Marco Paulo Rabello, o principal construtor de Brasília, morre esquecido pela mídia
É impressionante como a vida é efêmera, como os acontecimentos podem ser efêmeros, como o que foi importante no passado pode passar despercebido anos ou décadas depois.
Este tipo de constatação é frequente, é lugar comum, mas não há como evitar, nem como não se impressionar.
Os exemplos são corriqueiros.
O mais recente, motivador desta análise, foi a morte do engenheiro e empreiteiro Marco Paulo Rabello, ocorrida em 07/06/2010, aos 92 anos.
Passou quase despercebida, um amplo contraste com a sua importância no revolucionário governo de Juscelino Kubitschek.
Como a informação foi pouco divulgada e logo esquecida, só a descobri acidentalmente quando me lembrei de lançar o nome dele no buscador Google, já em agosto.
Aparentemente, a primeira notícia publicada foi uma nota da seção de obituários da Folha de São Paulo (para acessá-la, digite ou copie este link: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1206201022.htm).
Ele foi o construtor de Brasília, se não o único, pelo menos o principal.
Poucos anos depois foi o pivô, o pretexto para a cassação dos direitos políticos de JK: segundo matéria da revista Isto É/Dinheiro, o ex-presidente “foi cassado em 1964 sob a suspeita de favorecer empreiteiras na construção de Brasília – especialmente a construtora do empresário Marco Paulo Rabello, de uma família de Diamantina, Minas Gerais, assim como JK”.
O blog do engenheiro J. C. Jovine (que afirma ter trabalhado com ele por 43 anos), fonte do obituário da Folha, conta a história da aproximação entre Marco Paulo e JK: “Começou sua carreira como engenheiro, no início da década de 1940, quando Juscelino Kubitschek de Oliveira, com 38 anos de idade, foi nomeado prefeito de Belo Horizonte pelo então governador Benedito Valadares, e decidiu realizar o Conjunto Arquitetônico da Pampulha. Para projetar esta obra convocou o jovem arquiteto Oscar Niemeyer, com 33 anos, e Eng° Marco Paulo Rabello, com apenas 22 anos, que trabalhava na construtora do seu tio Ajax Rabello.”.
A partir daí tornou-se o tocador de obras de Juscelino; o jornalista Samuel Wainer, no livro “Minha Razão de Viver” (que foi a sua autobiografia de fim de vida), falou sobre a ligação de ambos na construção de Brasília: “Um dos principais beneficiários desse período foi Marco Paulo Rabello, de quem se dizia, sem provas concretas, que era sócio de JK. O presidente entregou a tarefa de construir Brasília a Rabello, que pôde distribuir entre outras empresas as obras de cuja execução não poderia encarregar-se.”.
A história de Marco Paulo me interessa especialmente porque foi a Rabello que construiu o Hipódromo Serra Verde, em Belo Horizonte, onde atuei e trabalhei em várias atividades, da inauguração até o fechamento.
Nas pesquisas turfísticas descobri duas semelhanças do hipódromo com as obras de Pampulha e Brasília: a origem política e a subcontratação de empreiteiras.
O elo e chefe político desta vez não foi JK, mas um dos seus maiores aliados, José Maria Alkmim, vice-presidente do país de 1964 a 1967.
Como o Brasil é estranho: Alkmim era aliado histórico de JK, mesmo assim foi o vice-presidente do governo que lhe cassou o mandato político; nem por isso se incompatibilizaram.
Concluí que Alkmim, quando deixou o governo, em 1967, escolheu o turfe como sua próxima atividade pois as corridas de cavalo ainda tinham muito charme e popularidade; foi facilmente aceito como presidente do Jockey Club de Minas Gerais, mas o hipódromo estava fechado e não passava de uma construção rústica, precária e inacabada.
Depois de uma tentativa fracassada com uma construtora que quebrou, Alkmim acionou as ligações políticas de seu grupo com a Construtora Rabello e conseguiu que esta realizasse a obra, inaugurada em 17 de maio de 1970 com grande pompa e presença de público.
Não fosse Alkmim, e seus vínculos com Marco Paulo, dificilmente o hipódromo teria sido construído, pois a associação/sociedade estava endividada e desacreditada, trazendo em seu histórico os fracassos do Prado Mineiro e do primeiro Serra Verde.
Seria exagero dizer que este foi um subproduto da política?
No mínimo, entendo que não foi uma negociação empresarial comum, com previsão de custos e de lucros, pois estes últimos dependiam da venda de títulos para novos sócios e nada indica que esta tenha ocorrido com a eficiência necessária.
Provavelmente a Rabello perdeu bastante dinheiro nesta empreitada, mas nas grandes negociações entre construtores e governo o que vale é o global, a soma de todos os empreendimentos.
[agosto de 2010]