AUTOBIOGRAFIA DE UMA ÉPOCA DE OURO

Nasci no Rio de Janeiro, em 01 de fevereiro de 1973. Eu ainda ia completar três anos de idade, quando meus pais resolveram retornar pro Nordeste, na Paraíba, onde pude crescer e viver toda minha infância e juventude na cidade de Queimadas.

Relembrarei aqui um pouco dos meus primórdios, a começar pelos tempos áureos de colégio que marcaram para sempre minha infância e adolescência.

Na escola primária e ginasial, se alguém chegasse atrasado, não entrava, pois os professores quase sempre impediam. Dependendo da escola, podia entrar depois do recreio. Lembro que havia o dever de casa e a Educação Física era a mais esperada por todos. Não havia internet nessa época, óbvio, e as pesquisas escolares eram realizadas nas Bibliotecas. Os trabalhos que valiam nota eram escritos à mão e na folha de papel pautado, onde as capas eram feitas com todo capricho. Adorávamos ainda quando o professor(a) usava o mimeógrafo e aquele cheiro do álcool tomava conta da sala.

Na escola tinha o #gordo, o #magrelo, o #zoreia, o #quatrozóio, o #cabeção, o #baixinho, a #Olívia Palito, o #dentuço, o #negão (tinha vários apelidos ótimos também) e nada disso era visto como ofensa. Era tudo brincadeira e ninguém se queixava de #bullying. Todo mundo zoava, era zoado e, às vezes, até brigávamos, mas logo estava tudo resolvido e seguia a amizade. Existia o #valentão e a #valentona em cada turma, mas também havia quem nos defendesse dentro e fora da sala de aula.

Na hora do intervalo, Sucrilhos era um luxo de poucos, assim como Danoninho, biscoitos recheados e refrigerante. Era uma festa quando alguém menos favorecido tinha isso em casa. Sem esquecer que, antes de iniciar as aulas, a gente cantava o Hino Nacional. E, em vésperas de feriados nacionais ou mesmo municipais, havia o hasteamento das bandeiras do Brasil, do Estado e da cidade. Uma regra que valia tanto para escolas do ensino público como particular.

Não havia telefone celular nessa época, com certeza, e éramos acostumados a utilizar o famoso orelhão. A rede social da época eram os cadernos de perguntas e respostas (disparates) que circulavam pelas salas de aula para falarmos sobre nós e também sabermos um pouco mais sobre os outros.

Íamos para a escola a pé ou de ônibus, sozinhos. Na saída, adorávamos quando alguém fazia aniversário. Era ovo e farinha de trigo na cabeça, e o que mais tivesse pela frente. Final de ano então, não víamos a hora de acabarem as aulas, para que os colegas escrevessem nas nossas camisetas e guardarmos de recordação.

A frase "Peraí, mãe!” era para ficarmos mais tempo na rua e não no COMPUTADOR ou no CELULAR, como se vê hoje em dia. A diversão era garantida. Colecionávamos figurinhas, tampinhas de garrafas, notinhas de cigarros... tínhamos como brinquedos ioiôs, estilingues, carrinhos de lata... e no intervalo das aulas, brincávamos de queimada (ou baliada), garrafão, amarelinha, entre outras. As brincadeiras eram saudáveis, os guris brincavam de bater figurinhas, não nos colegas e professores, como se vê atualmente.

As brincadeiras de rua continuavam, a exemplo de pega-pega (o popular “toca”), esconde-esconde, pique alto, barra-bandeira, cabra-cega, pula-carniça, polícia e bandido... jogávamos bolinhas de gude, castanhas, fazíamos carrinhos de rolimã, guerra de mamonas, empinávamos pipas... Não tinha essa parada de Fast Food. Comíamos pela rua mesmo, bebíamos água da torneira, andávamos descalços e vivíamos no sol sem protetor, subíamos nos árvores para catar goiaba, jambo, manga, etc.

Não nos importávamos se nossos amigos eram #negros, #brancos, #pardos, #ricos, #pobres, #meninos ou #meninas. Todo mundo brincava junto e como era bom! Bom não, era maravilhoso!! Filmes só assistíamos na tv e não víamos a hora de passar a Sessão da Tarde e Sessão Aventura.

Que saudades dessa época, meu Deus, em que a chuva tinha cheiro de terra molhada. Podíamos tomar banho nela sem ficar doente... época em que a nossa única dor era quando passávamos mercuro cromo nos machucados (porque Mertiolate ardia muito, kkkkk!)

A educação começava em casa, até porque, ai da gente se a mãe tivesse que ir à escola por aprontarmos alguma coisa... a cinta e o castigo pegavam. Nada de chegar em casa com algo que não era nosso. Desrespeitar alguém mais velho ou se meter em alguma conversa, nem pensar. "Quando um burro fala, o outro baixa a orelha". Era o ditado da época.

Fico aqui me perguntando... quando foi que tudo isso mudou? E os valores que se perderam e se inverteram? Quanta saudade, quantos valores preciosos que, para as novas gerações, não valem nada.

Sinto saudades de tudo que hoje não tem mais valor.

Paulo Seixas
Enviado por Paulo Seixas em 02/05/2020
Reeditado em 02/05/2020
Código do texto: T6935346
Classificação de conteúdo: seguro