DIAS GOMES
Teatro, política e justiça social
O baiano Alfredo Dias Gomes é o mais reverenciado integrante da primeira geração de roteiristas multimídia brasileiros. Em seus 76 anos de vida, marcou sua presença com sucesso e originalidade no teatro, rádio, televisão e cinema – o que leva a crer que, se vivo fosse, estaria produzindo dramaturgia para a internet, que não chegou a ver popularizada. Nascido em Salvador, no dia 19 de outubro de 1922, Dias Gomes foi um talento precoce. Seu primeiro texto, “A Comédia dos Moralistas”, escrito quando o autor tinha apenas 15 anos, recebeu o prêmio do Serviço Nacional do Teatro, em 1939.
Enquanto o teatro o chamava, Dias Gomes ainda tentou seguir por outras profissões. Cursou Engenharia, mudou para Direito, e abandonou o curso no 3º ano, em 1943, quando já começava no teatro profissional. A comédia “Pé-de-cabra” (1942) foi o seu primeiro texto encenado pela companhia de Procópio Ferreira, ator que já era uma verdadeira lenda do teatro brasileiro. Ótimo criador de tipos, emplacou peças como “João Cambão”, no mesmo ano, e “Zeca Diabo” e “Amanhã será outro dia”, no ano seguinte.
Essa primeira fase no teatro foi interrompida por sua participação na dramaturgia radiofônica, a partir de 1944, quando chegou à Rádio Pan-Americana, de São Paulo, a convite de Oduvaldo Viana. Até meados da década seguinte, Dias Gomes passou por várias rádios, inclusive a poderosa Rádio Nacional, escrevendo textos de grande audiência. Em 1950, casou-se com a escritora Janete Clair. Da união, vieram cinco filhos e várias colaborações.
Após uma viagem à União Soviética, em 1953, teve seu nome incluído na “lista negra” de diversas emissoras, no momento em que a Guerra Fria ganhava força. Talvez por isso, na segunda fase de proeminência do teatro de Dias Gomes, o autor mostrou-se ainda mais voltado para temas sociais. “Os Cinco Fugitivos do Juízo Final” (1954) é o texto que inaugura essa fase, que teve direção de Bibi Ferreira em sua primeira montagem.
O grande sucesso vem em 1960, com “O Pagador de Promessas”, montada inicialmente pelo Teatro Nacional de Comédia. O drama do simplório, mas obstinado Zé do Burro, que tenta pagar uma promessa, tocou a população. Zé do Burro, o homem comum, é impedido e morto pela insensibilidade das autoridades policiais e da Igreja. O texto é imortalizado ao chegar ao cinema, sob a direção de Anselmo Duarte, e conquistar a Palma de Ouro em Cannes, em 1962.
Depois que a ditadura militar é instaurada, o autor tem textos, como “O Berço do Herói” (1965), censurados. Denuncia os abusos e a tortura em um texto de fundo histórico, “O Santo Inquérito” (1965) e, mesmo seguindo a produzir para o teatro, passa a priorizar a TV, onde logo seria imbatível. São de Dias Gomes sucessos como “Bandeira Dois”, “Saramandaia”, “O Bem-Amado” e “Roque Santeiro”, que após ser proibida na década de 1970, se tornou a novela de maior audiência na história, em 1985.
Ele foi eleito para ocupar a cadeira 21 de Academia Brasileira de Letras em 1991. Morreu em São Paulo, em 18 de maio de 1999.
(Parte da coletânea GENTE DE TEATRO, de William Mendonça. Direitos reservados.)