Sou imensamente grato por ter chegado aos 66 anos!!!
Salve majestade panterosa, iluminada iluminante. Na humildade e com todo respeito, sou um ignorante em formação. Que você, seus afetos e afetivos estejam bem para melhor ascendente, frente a elos recorrentes. Senta que lá vem história e textão!
Cheguei a 6.6 anos neste outubro/26/2021. Gratidão. Sessenta e seis trilhões de vezes Gratidão. Primeiramente quero agradecer e pedir benção pela presente oportunidade a Exu, a Olorum, aos Orixás e Yabás de todas as nações.
Gratidão e peço benção aos ancestrais dos povos que me constituem e nos constituímos. Gratidão e peço benção à memória dos meus pais, avós, bisavós, tataravós, tetravós, trisavós, pentavós maternos e paternos. Resumindo: aos fundadores e fundadoras da linhagem a qual descendo e sou originário na árvore genealógica, a qual infelizmente desconheço!
Preciso fazer um DNA Ancestral para conhecer ao menos as raízes dos povos dos quais origino. Sabendo nossas negadas origens fortalecem resgates e as voltas que estamos dando em torno das árvores das lembranças. Quem assistiu o documentário Atlântico Negro – a rota dos orixás, soube que africanos escravizados eram forçados a dar sete voltas em torno das árvores do esquecimento. Raízes, de Alex Haley, filmes e livros são recomendáveis aos pretos e pretas que se prezam; a quem afirma que nos preza e respeita.
Gratidão e peço benção aos Caboclos e Caboclas; aos Pretos Velhos e Pretas Velhas; aos Santos Pretos e Santas Pretas de todos os credos. Se é para posar de cristão, posarei a meu modo e preferência em alusão aos Panteras Negras e ao Movimento 4P: Poder Para o Povo Preto.
Gratidão e peço benção aos meus mais velhos, aos meus mais novos, aos que virão, aos sangues do meu sangue. Gratidão e peço benção aos meus filhos e filhas: Shalom, Charles, Fayoula, Kizzy Fatumbi, Selma Nyjingha Mahin, com Ester Barbosa; Kindaisha Asantewaa e Robson com Sônia Mariano. Gratidão e peço benção pela luz que lhes deu e continua propiciando. Sou órfão de pai desde os 4 anos. Edgard (mestre Puca): "Partiu antes do combinado" aos 25 anos, por afogamento. E de certo não tive mãe.
Fui criado pelas tias, pela rua, pela televisão. Mesmo com crivos críticos pessoais, junto com os apontados por Raoul Peck, no documentário Eu Não Sou Seu Negro, ainda gosto de assistir animações, filmes e séries das décadas de 1960 e 1970. Ao ficar entretido frente as telas, onde havia um aparelho, encontrei a minha salvação, quando rememoro amizades e os destinos que algumas tiveram. Assim evoco e louvo o Hip Hop e o Rap que vem salvando manos e minas. Tanto à música quanto à televisão atribuo meu gosto pelas artes. Ambas me conduziram à Literatura e outras áreas que venho tomando conhecimento e contato quando saio das cavernas da ignorância e outros meios que nos enclausuram.
Por opção moro sozinho, preferencialmente ando sozinho, contudo não caminho, nem vivo sozinho. Espiritual, interior e mentalmente estou sempre em boa companhia. Solidão ao meu ver é estado de espírito. Ou necessidade extrema de alguém, mesmo que seja um pet ou religião porque não consegue conviver consigo mesmo. Dependendo das condições e das circunstâncias, antes só, a atormentado e atormentando. Ou forçado a engolir sapos, para agradar e ser o que não se é para não perder o espaço ou o investimento. Cada calo é um caso. Gratidão e peço benção por alforrias conquistadas...
Claro demais, ofusca. Assim elucidou, escureceu, empreteceu, o mestre fotógrafo Januário Garcia quando afirmou: "Existe uma história do negro sem o Brasil, o que não existe é o uma história do Brasil sem o negro." Seja no plural, seja no singular, o indivíduo pulsa no coletivo; o coletivo pulsa no indivíduo e vice-versa circularmente. Somos seres interdependentes.
Existem portas que se fecham e portas que se abrem. Gratidão a quem me deu não somente a mão, mas também chaves e abridores de latas. Em 1972, via Mobral, eu tinha somente o ensino primário. Devido a brigas, bullyngs, mudanças, necessidades, abandonei a escola na terceira série, aos 13 anos, em 1968. Graças aos argumentos, exemplos e incentivos do iluminado mestre Vanderlei José Maria (oxalá encontre-se em bom lugar, onde quer que esteja no Orun), voltei a estudar em 1978. Conclui ginásio e colégio via Ensino Supletivo, por etapas. Voltar aos bancos escolares depois de adulto, sem profissões competitivas definidas, que propiciem boas remunerações e com família constituída, é o mesmo que subir ladeiras íngremes com sacos de pedras nas costas e sacolas de chumbo nos ombros.
Venho de escolas de samba do terceiro grupo, terreiros de candomblé e umbanda, cujos contatos iniciais se deram na companhia dos tios maternos e casal Olga e Milton. Posteriormente migrei para bailes, ultimamente denominados de Nostalgia: Amauri, Eduardo, Tranza Negra, Chic Show, Black Mad, Zimbawe e demais nos anos 1970. Nos anos 1980 foi a vez de Musicália, Os Carlos, Mistura Fina, dentre outras equipes. Nesta caminhada, fui de 1982 a 1995, membro do Quilombhoje e participante ativo da série Cadernos Negros. Fui também colaborador artístico e executivo do grupo cultural Dandara. Colaborador executivo do Movimento Cultural Cidade Tiradentes (MOCUTI). Secretário executivo da posse Aliança Negra. Colaborador da Sociedade Fala Negão – Fala Mulher e do Jornal Hora X – Consciência Negra através da mesma entidade, seção Literatura.
A partir de 1998, tomei gosto efetivo pela fotografia, a qual já vinha praticando esporadicamente com câmeras emprestadas e quase tudo mudou radicalmente. Esta passagem merece um relato específico. A história é longa. O empurrão subjetivo, de certo modo, foi dado por um colega de trabalho, Amadeu, que me sondou e ofereceu uma câmera Kapsa, no estado, por volta de 1974. Pertencia ao pai dele e estava encostada. Segundo ele eu estava trabalhando no lugar errado. E repetia tal comentário com demais colegas sempre que me via escrevendo ou rabiscando desenhos pelos cantos da fábrica de meias, onde trabalhávamos na região do Brás.
Graças a cursinhos populares (em pensamento beijo o chão que Charles Monteiro e Zé Carlos, colegas de classe, pisam), programa de Ações Afirmativas, Política de Cotas e Prouni ingressei em 2004 num curso superior e com bolsa integral na Fecap: Comunicação Social - Publicidade e Propaganda. Salvo equivoco, sou o terceiro de numerosa família materna e paterna a chegar neste grau. Indicada pelo Chocoboy, colega de classe numa oficina de curta-metragem tomei conhecimento e ingressei no concorrido processo seletivo da Escola Livre de Cinema e Vídeo de Santo André (ELCV), a qual desconhecia e me formei em 2010 em Audiovisual. Resumindo: Não cheguei unicamente pelo meu empenho e esforço. Devo gratidão e pedido de bênçãos a muitas, muitos, muites.
Visando obter conhecimentos, ampliar horizontes de trabalho nas áreas de Eventos e Produção, em 2015, via Pronatec ingressei no curso Técnico de Logística na Unicid. Desde 2020 curso Letras na Univesp e motivado pela obra de dois fotógrafos: Yousuf Karsh e Seydou Keita curso Técnicas de Iluminação Técnica na SP Escola de Teatro, indicada pela atriz e doutora em Antropologia Social Kelen Pessuto. Nestes e demais contextos observados, refletidos, vivenciados, tomei gosto pela metalinguagem e suas possíveis interdisplinaridades.
Sou movido a afetividades e possibilidades. Tomei gosto pelos estudos. Se fico muito tempo fora de uma sala de aula, começo a me sentir inútil, entro em depressão. Afins de repassar e reciclar bastões e abridores de latas recebidos, almejo mestrado e doutorado em Antropologia das Artes, Antropologia Audiovisual ou Antropologia Cultural. Preferência: USP. A Faculdade de Direito remonta aos anos 1800. Mestre Luís Gama iniciou-se com rábula nela. Já a Cidade Universitária, fundada na década de 1930 tem a idade dos meus pais. Dalva, minha mãe e a maioria das minhas tias também nascidas neste período trabalharam para abastadas família formadas em ambas e posteriormente para as filhas e filhos das mesmas. Hoje estão nos poderes e a maioria delas e de outras, num plano geral, ficam depreciando pautas do Movimento Negro, sistema de cotas e pregando Meritocracia, de braços cruzados. Invoco o livro da ex-vereadora Claudete Alves: Negros – o Brasil nos deve milhões! Quem quiser somar e chegar junto nesta viagem para chegarmos em blocos maciços, ainda tem lugar; quem não quiser, deixe o caminho livre. Este bonde crescente anda sistemático a cada dia. Freia quando quer.
Gratidão e peço benção a tia paterna e madrinha Cida, que este ano completou mais um ano acima dos noventa: 94! Oxalá chegue a um século e continue sendo farol para si e para a família. Quem tem pais e avós, trate de amá-los, entendê-los, respeitá-los. Se possível incentive voltarem a estudar, a desempenharem outros papeis, além dos habituais e condicionantes. Mestras e Mestres griots estão em falta em todas as áreas, nas quais transmitiram conhecimentos e vivências aos filhos de patrões para se banquetearem enquanto seus próprios filhos permaneciam com fome, com sede, apartados de saberes ou forçados a engordar instituições de ensino particulares.
Quem ouviu Gonzaguinha e seu "Grito de Alerta; quem leu o livro ou assistiu Histórias Cruzadas e outros filmes motivacionais e reflexivos no quilate de: Ao mestre com carinho 1 e 2; Meu mestre, minha vida; Os donos da rua; Mãos Talentosas; O menino que descobriu o vento; Besouro, apenas para citar, sabe do que estou falando. Aproveitemos a nosso favor e a favor dos nossos, o ensejo de muitas personalidades negras, até então apagadas ou desconhecidas estarem ganhando notoriedade, como também seus legados e trabalhos estarem sendo reconhecidos. Servem de inspiração e motivação a quem por razões diversas e adversas ficou ou foi forçado para trás ficar.
Gratidão e peço benção aos netos e netas presentes e que virão. Aos amigos, amigas, familiares, meio irmãos Osvaldo-Izilda-Ariovaldo-Alzira-Marizilda, frutos do segundo casamento da minha mãe; sobrinhas e sobrinhos, tias e tios, primas e primos, colegas e parcerias de caminhadas e Artevidades.
Exercitemos diariamente: Axé. Disposição. Saúde. Longa Vida não somente para mim, mas para Todes. Nossos Enfrentamentos; Questionamentos; Reflexões; Superações; só estão começando e um pouco atrasado. Antes tarde a nunca. Nossas lutas e passos vem de longe e prosseguirão na nossa linhagem, através de quem está nascendo neste exato momento. Vozes-Mulheres, poema da mestra Conceição Evaristo e Canto aos Palmares, do mestre Solano Trindade, carecem e devem ser mantras, orações e orikis em todos os fronts. Lembrando Gilberto Gil e Wally Salomão: "A felicidade do negro é uma felicidade guerreira."
Em dezembro/2020 contraí Covid-19. Desde então estou afônico e passível de fadigas, devido a sequelas. Quinze dias atrás, ao tentar evitar acidente de bike por ter descido a ladeira da Rua dos Marceneiros, fiquei sem freios, acabei acidentado. Estou bem. Apenas escoriações nos braços, joelhos, mãos e ombro direito. Meu medo maior era atropelar alguém. Felizmente não aconteceu. Gratidão a Todes que me acudiram. Não citarei nomes para evitar injustiças. O memorex anda falhando.
Não arroto banca. Se era demanda, como se diz e cogita na Umbanda, os Orixás me protegeram. Por mais que me machuquem, me magoem, me maltratem, reclamo, porém não desejo mal a ninguém. Não quero com isto dizer que sou santo. Cito o posicionamento de um personagem de Gabriel Garcia Marques, no romance Cem Anos de Solidão: “Sou um homem cheio de defeitos e por alguns tenho orgulho.” Sem perder de vista que a vida é circular feito bumerangue. Céu e Inferno são aqui mesmo e em qualquer escala e parte do mundo. O que vai, volta com juros, correção monetária, taxa cambial. Segundo os mais velhos: Orixá dá rasteira, mas não deixa filho cair. E quando cai é pra ficar atento ou fez por merecer. Coisas piores estão de tocaia, na espreita pra dar o bote.
Nesses tempos especulativos, pandêmicos, politicamente sombrios, outra vez chamo pra roda os mais velhos: “Eu sou responsável por você e você é responsável por mim”. Quem passar na triagem do novo Bolsa Família, aproveite bem os valores que receber. Contudo, não venda seu voto. O programa não estará fazendo mais do que a sua obrigação e responsabilidade social. Porte-se como manada com cabresto, mas desvie dos matadouros. Cada vida vale mais que os reais que receber.
TRANSMISSÃO - Oliveira Silveira (1941-2009)
Querem que a gente saiba
que eles foram senhores
e nós fomos escravos.
Por isso te repito:
eles foram senhores
e nós fomos escravos.
Eu disse fomos.
Ouse, ouso, ousemos: afirmar, pensar, questionar, refletir. A palavra e o pensamento possuem milhões de energias, proposições, sentidos, significados. Será que estamos ou somos? Como, porque, de que maneira, até que ponto somos e até que ponto estamos? Quantas pretas, pretos, pretes fazem Análise Swot Pessoal e Reprogramação Neolinguística por iniciativa própria, não imposta ou induzida? Quais são de fato nossas potencialidades, talentos, vocações? Ouse, ouso, ousemos: afirmar, pensar, sonhar, realizar, superar. Segundo o escritor e filósofo Marcio Barbosa: Manité, significa Ousadia. Soul Manité foi nome de uma equipe de bailes nos tempos do Movimento Soul.
Sendo assim, exercitemos liberdade com responsabilidade. Sejamos responsáveis por nós e pelos nossos e os nossos responsáveis por nós. Toda opção tem preço e promissórias; escolhas gratuitas não existem. Juntos, se apoiando, se corrigindo, se respeitando, somos mais fortes e podemos ir mais longe do que imaginamos. Meu desenvolvimento em grande parte se deu nos tombos, por falta de bases. Como se nascêssemos prontos e além do tempo, com manuais de instruções atemporais. Tenho escrito como cicatrizes na memória da pele: Derrotas, desistências, frustrações, perdas, titubeios, que talvez poderiam ter sido evitados ou menos danosos se houvesse diálogos norteadores. Sabe aquelas conversas faróis entre amigos, colegas, companheiros? Não papos de galo ou palmatórias militares, cancelamentos e linchamentos em quem desafina os corais dos contentes. Lembro aquele samba do mestre Almir Guineto: "O meu conselho é pra te ver feliz".
Sou imensamente grato por ter chegado aos 66 anos!!! Desculpe se ocupei seu precioso tempo. Somos dotados de sóis exteriores e interiores. Temos muito a dizer e muito por fazer, desfazer, refazer, a partir de nós mesmos. Espero estar ajudando a pavimentar horizontes. Afroabreijos Pretos com muito e muito e muito Axé! Se cuide, nos cuidemos, Riquezas. Voe! Click, Click, Click...
@oubifotografia;
#afroafetonet;
#covidtemcepclassecoretnia;
#gratidão;
#oubichegoua66em2021;
#pretoautocuidado;
#nóspornósmesmos;
#semvocêsnãosouninguém;
Oubi Inaê Kibuko, COHAB Cidade Tiradentes para o mundo, 26 de outubro de 2021.