), “A Paz” (421 a.C.), “Os Pássaros” (414 a.C.), “Lisítrata” (ou “A Greve do Sexo”, 411 a.C.), “Só para mulheres” (405 a.C.), “Eclesiazusas” (ou “A Revolução das Mulheres”, 392 a.C.) e “Pluto” (ou “Um Deus chamado dinheiro”, 388 a.C.). Teve dois filhos, Araros e Filipos, que também escreveram comédias.

 

(Parte da coletânea GENTE DE TEATRO, de William Mendonça. Direitos reservados.)