UMA VIDA DE PAIXÃO
Uma Vida de Paixão
NASCI ARTISTA?
(Trecho de Já perdoei erros imperdoáveis de Charles Chaplin)
"Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.
Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar,
mas também decepcionei alguém.
Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
amei e fui amado, mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.
Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
"quebrei a cara muitas vezes"!
Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
Já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).
Mas vivi, e ainda vivo! Não passo pela vida…”
Escolhi esse poema para iniciar, por que é assim que me sinto, depois de 20 anos, me questionando e buscando me conhecer um pouco mais a casa dia.
Sempre fui uma criança questionadora e apaixonada pelo conhecimento. Comecei a estudar por opção e ansiedade. Acordava a minha mãe pra me levar a escola, e adorava estar lá, no meio daquelas pessoas, tão estranhas a mim, já que eu me sentia tão diferente. Odiava as férias, por que era um período de afastamento, e isso me fazia sofrer, porque adiava meu eterno aprendizado: conhecer as pessoas!
Sim! Esse sempre foi o meu maior desafio. Entender o que pensam, como agem e por quê.
“Porquê?” – Até hoje me questionam por causa dos meu “porquês”. Você pergunta demais, Dallva!
E continuo me perguntando: “Por quê estou aqui? Pra quê? Pra quem? Qual a minha missão, afinal?”
E assim, me questionando, me entendendo, me cobrando, sonhando, realizando, quebrando a cara, chorando, sorrindo, sofrendo, aprendendo... Chego aos meus 27 anos: Uma vida de Paixão!
Apaixonada pelas pessoas, como já disse. Apaixonada por poemas, músicas, arte...
Os estudos nunca fizeram sentido pra mim, a não ser que eu senti necessidade de aprender o que me ofertavam, o que o sistema de ensino das escolas públicas me ofertava. E era pouco, pensava.
Onde buscar mais informação, onde descobrir o que me faltava. Bibliotecas por muito tempo eram o meu maior refúgio, já que a música que eu já amava, era difícil de encontrar. “E como mostrar e expor os meus pensamentos? Vão me achar estranha, diferente.”
Assim, vivi dez anos de minha vida, sufocada com tantos anseios, dúvidas e medos, de abrir a boca e gritar, que eu era diferente sim, mas que queria e ainda quero se feliz assim.
Já no segundo grau, cursando o 2º ano do ensino médio, conheci uma turma de amigos, seguidores de um professor de arte, um ator. E fui descobrindo que com eles eu podia falar, pois sentia que eles me escutavam e achavam importante o que eu pensava. E fui percebendo que demora um pouco pra gente se achar mesmo. As pessoas precisam crescer um pouco pra entender e se encorajar pra algumas fases da vida e parecia que essa era a minha hora e eu sentia desesperadamente, uma vontade louca de fazer tudo o que antes não conseguia, por esses motivos que já citei.
E apaixonei novamente, agora pelo TEATRO.
TEATRO: ETERNA PAIXÃO
Foi um começo difícil. Me sentia confusa. Ainda tinha medo, mas sentia que era questão de tempo. Afinal, toda mudança dói, não é?
É preciso sentir a mudança lá dentro...
“Mudar é um ato de coragem
É a aceitação plena e consciente do desafio.
É trabalho árduo, para hoje!
É trabalho duro, para agora!
E os frutos só virão amanhã, quem sabe, tão distante...
Mas quando temos a certeza de estarmos no rumo certo, a caminhada é tranqüila.
E quando temos fé e firmeza de propósitos, é fácil suportar as dificuldades do dia-a-dia.
A caminhada é longa.
Muitos ficarão à margem. Outros vão retirar-se da estrada.
É assim mesmo.
Contudo, os que ficarem, chegarão, com certeza.
Olhe bem a seu lado. Estão com você pessoas que participam da mesma caminhada. Elas exercem o mesmo papel que você dentro da sociedade. Eles também têm problemas e dificuldades como você.
E têm dúvidas sobre a mudança.
Você poderá mostrar-lhes o que você sente e pensa a respeito das mudanças da vida e nas pessoas.
Não feche a janela em que você está debruçado. Convide seu amigo para estar a seu lado para que vocês possam ter a mesma perspectiva.
Tenho certeza que, se assim procedermos, dentro de algum tempo estaremos convecidos de que não é tão difícil mudar...”
(Antônio Ferreira de Andrade, do livro Anjos Guardiães e Cabalísticos, de Ângela Druzian)
E mais um poema que resume tudo o que eu poderia contar.
E são mais dez anos nessa estrada. Repleta de altos e baixos, pedras.
Às vezes pensamos que avistamos ao horizonte, a linha de chegada. “Graças a Deus, chegamos! É aqui” Mas, de repente, percebemos que a linha do horizonte, parece mesmo uma linha reta, mas não é. E ela nos leva sempre, a caminhos cada vez mais distantes, e a caminhada é longa e não termina.
Segui o meu curso. Fiz o que podia! E o que não podia também! Tudo!
TEATRO: INESQUECÍVEL E VITAL TRAJETÓRIA
Comecei a estudar teatro em 1999. O meu 1º grupo estreou em 2000. Se chamava Pingo D’Arte. Ajudei a escolher o nome, que seguia esse sentido mesmo de: Somos um pinguinho dessa imensidão, dessa arte maravilhosa, envolvente, instigante: o teatro.
Começaram os cursos, as montagens (os sonhos de montagens!), a formação do grupo. A parte mais difícil. A tarefa mais árdua. A que requeria maturidade, tolerância, respeito, diplomacia, paciência! E eu sabia que não tinha um terço de todas essas coisas fundamentais, pra uma convivência diária, com pessoas totalmente diferentes, mas, com o mesmo objetivo. Tudo bem! Alguns só queriam aparecer, mas percebiam rápido, que ali não podiam ficar.
A gente sonhava alto demais, a gente tinha ânsia de crescer, de aprender, de construir. E, como é bom falar “a gente”! Nessa fase, eu já não me sentia tão só. Tinha o “a gente”. Estavam comigo, ao meu lado, pessoas maravilhosas. Teimosas na sua maioria, mas eu também era. Talvez, não sonhassem tanto quanto eu. Mas, eu estava ali pra fazê-las florescer também, e se conhecerem, como eu me propusera.
E através desses estudos e já mergulhada total na área teatral, continuei me apaixonando. Agora, por cordel, músicas regionais, por histórias que tocassem as outras pessoas, já que eu, me sentia perdidamente envolvida.
E o meu ponto de partida, escolhido por mim, não por imposição, foi estudar Patativa do Assaré. Como era forte aquele homem, meu Deus! Como ele me dava todas as respostas...
E comecei a escrever meus roteiros através dele. Lendo Patativa. E foram muitos os personagens criados, nascidos dos sonhos que brotavam em mim, após ler e reler aquelas histórias que o meu velho contava. E que tive o prazer imenso de escutá-las de perto, quando por presente de Deus, visitei ele, em sua cidade, Assaré. Nem sonhava que aquela seria muita única oportunidade, já que ele morrera um ano depois.
Agradeço a Deus por esse legado. Patativa, que me deixou de herança, toda a sua história, que me ajudou a sonhar e realizar. Que me fez apaixonar!
Montei meu primeiro grande espetáculo, três anos depois. Era infantil. Motivo de crítica de muitos. Mas, eles confiaram em mim. E a força de vontade era tão grande!Me emocionei muito com esse trabalho. Produzi com todo cuidado e carinho. Cada detalhe era importante. Mas, o mais importante e o que mais me angustiava era pensar se as crianças iam gostar. Nossa! Elas olhavam pra mim, como se eu fosse mesmo uma princesa. E acreditavam no que eu dizia, com uma ingenuidade perene. E nos envolviam com seus rostinhos, seus sorrisos, seu carinho. E, não tive como: me apaixonei de novo!
Crianças! Nunca pensei. Eu sempre tive pavor de decepcionar. E na minha visão, elas eram tão especiais, tão inatingíveis, que eu tinha medo mesmo. Até descobri que podia também aprender com elas. E mais, que eu também podia ensinar.
ARTE-EDUCAÇÃO: MINHA VIDA AGORA
Não fiz faculdade de artes cênicas. Meu município e minhas condições financeiras me impediam. O medo de decepcionar me perseguia. Agora por querer provar aos pais, que eu podia ser alguém, que podia andar com as próprias pernas, cuidar da minha vida, cuidar deles.
Acabei estudando e me formando na área tecnológica. Nunca me conformei, mas já sabia enfrentar os desafios sem choro. Firme, assumi o papel de profissional da panificação. Três anos gerenciando confeitaria, padaria... E me matando. Um pouco a cada dia.
Mas, Deus nos reserva surpresas. É por isso que sou apaixonada pela vida. Por que estou sempre me surpreendendo. E em 2006, voltei pra casa. Pra minha vida. Pros meus projetos. Para o teatro. E em 2007, ingressei na arte-educação.
Pense na agonia! Nossa!
Fui começando aos poucos, com medo de gaguejar, de me perder. De não saber o que fazer. Mas, foi tudo dando certo. E, como Deus é maravilhoso! O desafio é sempre maior do que imaginamos e, a nossa força brota maior, a cada sonho novo que aparece.
No 1º ano, consegui, com ajuda de facilitadores que formei, montar 22 grupos de teatro dentro das escolas públicas de meu município. Foi inacreditável! E aquelas crianças... Tiveram a oportunidade, que eu poderia ter tido quando estava na idade delas. Aprendi sozinha, que nossos sonhos são eternos. E que um dia, a recompensa pela persistência chega.
Elas estavam felizes com o trabalho. E queriam mais.
No 2º ano, fui me envolvendo mais e mais. E outros projetos apareceram. Novas oportunidades. E haja paixão!
Meu 2º grande espetáculo estréia em 2008. E minha segunda grande paixão na literatura descobri através desse trabalho: O PEQUENO PRÍNCIPE de Antoine de Saint Exupéry. Esse livro e esse autor me mostraram e fizeram eu descobrir tudo o que eu precisava a vida toda. Todo o sentido da minha vida estava ali. E eu, não estava errada.
“A gente se torna eternamente responsável por aquilo que cativas.”
“Foi o tempo que perdeste com a tua rosa, que a fez tão importante.”
“Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.”
E o trabalho ficou incrivelmente especial. Atingimos um número muito maior de crianças, e o mais importante, atingimos os adultos, os pais, os educadores. Muitos hoje são apoiadores de nosso trabalho. E como é gratificante sentir que vale a pena!
Em 2009, os projetos só aumentaram. Aceitei mais um desafio. Ensinar teatro para 240 alunos, de 6º e 7º ano, numa faixa etária de 9 à 13 anos. Com ajuda dos meus pupilos, venho me desdobrando pra propagar tudo o que aprendi nesse tempo. Sempre com esperança e certeza de que todo o esforço vale à pena.
Aceitei essa missão e, aqui estou, de peito aberto, cara lavada e alma a cantar.
Cantando aos sete ventos, como hoje sou feliz, realizada e APAIXONADA!
Por que me encontrei. Por que tenho consciência do trabalho, tenho força pra correr atrás dos meus sonhos e tenho coragem pra lutar. E enfrento o que vier.
Teatro da minha vida
A vida não passa de uma peça de teatro
Uma peça de teatro sem guião escrito
Desde que se nasci até morrer
Sou eu que escrevo esse guião
Minuto a minuto, hora a hora, dia a dia
Sou criança
É uma peça alegre e cheia de vida
O pano sobe e desce ao sabor dos anos
Sou adolescente
Se transforma em sonhos e miragens
Com amores de desamores, alegrias e tristezas
O pano sobe e desce ao sabor dos dias
Em adulto me tornei meus sonhos tentei realizar
Alguns consegui, outros nem por isso
O guião vai somando paginas de vida
Páginas de alegria, páginas de tristeza
Momentos de desalento, momentos de esperança
Cada página um ano de vida
Até que cheguei aos dias de hoje
Poderia ter desempenhado melhor o meu papel?
Esforcei-me o suficiente para merecer esse papel?
Que guião me reserva ainda a vida?
Não sei
É impossivel saber
Apenas sei que desejo escrever ainda mais algumas páginas
Páginas onde não escreva os mesmos erros
Onde não encontre tristezas
Onde consiga mais alegrias
Onde encontre a felicidade
Onde tenha saúde
Tudo isto não passa de desejos
Pois o guião é escrito a cada minuto
Do teatro da minha vida.
E haja paixão!!!
Dallva Rodrigues, Limoeiro do Norte, 2010