Ava Gardner
- o mais belo animal do mundo -
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A beleza morena de Ava Lavinia Gardner surgiu em Hollywood nos anos 40, uma época em que as divas loiras imperavam. Coroada por críticos, imprensa e cinéfilos a dona do rosto mais bonito do cinema, era a preferida dos maquiadores, pois a perfeição do seu rosto facilitava-lhes o trabalho.
Filha de camponeses pobres que ganhavam a vida construindo casas de madeira, Ava nasceu na véspera de Natal de 1922, em Smithfield, uma comunidade rural no estado americano da Carolina do Norte. Era a caçula dos sete filhos de Mary Elizabeth e Jonas Gardner
foto ainda menina
foto aos 14 anos
Aos 17 anos Ava foi visitar Beatrice, sua irmã mais velha que vivia em Nova York com o marido. Sem maiores intenções, deixou-se fotografar no estúdio do cunhado Larry Tarr e uma foto ficou exposta na janela. Um caçador de beldades viu a foto e logo ela seria convidada para ser modelo e faria um teste nos estúdios da MGM, o que lhe rendeu o primeiro contrato no cinema em 1941. Pouco tempo depois, casou-se com o ator Mickey Rooney (As Pontes do Rio Toko-Ri, 1954, O Corcel Negro, 1979), de quem se separou depois de um ano e uma semana.
O primeiro papel de destaque foi ao lado de Burt Lancaster interpretando a sensual Kitty Collins em Os Assassinos (1946). Engatou o segundo casamento, desta vez com o band-leader e clarinetista Artie Shaw, um colecionador deatrizes (Lana Turner, Evelyn Keys...). A união não durou mais do que oito meses. O "mais belo animal do mundo", como foi chamada em uma campanha publicitária, parecia ter encontrado o amor de sua vida nos mais belos olhos azuis do mundo, os de Frank Sinatra.
Casaram-se em 1951 mas o ciúme de ambos alimentava constantes brigas e levou-os ao divórcio em 1956. Antes do auto-exílio, Ava foi indicada ao Oscar de melhor atriz, em 1953, pelo papel em Mogamo, estrelado ao lado de Clark Gable e Grace Kelly, e protagonizou A Condessa Descalça,em 1954. Depois que deixou os Estados Unidos nunca mais morou no país, embora aparecesse por lá a trabalho ou em visitas à família. Talvez preferiu a mudança para ficar longe de Sinatra, ou talvez por ter sido vítima do Macarthismo, perseguição aos comunistas ordenada pelo general americano MaCarth, nos anos 50, no auge da Guerra Fria.
Gardner conheceu Frank em um nightclub da Sunset Club, nos tempos em que ainda era esposa de Rooney: — Porque não te conheci antes do Mickey? Certamente, teria me casado com você antes dele — foi esta a primeira sentença que viu sair dos lábios de “The Voice”.
Passado alguns anos, os dois encontrar-se-iam novamente. Agora, como vizinhos. Sinatra vivia a chamar a atriz junto com outros amigos do seu apartamento, que ficava em frente ao de Ava e Bappie. Mas, o relacionamento teve início realmente — deixando o simples: apenas amigos —, no início de 1949, quando ao contrário da carreira da diva, a carreira de Sinatra decaía dia após dia. O mesmo ainda era casado com Nancy. Lana Turner — amiga de Gardner —, tentou preveni-la, quando numa festa ficaram a sós no banheiro, usando o velho pretexto de “me acompanha, preciso retocar a maquilagem”. Turner fora por dois anos amante de Frank, e por mais promessas que o cantor lhe fizesse, jamais deixou à senhora Sinatra para ficarem definitivamente juntos.
— Não se iluda, amiga. No fim, ele sempre volta para Nancy. Foi o que Nancy Sinatra afirmou aos jornalistas quando o caso tornou-se público — por meio da impressa —, no início de 1950.
Pior para Ava, que não queria ser apenas mais um “caso” na vida do cantor. Tal como Lana, exigia ser a oficial.
Como o relacionamento de Nancy e Sinatra estava ruindo desde o surgimento de Gardner, ela resolveu no dia dos namorados fazer uma declaração, no intuito, de usar a impressa para mexer com os nervos do marido: — Infelizmente, minha vida matrimonial com Frank tornou-se muito infeliz e quase insuportável. Por isso, nos separamos. Pedi ao meu advogado que tente chegar a um acordo de separação, mas não prevejo que um processo de divórcio ocorra a médio prazo. A declaração de Nancy era tudo o que a impressa precisava. Sim, Gardner era realmente uma femme famale, uma destruidora de lares — tal como suas personagens.
Ava sempre recebeu centenas de cartas por semana. Gente pedindo fotos, um autógrafo, fios de cabelo, etc. Mas agora, a correspondência mudara por completo. Eram ameaças, pedidos para que deixasse Sinatra, e inclusive houve uma carta endereçada A/C da Meretriz—Jezebel—Gardner. Os jornais mostravam o povo americano indignado. Orações eram feitas pela alma da atriz e pela reconciliação do casal Sinatra. Não importava onde resolvessem se esconder — Ava e Frank — sempre eram descobertos por fotógrafos e repórteres de plantão. Além do divórcio que não
saía, dos paparazzi, os “briguentos Sinatras” — como foram apelidados —, tinham um problema maior para resolver: o ciúme e gênios fortes. Gardner queria estrangular qualquer garota que olhasse para Frank — afinal, sua fama de infiel corria longe. Da parte dele, se pudesse aniquilaria Artie Shaw — engolia este, por ser um excelente músico —, mas seu ódio realmente pendia para Howard Hughes — o milionário apaixonado por Gardner.
Durante as gravações de Pandora And The Flying (Pandora, no Brasil), após inúmeras doses, Gardner acorda em meio aos braços do toureiro Mario Cabre — que por sinal, desejava ser uma celebridade a todo custo, já que, na arena, era um toureiro mediano. De modo que, aproveitando-se do fato, soltou aos quatro ventos que estava apaixonado por Ava — e ela por ele! E mais, para mostrar o seu amor latino, leu meia dúzia de poemas que fizera em homenagem a atriz — imitando Rodolfo Valentino. Ameaçou Sinatra, se este aparecesse na Espanha. Frank ficou furioso. Obviamente, a “transa casual” ocasionou uma briga — das muitas. O que incomodava os amigos — no geral —, era que as brigas eram violentas, chegavam ao cúmulo de assustar os espectadores. E depois do escarcéu, os dois sorriam um para o outro e acabavam se beijando. Enfim, os que acompanhavam, viviam com os nervos a flor da pele.
Em sua biografia a atriz desmente que tenha obrigado Frank a deixar de cantar a lendária Nancy With Laughing Face — que fora escrita para sua filha e não sua mulher —, todavia depois de um show, no qual, o cantor abriu com esta canção — e todos riram achando ser uma brincadeira —, enquanto estiveram juntos, Sinatra nunca mais cantou a mesma.
No ano em decurso, Gardner interpreta Julia Laverne em O Barco Das Ilusões (Show Boat), musical no qual, sua amiga — e ex-de Artie Shaw — Lena Horne cantou as duas músicas que eram interpretas por Ava, já que, o responsável musical Arthur Freed, não considerava a diva uma cantora.
Mesmo, sem a voz da atriz, O Barco Das Ilusões fez um enorme sucesso — o que surpreendeu muitos, em vista que, a televisão tinha roubado, e muito, o público que frequentava as salas de cinema. Os advogados procuram Frank no dia 29 de maio de 1951, anunciando que finalmente Nancy concordara com o divórcio. Feliz, Ava insiste em conhecer os pais de Sinatra — era uma tradição, do qual, ela não iria abrir mão. O cantor que estava há dois anos brigado com os progenitores, por fim, cede. Marty — a mãe —, torna-se amiga de Gardner, chamando-a de “aquela que devolveu meu filho para mim”. No final de agosto, no entanto, o divórcio ainda não fora concedido. Desesperados, fogem para o México, na esperança de obterem um pouco de paz. Ledo engano: os jornalistas mexicanos unem-se aos americanos, não os deixando sossegados um minuto sequer.
Continuam as brigas graças ao ciúme de ambos. Sinatra estava mal financeira, musical e psicologicamente, de modo que, descontava em Gardner, inventando pretextos para discutirem. Geralmente, “esses pretextos” tinham nome e sobrenome: Howard Hughes. O músico não conseguia acreditar que ela houvesse resistido às investidas do milionário. Para piorar, os espiões do mesmo, viviam para baixo e para cima seguindo o passo de ambos.
Em outubro de 1951, o divórcio é declarado. Nancy destruiu por definitivo o pouco que restava da fortuna de Sinatra. Escreve a atriz em sua autobiografia: “Uma semana depois, estávamos prontos para subir ao altar. Então uma sombra caiu sobre nossa felicidade. O seu nome era, como podem adivinhar, Howard Hughes”.
Mesmo Ava não tendo nada com Hughes, Frank tinha seus motivos para ter um pé atrás com a figura, pois, Howard estava mais do que obcecado pela atriz — mesmo tendo outros casos com seis mulheres! Gardner, no entanto, insistia em repetir a ele que desde que conhecera Sinatra “os outros homens do mundo morreram”, ou seja, nada além de amigos.
Um dos motivos de sua preferência pela diva, era que Hughes não estava acostumado a ouvir ninguém lhe dando um não. E Ava, dizia-lhe não o tempo inteiro.
Quando deram divórcio para o cantor, o milionário pirou de vez. Ora, eles iam casar. De modo que, volte e meia, tentava dissuadir a atriz “daquela loucura”. Numa dessas vezes, convenceu a mesma que o futuro esposo estava tendo um caso com uma das coristas da sua banda de apoio — uma garota muitíssimo jovem, que tinha rosto infestado por acnes! Miss Gardner, ciumenta que só, entrou em pânico. A briga entre Frank e ela foi tamanha que o mesmo teve de apresentar a suposta amante a diva. Possessa, ofendeu a garota: “Virgem? Virgem o cassete!” — só para se ter uma idéia. No fim, tudo foi resolvido. Ava então prometeu a si mesma, nunca mais ouvir Hughes. Incansável, porém, Howard deu sua última cartada — ou pelo menos a atriz suspeitava que fosse ele o causador do fato —, bem no dia do casamento da atriz. Tudo pronto para o enlace. Bappie — a irmã — estava auxiliando a diva a colocar um belíssimo vestido marquisette rosa-escuro, um colar de pérolas, brincos idem com detalhes em diamantes, quando uma carta encaminhada “aos cuidados” veio a ser entregue a noiva. Conforme relata em sua biografia: “Abri, li e quase nem consegui continuar respirando. Era de uma mulher que admitia ser meretriz e afirmava estar tendo um caso com Frank. Era uma sujeira, dava detalhes que achei convincentes e fiquei com nojo. Como é que eu poderia manter o casamento diante de uma carta como aquela?” Ela voltou-se para a irmã dizendo que estava tudo terminado, trancando-se noutro quarto em prantos! Foi um Deus-nos-acuda, todos tentando convencê-la do absurdo: ora haviam os convidados, o buffet, fotográfo, etc e tal. Abriu a porta do quarto, encarou a todos e perguntou:
— Vocês esqueceram da parte mais importante de tudo isso, não acham?
— Qual? — todos em uníssono.
— Da noiva! — e bateu a porta.
Conversa vai, conversa vem. Enquanto isso, Sinatra com os nervos a flor da pele jurava que iria matar o “filho da mãe do Howard Hughes. Tenho certeza que foi ele”.
Alguém lembrou de falar da figura para a diva. Sim, só poderia ter sido o cara.Em resumo: a sete de novembro de mil novecentos e cinqüenta e um, na residência de Lester Sachs — amigo de ambos, na Filadélfia —, a diva tornava-se enfim: Ava Gardner Sinatra.
Apesar de toda descrição, do esforço mútuo de todos para encobrir o local do casamento — tentando assim, obter um pouco de privacidade do casal —, a imprensa que conseguira infiltrar “um dos seus” em meio à equipe do buffet, surgiu em peso. Flashes e mais flashes, braços sobre braços, vozes e mais vozes, tornaram-se numa muralha ao qual Frank e Ava tiveram que transpor até
chegar ao carro. Pouco antes de entrar, Gardner voltou seu olhar e encontrou entre as pessoas um dos conhecidos espiões de Howard Hughes. Sorriu, entrando definitivamente no automóvel.
Senhor e Senhora Sinatra
Desesperados para se livrarem dos abutres da imprensa, pegaram um avião rumo a Miami. Todavia, a noiva esquecera da sua mala. Resultado: uma das mais conhecidas fotos do casal, onde Gardner aparece usando as roupas do dia anterior, pés descalços, coberta pelo casaco de Sinatra, caminhando pela praia. O fotografo vendeu a película para todos os jornais e revistas mais importantes da época. Resolveram ir para Havana. Em Cuba, conseguiram passar como meros turistas, como um “casalzinho qualquer”. Foram estes os melhores momentos da vida de ambos, sem brigas, sem perturbações paralelas. Mas, o retorno aos Estados Unidos era inevitável. Frank tinha shows agendados — e ele precisava e muito fazer shows. Como boa esposa, ela o acompanhava em cada um deles. Na cidade de Nova York, porém, o ciúme tomou conta da bela ao vislumbrar entre as fãs de plantão, próximas ao gargarejo, Marilyn Maxwell, uma antiga paixão do atual esposo. Ciumenta, via Frank cantar — e mais flertar! — só com a garota. Quanto as outras que debruçavam-se desesperadas por Sinatra, bem, elas não existiam — ao menos aos seus olhos. No hotel, logo após o show, sem perder tempo, a diva começou uma série de acusações. Frank reagiu: tudo aquilo era um absurdo. Fora de si, Gardner sai aos prantos do hotel, descalça e ainda vestindo o belo traje do show. Chovia muito. Tinha uns poucos trocados na bolsa. Corre para o metrô, entra no primeiro trem, partindo sem rumo lógico. Quando este chega ao ponto final, salta. Encontrava-se num bairro em ruínas, na periferia de Nova York. Vê-se caminhando em baixo de fina chuva. O dia começando a nascer. Um táxi cruza seu caminho. Faz sinal. — Hampshire House Hotel. O taxista olha-a da cabeça aos pés. Vestida daquele jeito, com o rosto demonstrando choro intenso, àquela hora, naquele lugar, querendo ir para o hotel mais luxuoso de Nova York... Ora, só poderia ser uma profissional que algum milionário pervertido tinha chamado àquela hora.
Em sua biografia, Ava comenta que o motorista ficou lhe dando conselhos do tipo: “Faz ele pagar por isso. Joga o preço lá em cima, benzinho. Se ele tá afim de ti à uma hora dessas, é porque tem muita grana”. E o que ela poderia dizer: “Desculpe, mas sou a sra. Sinatra”? Resolveu ficar calada, no mais, estava exausta. O taxista estava tão indignado com “aquilo” — uma bela moça, com os olhos inchados de tanto chorar — que se o cliente surgisse em frente do hotel, era capaz de esmurrar o mesmo. Todavia, quem surgiu foi o porteiro do hotel, que reconhecendo a atriz, abriu de imediato a porta do automóvel dizendo:
— Bom dia, senhora Sinatra.
O homem quase desmaiou. Deus, aquela era Ava Gardner atual esposa de Frank Sinatra! Gaguejava, pedia desculpas e mais desculpas. Ava disse que não era preciso dizer nada, agradeceu os conselhos, depois, sussurrou no ouvido do porteiro: “Dava para pagar a corrida e dar dez dólares de gorjeta para o taxista”. O porteiro fez continência e atendeu a ordem.
No quarto, um Frank desesperado aguardava-a. Enquanto, ela comia um sanduíche com ovo — preparado por ele —, “The Voice” confessou:
— Estou feliz que tenhas voltado sã e salva para casa.
E ela com a boca cheia respondeu:
— Eu também.
A Pior Briga do Casal
Entre os shows de Sinatra, a vida de casada e a gravação de As Neves do Kilimanjaro (1952) — onde interpreta Cynthia, uma das personagens que mais adorou protagonizar —, Gardner passa a viver com Sinatra na mansão deste em Palm Springs. Numa manhã longínqua — enquanto Frank estava em turnê —, o telefone toca. Gardner estava em casa com sua irmã Bappie. Era Minna Wallis.
— Ava, aqui é Minna, tudo bem?
— Oi Minna, tudo, tudo. E como estás?
— Ótima, benzinho. Escute, gostaria de pedir um favor. Poderia passar o fim-de-semana com você aí em Palm Springs?
— Claro, seria ótimo.
— Mas é que estou acompanhada de uma amiga, ela poderia ir junto?
— Sem problemas.
— Que bom, então daqui a pouquinho eu e a senhoria Garbo estaremos chegando.
— Garbo?
— Sim, Greta Garbo.
— Adoraremos tê-la aqui — respondeu. — Quando ela chega?
— Dentro de cinco minutos.
Gardner quase teve uma pane. Bappie, também. Não sabiam se gritavam, o que faziam, afinal era Greta Garbo. Greta Garbo que as duas tanto admiravam! Corriam para baixo e para cima: “O que faremos? O que faremos?”, perguntavam-se atônitas. Por fim, colocaram flores no quarto reservado a grande estrela. Ligaram o ar condicionado. E tentaram segurar à vontade de ficar gritando sem parar ao vê-la descer — naquele verão quentíssimo —, usando óculos escuros, um maravilhoso chapéu de abas largas e...um suéter de lã de gola redonda, com uma echarpe de lã envolta em seu pescoço e um casaco pesado por cima de tudo! Em sua biografia Gardner conta o que ocorreu imediatamente: — Olá, miss Garbo — disse, ainda me portando como uma polida senhora sulina. — Sou Ava Gardner. Retribuiu o cumprimento? Ganhei um aperto de mão? O menor sinal de reconhecimento? Qual nada. Apenas um movimento rápido em direção a casa e um ressonante “onde é o meu quarto?”... Logo, ela e Mina instalaram-se em seus respectivos quartos. Depois, mandaram nos avisar que, em primeiro: Greta detestava ar-condicionado. E... se havia algo que detestasse mais ainda que ar-condicionado, eram flores! Bappie e Ava sentaram no sofá da sala de queixo caído. Pressentiram que “aquele fim-de-semana dos sonhos”, tornar-se-ia em um pesadelo. Foram para a piscina. O que fazer? Deus, admiravam Greta — ambas. E a primeira impressão não fora das melhores. Eis que Garbo surge num belo maiô, acompanhada de Minna. Agora é somente sorrisos. Convida-as para nadar. Depois, agradece uma vodka oferecida. E o primeiro momento é esquecido. Riem, conversam sobre diversas coisas. São agora quatro amigas aproveitando o fim de semana. Claro que, uma dessas amigas era: Garbo. E Garbo estava ali, sentada na mesma mesa que elas, no mesmo sofá que elas, fumando com elas a mesma marca de cigarro! Por fim, a grande atriz abriu seu coração para com as meninas: amara em toda sua vida um único homem — e ainda o amava — era John Gilbert. Mas, não poderia perdoa-lo, afinal fora traída com... Todas esperavam que ela dissesse: com Marlene Dietrich. Mas, os queixos caíram quando completou: fui traída com uma figurante! “Ele me traiu com uma figurante! Uma figurantezinha qualquer ao qual trabalharam por um dia! John pisou na bola, pisou mesmo!” Contudo, não seria esta a cena mais impressionante que a casa de Palm Springs presenciaria. Houve um momento, na vida do casal Sinatra, que Frank emprestara a casa para Lana Turner. Gardner adorava Turner — eram muito amigas. No mais, para Ava, Lana era a personificação em pessoa do que era ser uma estrela. “A estrela em pessoa”, costumava dizer. Certa noite, o casal Sinatra foi a uma festa de amigos. Obviamente, beberam muito — e a bebida nunca foi boa para ninguém, principalmente para os dois. Em meio a uma conversa e outra, eles se exasperaram. Quando voltaram para sua atual casa — na Pacific Palisades —, Gardner trancou-se no banheiro. Não queria ouvir um “a” dos lábios do esposo. Entrou na banheira. Obviamente, estava nua. Quando o cônjuge abriu a porta, ela entrou em pânico. Explico: Gardner tinha uma vergonha absurda de ficar nua na frente de outras pessoas, inclusive para seus maridos. Ela jamais se deixava ver despida. E se rolou, ela estava muito, mas muito, alcoolizada.
— Saía daqui, agora! — gritou.
— O que é isso, sou seu marido!
— Vá embora! Vá embora! — gritava sem parar.
Sinatra que estava também fora de si, respondeu: — Tudo bem, se é isso que você quer, eu vou”
— Vá embora! Vá embora! — repetida em desespero.
E antes de sair: — E se quiseres saber onde vou estar, querida. Vou para Palm Spring, pegar Lana Turner — obviamente, ele utilizou um tabuísmo no lugar de “pegar”, mas, não convém utilizar a palavra exata aqui. Bateu a porta. Gardner começou a meditar. Caramba, ele... ele... droga, eles foram amantes no passado. Claro, claro, ele... Entrou em pânico. O casal tinha apenas um carro,
e , Frank saíra justamente com aquele. Ligou para Bappie — já era tarde da noite. Explicou o caso: “Quero pegar o filha da mãe, com Lana”. Enfim, Bappie conseguiu um táxi. Partiram. Chegando lá, não viram o automóvel de Frank. Não havia como entrar na casa. Mas, Gardner encontrara um meio: subiria em uma árvore, até chegar as janelas do quarto, pegando o esposo! E quem convence Gardner de que era loucura? Lá foi ela. O problema que quando chegou próximo a janela do quarto, as cortinas estavam fechadas. Ficou tão furiosa, fez tanto barulho que abriram a janela. E quem era? Ben Coler, empresário de Turner que estava acompanhando a estrela.
— Ava? — indagou espantado.
— Oi, Coler. Como vai? — perguntou com aquele sorriso que só Gardner sabia dar.
— Eu-eu.. eu vou bem. E... e... — olhava para aquela cena, uma das maiores atrizes do cinema pendurada feito macaco numa árvore — e você?
— Tudo bem, tudo bem, obrigada.
— Hã...
— Hã...
— Hã... — novamente, da parte de Coler.
— Coler, querido, antes que me esqueça: poderias abrir o portão para que Bappie e eu possamos entrar.
— Oh sim, claro, claro. Respondeu.
— Mas, uma coisa — pediu, antes que ele se fosse. Poderia arranjar uma escada para mim. É que não estou conseguindo mais descer daqui.
— Sim —, respondeu o empresário.
Obviamente, Turner que adorava Gardner, ficou felicíssima de vê-la. Foram, tomar uns drinques. Não poderia ter feito sugestão pior, pois, Ava estava alta, mas bem alta, e mais, ainda corroída pelo ciúme. Procurava em todos os cantos — com os olhos — os pés, braços, qualquer sinal da presença de Frank. Então, Lana abriu o coração. Estava esperando uma pessoa, ao qual há muito estava apaixonada.
— Oh! — fez Ava, imaginando uma forma de matar lentamente Sinatra e a amiga.
— Ele está vindo de Los Angeles para cá — em sua biografia, Gardner não revela o nome do namorado de Turner. — Sabe, ele é gerente de um nightclub lá. É adorável. Realmente estou apaixonada Ava. Acho que desta vez tudo vai dar certo. Mereço ser feliz uma vez na vida, não?
— Mas, é claro, mas é claro.
Gardner começou a rir. Que ótimo, seria adorável que Sinatra aparecesse e pegasse Turner na cama com o cara. Teria perdido a loira e ela, numa noite apenas. Turner continuou falando. Comprara um frango, preparara para o namorado e um vinho que ele adorava. Bappie também ria — saíram para dar um flagra, e estavam prestes a se tornarem “duas velinhas” para o casal. E dá-lhe bebida. E dá-lhe histórias. No ponto alto da conversa. Os risos altos. A porta atrás deles abre-se: era Sinatra! Todos ficam espantados. Ora, será que Frank tinha vindo atrás da esposa? Ava mostrou-lhe uma taça e com um sorriso no rosto — e a mente alta — soltou uma frase infeliz:
— Ora, ora, senhor Sinatra, pensei que estivestes aqui “pegando” a Lana!
— Eu não “pegaria” esta perua, nem que você me pagasse! — respondeu o cantor furioso.
E dá-lhe um ofender o outro — e as ofensas iam e vinham sobre Lana, que pôs-se a chorar. Bappie ficou muda. Coler paralisado.
— Vou embora! Vou embora! — gritava Turner, chorando.
— Vá mesmo, perua! — retrucou Sinatra. — E falando nisso: todos fora da minha casa!
— Fora da sua casa? Queres dizer, da nossa casa, benzinho — ironizou Gardner.
— Sua “coisa” nenhuma.
— Ah é, deixe-me pegar então as minhas coisas — respondeu Ava, que arranjou uma escada e começou a tirar da estante livros e mais livros, discos e mais discos, arremessando-os no tapete da sala. Frank falando sem parar. Ela respondendo sem parar. E no meio da guerra, dos pedaços de discos — incluindo um de Artie. “Oh sim, este pertence a você”, lascou o cantor —, Turner com as malas feitas, o orgulho ferido, tentou passar por sobre tudo. Escorregou, machucando-se. Depois, erguendo-se dos destroços, foi desejando ainda uma “boa noite”. As coisas continuaram feias. Enfim, Frank chamou a polícia. O delegado que apareceu era amigo do cantor, e viu algo inacreditável: Gardner agarrada na maçaneta da porta, Sinatra puxando-a ora pela cintura, ora pelos pés. Gritos e mais gritos. Palavras ofensivas. Não tinha muito que fazer: estavam caindo de bêbados. No mais, como estavam em uma propriedade particular, não era lá “um crime grave”. E para piorar, Ben Coler, apareceu.
— Boa noite — cumprimentou o delegado.
— Boa noite — respondeu.
— Frank, Ava, desculpe estar importunando — iniciou, vendo a luta dos dois ainda porta. — Mas, é que esqueci de levar o frango e o vinho que a senhorita Turner comprou... vocês se importariam se eu... Fitaram-no por um segundo: claro que não. E voltaram as favas. Enfim, o delegado separou os dois. E os dois se separaram, por um breve momento — afinal, amavam-se — retornando durante a campanha Adlai Stevenson.
Depois que sua carreira declinou nos anos 60, a bela Ava mudou-se para Londres, onde passou seus últimos dias, quase anônima, e freqüentemente bêbada. Nunca mais se casou nem teve filhos. Em 1990, aos 68 anos, morreu por causa de uma pneumonia e foi enterrada na terra natal Smithfield, onde hoje existe um memorial em sua homenagem.
Filmografia
That's Entertainment! Part III (1994)
Priest of Love (1981)
Kidnapping of the President, The (1980)
City On Fire (1979)
Cassandra Crossing, The (1977)
Sentinel, The (1977)
Blue Bird, The (1976)
Permission to Kill (1975)
Earthquake (1974)
Life And Times of Judge Roy Bean, The (1972)
Devil's Widow, The (1972)
Mayerling (1968)
Bible...in the Beginning, The (1966)
Night of the Iguana, The (1964)
Seven Days in May (1964)
55 Days at Peking (1963)
Angel Wore Red, The (1960)
Naked Maja, The (1959)
On the Beach (1959)
Little Hut, The (1957)
Sun Also Rises, The (1957)
Bhowani Junction (1956)
Around the World in 80 Days (1956)
Band Wagon, The (1953)
Knights of the Round Table (1953)
Mogambo (1953)
Ride, Vaquero! (1953)
Lone Star (1952)
Snows of Kilimanjaro, The (1952)
My Forbidden Past (1951)
Pandora And the Flying Dutchman (1951)
Show Boat (1951) ... Julie LaVerne
East Side, West Side (1949)
Bribe, The (1949)
Great Sinner, The (1949)
Hucksters, The (1947)
Singapore (1947)
Killers, The (1946)
Whistle Stop (1946)
She Went to the Races (1945)
Lost Angel (1944)
Maisie Goes to Reno (1944)
Three Men in White (1944)
Two Girls And a Sailor (1944)
Hitler's Madman (1943)
Pilot No. 5 (1943)
Young Ideas (1943)
Du Barry Was a Lady (1943)
Swing Fever (1943)
Ghosts On the Loose (1943)
Joe Smith, American (1942)
Kid Glove Killer (1942)
Reunion in France (1942)
Sunday Punch (1942)
This Time for Keeps (1942)
We Were Dancing (1942)
Calling Dr. Gillespie (1942)
H.m. Pulham, Esq. (1941)
Barefoot Contessa, The (1954)
One Touch of Venus (1948)
Créditos:
Textos capturados em:
http://www.e-biografias.net/especial/cinema/ava_lavinia_gardner.php
http://www.cinemaclassico.com/index.php?option=com_content&view=article&id=705:tudo-sobre-ava-gardner-nasce-uma-estrela&catid=44:colaboradores&Itemid=75
Fotos capturadas na Internet
Pesquisa: Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz