ZIRALDO
Muito maluquinho, feito seu menino


   Aos seis anos, Ziraldo Alves Pinto teve seu primeiro trabalho publicado – no jornal Folha de Minas. Portanto, pode-se dizer que o cartunista (entre outras muitas coisas), nascido em 24 de outubro de 1932, na cidade de Caratinga, em Minas Gerais, já completou absurdos 80 anos de carreira. É claro que a conta oficial do tempo de carreira de Ziraldo, o pai do Menino Maluquinho, começa na década de 1950, quando o então jovem artista começou a ganhar espaço em jornais e revistas de primeira linha do Brasil. Mas isso está longe de resumir usina criativa que é Ziraldo.
   O garoto de Caratinga já trouxe de berço a originalidade. O nome, que mesclava de forma inusitada o nome da mãe (Zizinha) e do pai (Geraldo), virou grife. Fez a maior parte de seus estudos na cidade natal, exceto por um período em que viveu com a avó no Rio de Janeiro. Quando ingressou na imprensa, chamou a atenção pelo traço também original – tanto nas artes para anúncios e cartazes, quanto nas caricaturas e charges. 
   Depois do jornal Folha de Minas e da revista Era Uma Vez, com os quais colaborou, Ziraldo foi contratado em 1954 pela Folha da Manhã (futuramente, Folha de S.Paulo). Em pouco tempo, foi levado à revista O Cruzeiro, grande sucesso de vendas da época. Paralelamente, cursava Direito e acabou por se formar em 1957. No ano seguinte, casou-se com Vilma Gontijo e, em 1958, fez o primeiro de seus cartazes, que promovem a Feira da Providência, no Rio, há seis décadas.
   Coube a Ziraldo, e não a Mauricio de Sousa como muitos imaginam, a publicação no Brasil da primeira revista em quadrinhos colorida totalmente feita por um artista brasileiro. Esse marco foi a revista Pererê, que deu o pontapé inicial nas aventuras na Mata do Fundão da turma genuinamente brasileira, liderada pelo proverbial Saci. Foram quatro anos ininterruptos de publicação, até o golpe militar colocar Ziraldo numa lista negra.
   No início da década de 1960, o artista ampliou sua galeria de personagens, com a publicação da Supermãe, de Jeremias O Bom e do Mineirinho, no Jornal do Brasil, e os Zeróis, na Fatos e Fotos. Quando a censura exigiu ainda mais resistência, Ziraldo integrou o time do Pasquim – jornal de resistência, que combateu a ditadura com humor, ironia e muita crítica social. Perseguido (todos foram presos em 1970), o Pasquim passou por altos e baixos, teve edições recolhidas nas bancas, mas sempre foi combativo.
   A essa altura, Ziraldo já era uma personalidade internacional, a ponto de desenhar um cartaz para a campanha anual da Unicef (o primeiro artista latino-americano convidado). Nasce, na mesma época do Pasquim, o Ziraldo dramaturgo e escritor de livros infantis. Primeiro veio “Flicts” (1969), sobre uma cor que não tinha lugar neste mundo, um sucesso.
   O filho mais famoso de Ziraldo só veio a público em 1980: o Menino Maluquinho. O personagem é o campeão de republicações e traduções ao redor do mundo, viajou pelos quadrinhos, desenhos animados, séries e filmes. Ziraldo é o autor de livros infantis mais lido no Brasil.

(Parte da coletânea FERAS DOS QUADRINHOS, em produção, de William Mendonça. Direitos reservados.)