O último beat
Sai com meu pai, acho que tinha uns seis anos, fomos caminhando pela rua Olavo Egidio até chegar na estação da Cruzeiro do Sul onde saia o trenzinho da Cantareira. Não me lembro bem da viagem. Sei que passamos por vários campos. E depois queríamos voltar, e meu pai não achava o caminho. Só me lembro que ele me segurava pela mão. Esta passagem esta retratada em Peregrino:
Os ratos e os retos, os politicamente incorretos
Os restos daquilo que um dia entendi poesia
Os gatos, os gastos e os gestos
Os politicamente indigestos
O gestar daquilo
Que um dia entendi magia
Os fatos e os fetos
Os políticos e os afetados
Todos
Uns filhos da grande mãe
Puta
Tudo o que eu tenho ou queria escrever, é pimba!
Vem dos cadernos de uma memória,
que falha como os números que apostamos num sorteio da Sena.
-Porque?
Porque eu não sou um pinto gigante,
sou vários, alguns maiores, alguns menores e mesmo nenhum.
E até mesmo sou a falta do falo!
Mas daí quem sou eu?
Sou uma aposta.
Sou um nada, nadinha mesmo.
Um nada que em minha vida representa um trem
Estático, paradinho numa estação
E a mão parada do meu pai
Segurando
A minha parada mão
E neste desembalo está tudo parado
Posso me despersonificar
Deixar de ser eu mesmo e voltar a ser meu pai
Ou ser um grande vazio
Parado
Mas eu insisto na possibilidade de ser
De ser pelo menos um grande chato,
Ou pelo menos um pequeno falo
Somente ser
Ser pelo menos
Porque tanto
Tanto mais ou menos
Sou ou não um grande falo.