" COMO COMECEI A ESCREVER..."
Corria o distante ano de 1989. As férias de inverno já se avizinhavam e minha amiga de infância e também colega de turma Andrea Rici, em um ato de admirável gentileza acaba por decidir a me emprestar um de seus mais belos brincos. Circular,prateado, com gotas de vidro a enfeitá-lo lindamente,o vistoso adorno já possui endereço certo: as bagagens que serão levadas para Serra Negra, majestosa cidade do interior paulista!
Diferentemente, da maioria quase unânime das pessoas eu me entregava prazerosamente à tarefa de arrumar as malas. Passava boa parte do dia a escolher detidamente as roupas que mais gostava, as que melhor me assentavam, revelando ainda que sutilmente os ângulos de um corpo sobejamente primaveril...
Embevecida pelo encantamento singular da fragrância inebriante do primeiro amor,caprichava flagrantemente na maquiagem e meu rosto, destarte ganhava cores mais vibrantes e provocativas...
Naquela época sequer sonhávamos com o advento destes formidáveis mecanismos de comunicação instantânea,a tecnologia de ponta restringia-se ao telefone. Mas para termos acesso ao número telefônico de alguém (sem ter que consultar para este fim a lista) era imprescindível que gozássemos de uma certa intimidade com o interlocutor, ainda que relativa.
Encontrávamo-nos eu (na companhia de meus pais Ramon Aureo e Yvonne) e meu gentil "fã" nas dependência de um dos mais festejados restaurantes de Serra Negra,sempre no horário do almoço. Nossos olhares atentos, investigativos e felizes se convergiam e às vezes um terno sorriso aflorava sorrateiro em nossos lábios pudicos.
Ele, bonitão,quase nove anos mais velho do que eu, já formado em Odontologia, clinicando com uma aura indicativa de promessa de sucesso. De outra parte, eu, exemplar estudante, adolescente, tímida,graciosa, fiel companheira das boas leituras e envolventes audições...
Necessitava, porém lançar mão de um artifício auspicioso que fosse idôneo a chamar atenção de meu garboso "paquera". Em uma das noites, daquele memorável 1989, eu então começo a escrever sobre um tema que até hoje me fascina: o poder da mente. Ao cabo de uma hora,levo a folha manuscrita a meu pai Ramon Aureo que era jornalista(já de saudosa memória) e ansiosa espero por sua apreciação.
Gentilmente ele me diz e aconselha:
_ " Está bom, minha filha, mas modifique o título. Escreva " A felicidade está na mente".
Sempre prestativo,papai datilografa meu artiguete em sua Olivetti Lettera 22, e eu no dia seguinte adentro resoluta à Redação do Jornal " O Serrano" acompanhada por minha idolatrada mãe Yvonne.
Atendidas com brandura e carinho por Angélica Piassa, aguardamos a chegada do Diretor Responsável do mencionado semanário Dr. Ennio Canhoni. Após as devidas apresentações,Dr. Ennio passa calmamente a ler meu texto e para meu indescritível júbilo autoriza sua publicação para edição do dia 15 de julho!
Mal a tarde daquele marcante sábado cai e nós já estamos na banca de jornais com o fito de adquirir alguns números de " O Serrano". Procuro avidamente por meu artigo, encontro-o e desfrutando de um momento único e de absoluta alegria abraço meus pais!
Muitos outros artigos se seguiram a este com diferentes temas e graças a este diletantismo pude travar conhecimentos com pessoas de inestimáveis bagagens culturais,irrefutáveis qualidades e ainda detentoras de almas meigas e plácidas!
Malgrado o tempo tenha se passado velozmente, a lembrança daqueles venturosos dias vividos na minha adorada " Cidade Paraíso" ainda faz meus olhos cintilarem...
Quantas saudades dos Drs Ennio e Elmer Canhoni, de Angélica Piassa, de Elisabeth Gambetta, do Capitão Néllo Dallari ("in memoriam"), Coronel H. Nogueira, ("in memoriam), Dr. Wladimir de Toledo Piza, que foi Prefeito de São Paulo, ("in memoriam) de Dr. Lauro José Amabile Corrêa (médico radiologista radicado em São José dos Campos, SP), talentoso poeta e combativo colunista!
Fico imensamente satisfeita por saber que quase todos estão em pleno gozo de suas vidas,aproveitando-as de modo profícuo e sempre atendendo aos ditames da lei, e também realizando seus misteres de forma exitosa, sempre com vistas à consecução do bem comum!
Quanto ao destinatário inicial de minhas esparsas colaborações jornalísticas,nunca chegamos efetivamente ao namoro;pois a vida cuidou de nos separar no nascedouro daquele amor plangente,romântico, feito de brisas,talhado a cinzel, trescalando a odor de rosas, mas de sabor ignorado e enigmático...