Edward - Um cigano do mar
No Outono, onde a natureza prepara-se para a renovação, os pássaros compõem suas melhores melodias no intuito de conquistar suas fêmeas, e o Sol, embora mais fraco, irradia a Luz alertando os seres humanos que mais um dia se anuncia no firmamento.
Entre tecidos e almofadas nasce uma criança, seus pulmões se abrem no grito sublime da vida, enchendo os pulmões de oxigênio e anunciando a chegada de mais um cigano, entre as tendas do acampamento.
Ninguém sorri, ninguém grita urros de felicidade... a somente o pesar.Sua mãe jovem ainda, acaba de subir ao firmamento deixando apenas Edward , o pequeno rebento que o pai carrega pesaroso.
Acesa a fogueira onde levaria o corpo da jovem mãe ao pó, o pai carrega em seus braços a esposa querida, envolta em tecido de puro cetim, as lágrimas em abundância, encobriam o semblante cujo sorriso havia desaparecido.
Seguem-se dias de tristeza, Edward vai crescendo, criança traquina e querida pelo acampamento, porém seu pai, cada vez mais definha de saudades da esposa, inconformado com a nova situação, se entrega ao vício da bebida, passando suas noites com o gosto permanente do vinho na boca. Tudo faz lembrar a esposa, as festas não tem as mesmas cores, o som dos violinos não ressoa a alegria em seu coração.
Certa vez acamparam os ciganos, próximo a um porto, fariam alguns concertos nas embarcações, garantindo algum dinheiro enquanto as mulheres faziam a leitura da Buena Dicha pela cidade.
Um dia sem muito pensar, seu pai decide deixar o acampamento, talvez o mar pudesse apagar a tristeza do seu coração. O apito da embarcação soava enquanto ele puxava pelas mãos Edward que relutando se negava a segui-lo rumo ao gigante navio.
Seu pai abandonará a tudo, sua carroça, seus pertences, sem despedidas, sem explicações somente um aceno de mãos do alto do cais, com o filho em prantos, sem entender a situação, pois contava com somente seis anos de idade.
Mas o balanço das águas não aliviou a dor do coração de seu pai, nem tão pouco, afastaram-no da bebida constante.
Edward cresce no mar, entre homens amargurados, contudo, seu espírito livre, não se contagia por tal energia, ele é a fonte de luz na escuridão, o porto seguro na tempestade.
Seu pai segue a outros planos precocemente, vítima de cirrose hepática, ao contrário de sua mãe, o fogo não irá levá-lo ao pó, mas a água irá devorá-lo implacavelmente.
Edward tem o caráter dominador, a mente aberta a ponto de ganhar o respeito dos demais e tornar-se comandante do Navio.
Todas as noites imagina pisar novamente em seu acampamento, mas não faz idéia do paradeiro dos seus, por onde começar sua busca. Decide permanecer no mar, com a certeza plena de encontrar os seus em outra dimensão, num mundo em que todos partilhem da mesma senda, no caminho de Jesus.
Minha vida...
Ando sobre madeiras
Alinhadas no chão onde piso
Aqui não temos fogueiras
Mas ecoa pelos ares meu grito
Alguns que aqui se encontram
São fortes e sisudos
O sorriso quase não praticam
Pois a vida só os deu infortúnio
Eu não, sou diferente
Quando no furacão o barco tomba
Meu pensamento viaja até minha gente
E a morte não me assombra
Eles não, pobres coitados
A maioria são ladrões
Fugitivos e procurados
Na hora do medo não têm
Momentos felizes para serem lembrados
Quando estou sozinho vou para o cais
Olhar para o mar infinito
Lágrimas dos meus olhos caem
E pensamentos de otimismo em mim infiltro
Muitas milhas estou longe de casa
Por que estou aqui? A vida quis assim
E ela tem sido amarga
Por que meu povo esta longe de mim
Sou capitão desta embarcação
Comandante desta tropa
Constituída por ladrões que a alma já é morta
Vou seguindo assim
Pois essa é minha condição
Esperanças tenho em mim
De voltar para a terra do meu coração!
EDWARD IV
Poesia psicografada por Jade Camargo, pelo espírito de Edward IV