Esconderijo linguístico.
Sentia o desejo de acatar suas necessidades.
Seus dedos eram quase colados naquelas teclas que traduziam virtualmente o que o sistema límbico confuso queria cuspir.
Sempre na prolixidade quase promíscua.
Sim, não está errado o emprego dessa palavra.
Por trás de toda aquela redundância estavam emoções que precisavam ser consertadas.
Mas ela tinha medo de admitir que mascarava a conjugação dos verbos para facilitar o escoar das tensões individuais.
Até quando iria se esconder atrás de suas palavras complexas desejosas de exprimir tudo...e muitas vezes não diziam nada?
A mente hiperativa circundava um vazio sem motivos de tanta seriedade e angústia.
Talvez ela dramatizasse a vida com a esperança de torná-la mais atraente.
Ou criasse um mundo seguro, distante de suas dúvidas do presente.
Teriam cura tais sintomas?
A distância de todos talvez fosse um tratamento adequado.
E ela também sabia que tentava se enganar com isso.
Ajuda.
Sim.
A cura também potencializava seu transtorno de ansiedade.
Talvez ela não devesse amar tanto.
Doar-se tanto.
Ou estaria se vangloriando por características não-suas?
Tudo era névoa com cheiro de mágoas sem sentido, rostos desconhecidos e traumas não curados.
Medicamentos não eram soberanos de soluções.
Os outros seriam?
Ela se fazia de forte e aparentava dominar sua vida e suas responsabilidades.
Mas quem tivesse nascido com apenas um fio de sensibilidade percebia que sua máscara já não servia.
O mundo a escapava e o equilíbrio não estava cumprindo seu dever.
"Quem é ela? Quem é ela? Eu vejo tudo enquadrado. Remoto controle..." (A. Calcanhoto)