MARLUS SUHET
Memória fotográfica


   Saudosista, mas ciente da importância de se planejar o futuro. Experiente, mas com um olhar de menino sobre as coisas, pronto para embarcar em mais uma aventura do conhecimento, como fazia seu ídolo Jacques Cousteau. Um viajante, que fez da fotografia uma parceira de viagens, mas que sempre teve em Itaboraí, mais do que seu berço, sua casa – um lar. Essas são algumas das definições possíveis para Marlus Suhet, que há vinte anos encabeçou o mais importante projeto de resgate do patrimônio histórico de Itaboraí através da fotografia – a exposição “Instantâneos do Passado”.
   Hoje com quarenta anos, casado, pai de dois filhos, funcionário público federal, Marlus Suhet ainda mantém vivas em seu dia-a-dia as duas paixões que conseguiu reunir com os “Instantâneos do Passado”: a cidade de Itaboraí e a fotografia. Nos álbuns de viagens, com fotos capturadas nos mais diversos pontos do país, belezas incontáveis e paisagens realmente inesquecíveis. Mas é nas fotos de sua cidade natal que Marlus confessa estar a verdadeira “emoção”. A transformação do acervo da exposição em livro, em 2009 – que já teve inclusive uma segunda edição, em 2011 – deu ao projeto a permanência que sua relevância histórica pedia.
   E por muito pouco Marlus Suhet não seguiu a fotografia como profissão. Na época em que teve a idéia de realizar uma viagem fotográfica pela História de Itaboraí, Marlus fazia um curso de fotografia no SENAC. O sucesso da exposição, um trabalho feito em parceria com Ronaldo Soares e Márcio Soares, seria um ótimo ponto de partida para uma carreira de sucesso na área. No entanto, ele estava iniciando outro empreendimento marcante no mesmo período: a Locadora Suhet’s Vídeo, em Venda das Pedras, em sociedade com o irmão, que inovou no atendimento ao público, nas ações de marketing e na qualidade dos filmes que oferecia. Assim, tornou-se empresário enquanto cursava faculdade.
   Venda das Pedras é um capítulo à parte na vida de Marlus Suhet. Nascido e criado no bairro, o neto de D. Ceda (Mercedes Marins Coutinho, hoje com 96 anos, a mais antiga moradora do bairro, que foi proprietária de uma pensão que marcou época no bairro) tem especial preocupação com as mudanças drásticas que Venda das Pedras sofreu nas últimas décadas. Primeiro, a decadência, a diminuição dos investimentos públicos, o fim do trem, da quadra de esportes, das brincadeiras na rua; agora, a chegada do Comperj, trazendo novos investimentos e moradores para um local cuja infraestrutura está defasada há várias décadas. “Parece que ninguém atentou para os efeitos que essas mudanças podem ter no bairro”, alerta Marlus.
   Ele se preocupa não apenas com Venda das Pedras, mas com a cidade como um todo, e afirma que algumas mudanças urgentes são necessárias: desafogar o trânsito, com a criação de ciclovias e melhorias no transporte coletivo, a vinda do metrô até Venda das Pedras – “o certo mesmo era aproveitar a linha que existe e está em bom estado, levando o metrô até Rio Bonito”, comenta – e os investimentos na formação dos itaboraienses para conquistarem os empregos que estão surgindo. “A cidade está se transformando, mas sinto que quem vive aqui há mais tempo, na sua maioria, não está sendo incluído, nem está sendo ouvido”, diz.
   O fato é que, como fotógrafo, Marlus Suhet tem um olhar diferenciado sobre as pessoas e paisagens. Gosta de contar “causos” de suas viagens, como o tour que fez com amigos de motoclube para os festejos dos 500 anos do Brasil, suas viagens na Amazônia, em Santa Catarina, pelo Nordeste. Destaca sempre a importância de outro grande evento em que esteve presente: a Eco Rio 92, e garante: vai estar também na Rio+20. Mas é quando Marlus lembra dos “causos” da Itaboraí onde viveu sua infância e adolescência que ele demonstra que sua verdadeira viagem estava sempre aqui mesmo.

 

(Parte da coletânea ITABORAÍ, TANGUÁ E REGIÃO (2), em produção, de William Mendonça. Direitos reservados.)

 

INFO: Publicado no jornal O VERBO, edição nº 7, de 01/06/2012.