Joaquim Maria Machado de Assis
- Machado de Assis -
Machado de Assis consagrou-se na Literatura Brasileira como cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta. Sua obra remonta a 9 romances e 9 peças teatrais, 200 contos, 5 coletâneas de poemas e mais de 600 crônicas. Editou suas primeiras produções literárias através de Paula Brito, e, mais tarde, por intermédio de Baptiste-Louis Garnier, que vindo de Paris se estabelecera no Rio de Janeiro, como uma figura notória do mercado livreiro nacional. Atualmente, muitas editoras brasileiras publicam volumes especiais intitulados Obra Completa de Machado de Assis, a fim de reunir toda a sua produção literária.
 
Nascimento
 
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839, filho do operário mestiço de negro e português, Sr. Francisco José de Assis e de D. Maria Leopoldina Machado.
 
Infância e adolescência
 
Machado de Assis perdeu a mãe muito cedo e foi criado pela madrasta, D. Maria Inês, também mulata, que se dedicou ao menino e o matriculou na escola pública, única frequentada pelo autodidata Machado de Assis. De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco da sua infância e início da juventude. Criado no morro do Livramento, consta que ajudava a missa na igreja da Lampadosa.
 
Com a morte do pai, em 1851, D. Maria Inês, à época morando em São Cristóvão, empregou-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado o menino, tornou-se ali vendedor de doces. Nesse colégio, teve contato com professores e alunos e presume-se que assistisse às aulas nas ocasiões em que não trabalhava.
 
Mesmo sem oportunidade de acesso aos cursos regulares, Machado de Assis empenhou-se em aprender. Conta-se que, em São Cristóvão, conheceu uma senhora francesa, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de francês. Desfrutava, também, da proteção da sua madrinha D. Maria José de Mendonça Barroso, viúva do Brigadeiro e Senador do Império Bento Barroso Pereira, proprietária da Quinta do Livramento, onde foram agregados seus pais.
 
Aos 15 anos, Machado de Assis debutou no meio literário, ao publicar no Periódico dos Pobres, número datado de 3 de outubro de 1854, o soneto: “À Ilma. Sra. D.P.A.”, dedicado a Petronilha: Todos os dotes tens, ó Petronilha. Em 12 de janeiro de 1855, publicou na revista Marmota Fluminense, de Francisco de Paula Brito, o poema Ela. A Livraria Paula Brito acolhia novos talentos da época e após a publicação do referido poema fez de Machado de Assis um efetivo colaborador.
 
Em 1856, aos 17 anos, conseguiu emprego como aprendiz de tipógrafo na Tipografia Nacional, dedicando-se à escrita nos momentos livres. Conheceu o então diretor do órgão, Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um sargento de milícias, que se tornou seu protetor.

Em 1858, teve aulas de francês e latim com o professor Padre Antônio José da Silveira Sarmento e voltou à Livraria Paula Brito como revisor e colaborador da Marmota, onde integrou-se à sociedade Lítero-humorística Petalógica, fundada por Paula Brito. A esse tempo, ampliou seu rol de amigos, do qual faziam parte Joaquim Manoel de Macedo, Manoel Antônio de Almeida, José de Alencar e Gonçalves Dias. Começou a publicar obras românticas e, em 1859, era revisor e colaborava no jornal O Paraíba e no Correio Mercantil.

Machado de Assis aos 15 anos - uma das poucas fotos do escritor na juventude

Vida adulta, casamento e ascensão no mundo literário
 
Em 1860, a convite de Quintino Bocaiuva, integrou a redação do jornal Diário do Rio de Janeiro (sob os pseudônimos Gil, Job e Platão). Além disso, escrevia para a revista O Espelho (inicialmente, como crítico teatral), A Semana Ilustrada (na qual, além do nome, usava o pseudônimo de Dr. Semana) e Jornal das Famílias.
 
Seus primeiros livros foram impressos em 1861, com as peças teatrais: Desencantos (comédia) e Queda que as mulheres têm para os tolos (sátira em prosa, onde aparece como tradutor).
 
Machado de Assis ultrapassou os dons da escrita e, no ano de 1862, como sócio do Conservatório Dramático Brasileiro, exerceu função não remunerada de auxiliar da censura, emitindo diversos pareceres acerca de peças a ele enviadas e submetendo suas próprias peças ao órgão. Foi Bibliotecário da Sociedade Arcádia Brasileira e colaborou em O Futuro, periódico quinzenal sob a direção de Faustino Xavier de Novais.
 
Em 1863, publicou o Teatro de Machado de Assis, composto por duas comédias: O protocolo e O caminho da porta. Passou a publicar vários contos no Jornal das Famílias.
 
Publicou seu primeiro livro de poesias em 1864, aos 25 de idade, sob o título de Crisálidas e em julho desse mesmo ano firmou contrato com B. L. Garnier para a venda definitiva dos direitos autorais de Crisálidas. A obra de cunho romântico e métrica rigorosa, continha originalmente 29 poemas, dos quais 17 foram cortados pelo próprio poeta em 1901, quando editou suas Poesias Completas. Os poemas sobreviventes incluíam os Versos a Corina, dedicados à sua primeira musa, cuja identidade não foi revelada e que, segundo alguns estudiosos da obra machadiana, não é necessariamente uma mulher real. O poema dedicado a Corina, na edição das Poesias Completas, foi alterado por Machado, com a retirada de um conjunto de 22 versos, relacionando sua musa às de outros poetas: Leonor (Tasso), Lívia (Horácio), Beatriz (Dante Alighieri), Catarina (Luís de Camões), Corina (Ovídio), Cíntia (Propércio), Lésbia (Catulo), Délia (Tibulo). Entre esses, incluía-se o verso que mais tarde seria usado como lema da Academia Brasileira de Letras: “Esta a glória que fica, eleva, honra e consola”. O poema Elegia intitulava-se Ludovina Moutinho – Elegia, na versão constante em Crisálidas. Na primeira versão do poema, publicada no Diário do Rio de Janeiro, em 17 de junho de 1861, recebeu um título ainda mais descritivo: Sobre a Morte de Ludovina Moutinho (SOUSA, 1955, p. 342-343). Machado de Assis utilizava, na epígrafe, versos de uma elegia camoniana de autoria problemática, excluída do corpus da lírica pelos editores modernos, assim reproduzida: “A bondade choremos, inocente / Cortada em flor que, pela mão da morte, / Nos foi arrebatada dentre a gente” (ASSIS, 1976, p. 148-151).
 
Em 1865, funda-se a Arcádia Fluminense, da qual Machado de Assis foi um dos sócios fundadores e, em 1866, são publicadas a comédia Os deuses de casaca e sua tradução do romance Os trabalhadores do mar, de Victor Hugo. No final desse ano, chegou ao Rio de Janeiro a jovem Carolina Augusta Xavier de Novais, irmã do poeta Faustino Xavier de Novais e futura esposa de Machado de Assis.
 
Em 1867, o autor em destaque, foi agraciado com a Ordem da Rosa, no grau de cavaleiro e nomeado ajudante do diretor do Diário Oficial. Em 1868, crítico consagrado, guiou o jovem poeta Castro Alves no mundo das letras, a pedido de José de Alencar.
 
Em agosto de 1869, morreu seu amigo Faustino Xavier de Novais e, menos de 3 meses depois, em 12 de novembro, casou-se com a irmã do amigo, Carolina Augusta Xavier de Novais, quatro anos mais velha e extremamente culta. A esposa apresentou-lhe os grandes clássicos portugueses e diversos autores da língua inglesa. Alguns pesquisadores afirmam que Carolina foi a revisora dos textos do escritor. “Machadinho”, como o autor assinava as mensagens de amor para a noiva, entusiasmava a esposa com cartas que previam o destino dos casal: "[...] depois, querida, ganharemos o mundo, porque só é verdadeiramente senhor do mundo quem está acima das suas glórias fofas e das suas ambições estéreis.”
 
Em 1870, publicaram-se as obras Falenas e Contos fluminenses. Em 1872, seu primeiro romance denominado Ressurreição, foi publicado. Em 1873, publicou Histórias da meia-noite (contos) e Notícia da atual literatura brasileira: instinto de nacionalidade (ensaio crítico). Foi nomeado primeiro-oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas.
 
Em 1874, no O Globo de então, jornal de Quintino Bocaiuva, começou a publicar em folhetins o romance A mão e a luva. Escreveu crônicas, contos, poesias e romances para as revistas O Cruzeiro, A Estação e Revista Brasileira.
 
Em 1875 publicou Americanas, seu terceiro livro de poesias entre agosto e setembro de 1876, publicou o romance Helena no jornal O Globo. Colaborou na revista Ilustração Brasileira e foi promovido a chefe de seção da Secretaria de Agricultura.
 
Em 1878, seu romance Iaiá Garcia foi publicado em O Cruzeiro e editado em livro. No mesmo jornal, publicou o primeiro artigo em que faz críticas ao romance O Primo Basílio, de Eça de Queirós. Por conta das edições clandestinas da obra no Brasil, o próprio Eça de Queirós nomeiou Machado como seu defensor em relação aos direitos autorais d'O Primo Basílio. Em licença por motivo de doença, seguiu para Friburgo, de onde retornou em março do ano seguinte.
 
Em 1878, veio a lume, pela Revista Brasileira, o romance Memórias póstumas de Brás Cubas e na revista A Estação, o romance Quincas Borba. Nessa revista também é publicado o seu estudo intitulado A nova geração.
 
Em 1880 foi designado Oficial de Gabinete do Ministério da Agricultura e em junho desse ano sua comédia Tu, só tu, puro amor..., representada no teatro Dom Pedro II, em razão das festas organizadas pelo Real Gabinete Português de Leitura em comemoração ao tricentenário do poeta português Luís de Camões. No ano seguinte, foi publicada em volume.
 
No ano de 1881, escreveu crônicas no jornal Gazeta de Notícias e, com a posse do poeta Pedro Luís Pereira de Sousa, como ministro interino da Agricultura, Comércio Obras Públicas, Machado assumiu o cargo de oficial de gabinete. Publicou, nesse ano, um livro extremamente original, pouco convencional para o estilo da época: Memórias Póstumas de Brás Cubas, que foi considerado, juntamente com O Mulato, de Aluísio de Azevedo, o marco do realismo na literatura brasileira.
 
Extraordinário contista, seu terceiro livro nessa modalidade literária, Papéis avulsos, no qual se encontra o conto O alienista, foi publicado em 1882. Por motivos de saúde, entrou em licença de três meses para tratar-se fora do Rio de Janeiro.
 
Em 1884, publicou em livro os contos de Histórias sem data e passou a residir na Rua Cosme Velho, bairro nobre do Rio de Janeiro, onde residiria até a sua morte.
 
Em 1886, publicou o volume Terras, compilação para estudo da Secretaria da Agricultura, resultado do trabalho de oito anos na Comissão de Reforma da Legislação das Terras. Em 1888, foi nomeado oficial da Ordem da Rosa, por Decreto Imperial e, no ano seguinte, foi promovido a diretor da Diretoria do Comércio, na Secretaria de Estado da Agricultura, Comércio e Obras Públicas em 30 de março de 1889.
 
As publicações continuaram em 1891, desta vez, com o romance Quincas Borba, sob o formato de livro. Em 1892, foi promovido a Diretor-Geral da Viação da Secretaria da Indústria, Viação e Obras Públicas.
 
Em 1895, Araripe Júnior publicou um perfil de Machado de Assis na Revista Brasileira, de José Veríssimo, na qual Machado passou a ser colaborador em dezembro do mesmo ano. Em 1896, publicou o quinto livro de contos, intitulado Várias Histórias e, na redação da Revista Brasileira, dirigiu a primeira sessão com os intelectuais que se identificavam com a ideia de Lúcio de Mendonça de criar uma Academia Brasileira de Letras. Desde o início das discussões, Machado de Assis aprovou a ideia e compareceu às reuniões preparatórias. No dia 28 de janeiro de 1897, quando se instalou a Academia, foi eleito presidente da instituição. É o fundador da cadeira nº 23 e escolheu o nome de José de Alencar, um grande amigo, para seu patrono. Pela importância do literato, a Academia Brasileira de Letras passou a ser chamada de Casa de Machado de Assis.
 
Em 1899, foi publicado o romance Dom Casmurro e o livro de contos, ensaios e teatro Páginas Recolhidas. Firmou-se escritura de venda da propriedade inteira da obra de Machado de Assis a François Hippolyte Garnier.

 

Em 1901, publicou Poesias completas, que inclui três livros de versos anteriores: Crisálidas, Falenas e Americanas, mais a coletânea Ocidentais. Embora oficialmente fosse o francês Hippolyte Garnier o livreiro-editor do florilégio, as intervenções realizadas pelo poeta evidenciam sua efetiva participação na concretização do projeto. Preparando, ordenando e exercendo suas percepções literárias, o autor revelou-se poeta, editor e crítico de Poesias completas. Para além da escritura dos poemas, selecionou, eliminou e/ou reestruturou notas, versos e epígrafes anteriormente publicados. Afora as supressões e reformulações estruturais aplicadas a vários poemas antes de efetivamente estamparem as páginas dos livros, os textos introdutórios às compilações também refletem o exercício crítico de Machado de Assis.
 
Seu penúltimo romance, Esaú e Jacó, foi publicado em 1904 e em janeiro desse ano seguiu para Friburgo, com a esposa enferma.
 
Machado de Assis foi um típico homem de letras brasileiro bem-sucedido, confortavelmente amparado por um cargo público e pelo casamento feliz que durou 35 anos. Da união feliz, não resultou filhos. A morte da esposa, em 1904, foi uma sentida perda, tendo-lhe dedicado o soneto Carolina, que a celebrizou.
 
Verdade é que, aos poucos, os olhares voltavam-se para o poeta, seja na tentativa de conhecer mais sobre a formação e a juventude do escritor, seja na busca por elementos da prosa que já estavam naquela poesia primeira. A respeito do embate entre poeta e prosador, Manuel Bandeira assinalara com razão em ensaio de 1839: “É um perigo para o poeta assinalar-se fortemente nos domínios da prosa. Entra ele nesse caso numa competência muito mais ingrata que a dos seus confrades: a competência consigo próprio” (BANDEIRA, 1962, p. 11).
 
Tempos depois, no Jornal do Comércio de 21 de maio de 1901, no artigo Poesias completas: o Sr. Machado de Assis, poeta, pronunciara José Veríssimo: “[...] E quer como prosador, quer como poeta, não o é por nenhuma extravagância de pensamento ou de estilo, mas somente pela originalidade do seu engenho, pela singularidade do seu temperamento. Como se diz de outros: é um caráter, numa acepção que todos entendem, pode-se dizer do Sr. Machado de Assis, mais do que de qualquer dos nossos prosadores e poetas: é um temperamento” (REIS, 2009, p. 728). J. dos Santos ratifica o pensamento de José Veríssimo, quando escreve Crônica literária, artigo publicado n’A notícia, de 25-26 de maio de 1901: “[...] Veríssimo não foi um louvador incondicional; soube explicar porque o mais puro e perfeito dos nossos prosadores não tem no seu lirismo a exuberância um pouco desordenada de quase todos os poetas de sua geração”. E ainda no mesmo artigo, o autor recomenda: “Quem conhece o prosador maravilhoso que escreveu estas três obras primas: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro, deve ler as suas Poesias completas. Só assim verá o seu talento sob todos os aspectos” (REIS, 2009, p. 736-737).
 
Teatro, tradução e crítica literária
 
Como observado no texto aqui apresentado, para além da prosa e poesia, Machado de Assis também enveredou-se pelos caminhos do teatro, tradução e crítica literária.
 

Com referência ao teatro, a maior parte das peças diz respeito a traduções, como por exemplo: Hoje avental, amanhã luva (1860), As bodas de Joaninha (1861), Gabriela (1862), Montoye (1863), Suplício de uma mulher sem corar (1865), Barbeiro de Servilha (1866), O anjo da meia-noite (1866), O remorso vivo (1866), A família Benoiton (1867), Monólogo de Hamlet (1871), e ainda as peças não datadas: Os burgueses de Paris, Tributos da mocidade e Forca por forca. Sob sua própria autoria cita-se: Odisseia dos vinte anos (1860), Desencantos (1861), O caminho da porta (1862), O protocolo (1862), Quase ministro (1864), Os deuses de casaca (1866), O bote de rapé (1878), Tu, só tu, puro amor (1880), Não consultes médico (1899), Lição de botânica (1906) e As forcas caudinas (1956).
 
Como tradutor, legou-nos traduções de obras clássicas, entre essas: Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo; o Canto XXV do Inferno, da Divina Comédia de Dante Alighieri, a famosa cena 7 do ato 4; To be or not to be, de Hamlet, de Shakespeare; e O Corvo, de Edgar Allan Poe. Muitas dessas traduções integraram seus livros de poemas.
 
Investido da posição de crítico literário, sua produção se destaca em: O passado, o presente e o futuro da literatura (1858), Notícia da atual literatura brasileira: instinto de nacionalidade (1873), Literatura realista: o Primo Basílio, romance do Sr. Eça de Queirós (1878) e A nova geração (1881).

 

Morte
 

Machado de Assis morreu de câncer, no Rio de Janeiro, sua cidade natal, em 29 de setembro de 1908. A oração fúnebre foi proferida pelo acadêmico Rui Barbosa, na Academia Brasileira de Letras, junto do ataúde de Machado de Assis, aos 29 de setembro de 1908, minutos antes de partir o féretro para o cemitério de S. João Batista, onde o escritor, a seu pedido, seria enterrado ao lado da esposa que antes se fora do seu convívio.
 
Em 1975, a Comissão Machado de Assis, instituída pelo Ministério da Educação e Cultura, organizou e publicou as Edições críticas de obras de Machado de Assis, em 15 volumes.
 
A respeito dos estudos realizados sobre a obra machadiana, salientou Ishimatsu (1984, p. 13), que apesar do grande número de estudos, muito pouco foi escrito sobre a poesia machadiana, em especial nos últimos anos. A maioria dos estudos sobre Machado de Assis dedica alguns parágrafos ou páginas a sua poesia por uma questão de integralidade, mas não trata o gênero em profundidade e os poucos artigos, ensaios e resenhas existentes estão dispersos em revistas e antologias.
 
Dentre os ensaios relacionados à poesia machadiana, destacam-se: Falsete a poesia de Machado de Assis, de Mário Curvello (1982); A poesia de Machado de Assis no século XXI: revisita, revisão, de Élide Valarini Oliver (2006), e Machado de Assis e o cânone poético, de Francine Weiss Ricieri (2008). Ao primeiro, deve-se o mérito pelo pioneirismo nos estudos sobre o processo de composição das Poesias completas. O ensaio de Oliver, um dos ensaios premiados no I Concurso Internacional Machado de Assis, promovido pelo Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores em 2006, dedica-se fundamentalmente às reminiscências textuais de escritores estrangeiros na poesia de Machado de Assis. Por último, o texto de Ricieri situa a poesia machadiana e identifica o seu lugar no cânone literário brasileiro. Nessa direção, cumpre ressaltar a correspondência entre os ensaios de Oliver e de Ricieri, na medida em que ambos teorizam um topos obsessivo entre os estudiosos da área: o caso das influências. O primeiro aborda a influência da literatura estrangeira nos versos machadianos e o segundo, a influência da poesia de Machado de Assis na consolidação do cânone poético nacional. Salienta Fabiana Gonçalves (2014, p. 14) que, pouco exploradas, essas questões aguardam olhares atentos.

Textos de Machado de Assis descobertos recentemente

Um dos primeiros textos de Machado de Assis publicados em jornal, quando contava 17 anos, passou quase 160 anos despercebido pelos inúmeros pesquisadores que já se debruçaram sobre vida e obra do autor. Trata-se de um poema de 76 versos distribuídos em nove estrofes irregulares, que circulou em 9 de setembro de 1856, sob o patriótico título de O Grito do Ipiranga e com a assinatura Joaquim Maria Machado de Assis, no jornal carioca Correio Mercantil, um dos mais importantes da época. Assim como outros escritos do adolescente Machado, não é um poema que se destaque pela qualidade literária, mas trata-se de um ponto fora da curva do que se conhecia da biografia do autor (COZER, 2015).

 

Depois da descoberta do poema O Grito do Ipiranga, pelo professor Wilton Marques, em 2015, apresenta-se outra descoberta dos escritos de Machado de Assis: uma crônica em que o escritor chora a perda da mãe, Maria Leopoldina. O pesquisador independente Felipe Rissato é o responsável pela descoberta, e esta será divulgada na próxima edição da Revista Brasileira. O texto de Machado é anônimo e foi publicado na segunda edição da Revista Luso-brasileira, em 1860, com o título Lembranças de Minha Mãe. Felipe Rissato disse à Folha de São Paulo que para ter certeza da veracidade de autoria do texto “cruzou as referências”; pois Machado de Assis aparece no expediente da revista, e com o fato de já ter escrito outros poemas sobre o tema, quatro meses antes, o escritor também publicou Odisseia dos Vinte Anos, uma peça no jornal A Marmota, a qual contava ter perdido a mãe aos nove anos, informação essa também descrita no achado. O paranaense Felipe Rissato ainda descobriu mais quatro poemas e uma crítica literária de Machado de Assis, que estão no número 5 da Revista Livro (USP), lançada no dia 29 de junho de 2016. Mas, essa não é a única novidade, porque Rissato encontrou um quinto poema, que aparecerá na edição de número 87 da Revista Brasileira (CRÔNICA..., 2016).
 

 
OBRAS DE MACHADO DE ASSIS

Comédia

Desencantos, 1861
Tu, só tu, puro amor, 1881


Poesia

Crisálidas, 1864
Falenas, 1870
Americanas, 1875
Poesias completas, 1901


Romance

Ressurreição, 1872
A mão e a luva, 1874
Helena, 1876
Iaiá Garcia, 1878
Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881
Quincas Borba, 1891
Dom Casmurro, 1899
Esaú Jacó, 1904
Memorial de Aires, 1908


Conto

Contos Fluminenses, 1870
Histórias da meia-noite, 1873
Papéis avulsos, 1882
Histórias sem data, 1884
Várias histórias, 1896
Páginas recolhidas, 1899
Relíquias de casa velha, 1906


Teatro

Queda que as mulheres têm para os tolos, 1861
Desencantos, 1861
Hoje avental, amanhã luva, 1861
O caminho da porta, 1862
O protocolo, 1862
Quase ministro, 1863
Os deuses de casaca, 1865
Tu, só tu, puro amor, 1881


Algumas obras póstumas

Crítica, 1910
Teatro coligido, 1910
Outras relíquias, 1921
Correspondência, 1932
A semana, 1914/1937
Páginas escolhidas, 1921
Novas relíquias, 1932
Crônicas, 1937
Contos Fluminenses - 2º volume, 1937
Crítica literária, 1937
Crítica teatral, 1937
Histórias românticas, 1937
Páginas esquecidas, 1939
Casa velha, 1944
Diálogos e reflexões de um relojoeiro, 1956
Crônicas de Lélio, 1958
Conto de escola, 2002


Antologias

Obras completas (31 volumes), 1936
Contos e crônicas, 1958
Contos esparsos, 1966
Contos: Uma Antologia (2 volumes), 1998

 

Referências

ASSIS, Machado de. Poesias completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1976. 520 p. (Edições críticas de obras de Machado de Assis, v. 7).
 
BANDEIRA, M. Machado de Assis poeta. In: Obra crítica. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1962.
 

COZER, Raquel. Poema desconhecido que Machado de Assis escreveu aos 17 anos é descoberto. Folha de São Paulo: um jornal a serviço do Brasil, São Paulo. Publicado em: 14 mar. 2015. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/03/1602428-poema-desconhecido-que-machado-de-assis-escreveu-aos-17-anos-e-descoberto.shtml?cmpid="facefolha". Acesso em: 24 jul. 2016.
 
CRÔNICA inédita de Machado de Assis. Letróloga: um espaço sobre a área de letras, [s. l.]. Publicado em: 25 jun. 2016. Disponível em: http://www.letrologa.com.br/cronica-inedita-machado-de-assis. Acesso em: 14 jul. 2016.

GONÇALVES, Fabiana. De poeta a editor de poesia: a trajetória de Machado de Assis para a formação de suas Poesias Completas. 2014. 177 f. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras de Assis, 2014. Disponível em: http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/115573/000809950.pdf. Acesso em: 23 jul. 2016.
 
ISHIMATSU, L. C. The poetry of Machado de Assis. Valencia-Chapel Hill: Albatros Ediciones/Hispanofila, 1984. 150 p.
 

MACHADO DE ASSIS: obra completa. Cronologia. Machado.mec, [s. l.]. Disponível em: http://machado.mec.gov.br/cronologia-mainmenu-121. Acesso em: 24 jul. 2016.
 
MACHADO DE ASSIS. Sua Pesquisa, [s. l.]. Disponível em: http://www.suapesquisa.com/machadodeassis. Acesso em: 23 jul. 2016.
 
MACHADO, Ubiratan. Bibliografia Machadiana 1959-2003. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo (EDUSP), 2005. 266 p.
 

NOGUEIRA JR., Arnaldo. Machado de Assis. Projeto Releituras. Releituras, Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.releituras.com/machadodeassis_bio.asp. Acesso em: 5 jun. 2016.
 
OBRA DE MACHADO DE ASSIS. Verbete. Wikipédia: a enciclopédia livre, [s. l.]. Acesso em: 23 jul. 2016. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Obra_de_Machado_de_Assis. Acesso em: 5 jun. 2016.
 
REIS, Rutzkaya Queiroz dos (Org.). A poesia completa de Machado de Assis. São Paulo: EdUSP: Nankin, 2009. v. 1. 752 p.
 

SANDMANN, Marcelo. Presença camoniana na poesia de Machado de Assis: Crisálidas (1864), Falenas (1870) e Americanas (1875). Crítica Cultural, São Paulo, v. 3, n. 1, jan./jun. 2008. Disponível em: http://linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/critica-cultural/0301/04.htm. Acesso em: 23 jul. 2016.
 
SOUSA, José Galante de. Bibliografia de Machado de Assis. Rio de Janeiro: INL, 1955.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 5 de junho de 2016 - 4h26
Ampliado em 23-24 de julho de 2016 - 7h41
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 24/07/2016
Reeditado em 24/07/2016
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