O último beat

Meu pai sofreu muito com a minha mãe, imagino eu. Ele er romântico, ela gralha. Penso em por o pé na estrada com o Buiui e com o Rasputa para terminar esta passagem do último beat, mas tou cansado. Só lembranças como aquela que meu padrinho tio Irineu que me levava como grande passeio até o aeroporto ver os aviões junto com as minhas primas, mas que ficou puto quando chegou em casa e viu uma mijada no ralinho do quintal e imediatamente postulou a mim a mijada. Eu era inocente, tinha sido meu pai. Acho que depois daquela mijada eu nunca mais fui ver os aviões. Anos depois escrevi A Mijada:

To loco pra dar uma mijada

Posso mijar e daí,

Passar a mão no cabelo

E ai o duro, não é o pau.

É pagar cinqüenta

Não vou ficar filosofando dias e noites

Pronto, estou mais leve.

Estou cansado de pentear os cabelos

E ai solto otrocentas risadas

Não quero estragar tudo

Continuo rindo

Vou tomar mais um gole

Esperar que o garçom acenda o meu cigarro

Obrigado(a), vou lutando contra as frases prontas

Esperando ascender mais unzinho

E daí emputeço e caio na gandaia

Vi uma lua e um por do sol

Senti aquela sede

Sabe? Aquela.

E me pus a viajar

Corpo, cabeça

Membros e pensamentos

Fazer amor, sentir a terra

Catapultado ao futuro

Vou melhorar

Vou questionar

Olhos abertos, grande dia oito

Grande baleia, enorme oceano

Sem falar do sonho

E todo o céu que se impõe

Nada acontece

E acontece o dia todo

Eu estava lá, você também

A teoria da loucura

O tesão da teoria

A loucura e o tesão

A teoria separada do pensamento

Foda

A mudança para a terra dos esquimós

Vou penteando a careca

Chernobyl sou eu

Não existem mais peixes

Derreteram as geleiras

Enorme mijada

Luiz Zanotti
Enviado por Luiz Zanotti em 08/02/2019
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