Alcoolismo "Uma luz no fim do túnel" 1 - Carta ao leitor - Introdução
Uma luz no fim do túnel !!!
Xavier T.
Edição eletrônica
São Paulo – Maio – 2001
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Carta ao leitor
Nunca imaginei que um dia poderia escrever, não gostava de escrever nem de ler, mesmo querendo nunca teria conseguido tempo para fazê-lo, porque tive uma vida muito agitada e sempre fui uma pessoa extremamente ocupada. O que me leva a fazê-lo, é simplesmente a gratidão por ser quem sou hoje graças ao meu passado alcoólico, um passado negro e sofrido que já sem esperança de vida mudou de repente após viver uma “experiência sem nome”. Sinto a necessidade de que todos saibam que há uma solução para os desequilíbrios emocionais e especificamente como aconteceu comigo, para a dependência do álcool.
Este livro nem é nem tem a pretensão de ser técnico ou profissional, espero conseguir relatar a pura verdade sobre fatos reais vividos através da dependência e do sofrimento, e mais tarde da recuperação.
Enfrentando sem opção responsabilidades de adulto, e ainda na adolescência, queimei algumas etapas da vida para atingir as metas por mim preestabelecidas. Vivi o que para muitos pode significar chegar até o topo. Viajei bastante, morei em alguns países por este mundo afora e conquistei altos cargos em grandes companhias, não foi o suficiente para mim, e para concluir minhas ambições precisava ser um empresário bem sucedido, obcecado por esta idéia também tive minhas empresas.
Após tal experiência de vida, quando tudo parecia indicar que tinha conseguido realizar meus sonhos com um certo sucesso, percebi ter chegado ao fundo do poço. Era tarde demais e me confrontei com um quadro irreversível, inconformado tentei várias alternativas, porém em vão, já não tinha mais forças e sofria até o ponto angustiante de pensar que estava ficando louco ou poderia morrer a curto prazo.
Vivemos em um mundo perturbado e sempre o será, desastres e calamidades nunca pararam até o presente momento, continuam as fronteiras que delimitam os países e pelas quais já se brigou muito, parece ter chegado a calmaria, mas as guerras tecnológicas são assunto de atualidade, tudo indica que o ser humano é movido por ideologias e sede de poder, nada mudará se não mudarmos nós mesmos.
Gostaria que esta pequena leitura desse uma visão de esperança para uma vida melhor, existe sim, a possibilidade de viver de uma maneira feliz com serenidade e sabedoria, mas a vida me mostrou que isso acontece a maioria das vezes somente quando chegamos a derrota total. Entendo que hoje vivo uma vida feliz e minha família também, em outras palavras tenho mais uma chance, uma nova vida. Hoje, ao contrário do passado não preciso mais ser o diretor do show, a verdade é que minhas prioridades e conceitos mudaram.
Valeu a pena . . . .
Introdução
Durante esses últimos anos tal qual um recém nascido tenho me interessado de um modo “real” pelo ser humano e tentado entender o que houve de errado comigo por mais de trinta anos. Sinto um alívio ao pensar que todos temos com maior ou menor intensidade certos desvios ou imperfeições que nos levam sistematicamente a algum tipo de dependência. Há aqueles em que estes dissabores estão enraizados dentro deles mesmos fazendo parte de suas próprias personalidades e que possivelmente nem saibam, o que poderia se chamar de neurose pura, e também há aqueles que de uma ou outra maneira sentem a necessidade consciente de consumir algo que possa lhes trazer de alguma forma relaxamento ou euforia conforme cada caso, de todas maneiras todos encontram conforto através de algo ou alguém (canalizando o estado emocional provocado pelos defeitos de caráter), o que determina uma dependência. Existem inúmeras maneiras de depender de algo ou de alguém, algumas delas são aquelas vistas pela sociedade como dependências graves porque progressivamente podem levar a morte prematura ou a distúrbios psíquicos irreversíveis, na medida que se consomem drogas em excesso, nocivas para a saúde, quase sempre se tenta esconder a verdade porque envergonha os que convivem com a “vítima” e também porque a maioria das pessoas não sabe que é uma doença, portanto acreditando ainda que o paciente possa ser recuperado do “vício” se costuma tratar os efeitos e não as causas, em outras palavras uma espécie de anestesia, acho inconcebível ter que viver uma vida inteira na base de tranqüilizantes. Outras dependências mais suaves são vistas com tolerância porque se acha que ser dependente do chocolate, doce ou comida não é tão grave assim, e há aqueles que não consomem absolutamente nada talvez porque não tiveram nenhuma ocasião ou motivo para experimentar, porém isso não impede que tenham distúrbios emocionais que eles próprios não vêm mas que podem ser percebidos pelos outros.
Freqüentando inúmeras reuniões, palestras, e conversando com especialistas sobre o alcoolismo, aprendi que se tratava de uma doença e que não eram eles que tinham feito tal descoberta, me disseram que assim foi divulgado pela O.M.S. (Organização Mundial da Saúde), que era progressiva, incurável e que podia levar a loucura ou a morte prematura de seu portador. Quando ouvi a palavra “doença” a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi que eles tinham toda a razão, estavam totalmente certos, porque dito por eles se fosse verdade seria mais fácil de suportar. Falavam que era uma doença total já que não se limitava ao simples fato de pessoas que bebiam até cair, era total porque abrangia tanto a parte física, como a mental e a emocional.
É por estas características que o alcoolismo é universal, pode atingir qualquer habitante de qualquer país, não discriminando cor, sexo, grau de cultura, religião, idade ou classe social.
Até o presente momento não existe nenhuma vacina ou remédio contra o alcoolismo que realmente tenha comprovado algum resultado confiável e duradouro, isso em função de suas características, porque estamos falando de algo mais complexo que a parte física pura e simplesmente. Não estou querendo menosprezar nem a classe médica nem as religiões, porque as vezes tem conseguido bons resultados e sei que muitos profissionais tem trabalhado no sentido de recuperar alcoólatras sacrificando uma boa parte do seu tempo, porém tem-se observado que quando terminado o tratamento médico e o paciente retoma sua vida normal são mínimas as chances de reintegração bem sucedida. Lá fora são quase permanentes as oportunidades que se apresentam para tomar um drinque, a aí como fica?, é justamente este primeiro gole que pode fazer com que comece tudo de novo, pois o alcoólatra não pode controlar seu modo de beber. Precisam ser reconhecidos o esforço e a contribuição que tanto a classe médica, psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e outros, assim como várias religiões têm exercido para ajudar aqueles que sofrem com a doença. São forças somatórias para o bem-estar da humanidade.
Daí a existência de grupos de auto-ajuda tais como: Alcoólicos Anônimos para os dependentes do álcool, Al-Anon para os familiares que convivem com o alcoólico, Al-Ateen para filhos de alcoólicos com idades de treze a dezenove anos, Narcóticos Anônimos para dependentes de drogas (chamadas ilícitas), Nar-Anon para familiares de dependentes de drogas, Neuróticos Anônimos para pessoas com desequilíbrios emocionais (neurose), C.C.A. Comedores Compulsivos Anônimos, F.A. Fumantes Anônimos, M.A.D.A. Mulheres que Amam Demais Anônimas, D.A.S.A. Dependentes de Amor e Sexo Anônimos, S.I.A. Sobreviventes de Incesto Anônimos, Jogadores Anônimos, estes são alguns dos grupos de auto-ajuda existentes no Brasil atualmente, existem no exterior outros grupos que tratam de outros tipos de dependência e que muito provavelmente não irão demorar muito em se formar aqui. Todos os grupos chamados de Anônimos tem se espelhado através do programa de Alcoólicos Anônimos e cuja essência são os DOZE PASSOS, valiosa ferramenta para a recuperação do dependente. Baseado na troca de experiências entre seus membros é que se consegue deter a doença mudando radicalmente de vida. Existem outras irmandades e associações voltadas para esta finalidade, que também contribuem para uma recuperação satisfatória do alcoólico. Todas elas são bem-vindas, pois apesar de terem estruturas diferentes o que realmente importa é que o alcoólatra possa ter mais uma alternativa para não morrer.
Consultei várias literaturas que me ajudaram muito para escrever o texto deste livro, a relação consta no capítulo Bibliografia no fim deste livro. As matérias contidas neste livro são exclusivamente de minha responsabilidade e representam apenas o meu pensamento pessoal que, mesmo coincidente, não deve ser considerado de A.A. ou outros como irmandades.
Todos os relatos escritos neste livro, são simplesmente a experiência vivida por mim, foram momentos difíceis e outros maravilhosos durante minha recuperação como alcoólico. Não existe nenhuma receita ou poção mágica para se recuperar do alcoolismo, cada ser humano é diferente do outro e o que serve para mim pode não servir para outro doente alcoólatra.
Quero aqui agradecer e dedicar este livro a minha esposa que foi uma peça chave para minha recuperação devido a sua compreensão e conhecimentos sobre a doença, que com um convívio feliz e duradouro possamos terminar esta segunda fase de nossas vidas, também quero agradecer aos meus dois filhos por terem me dado a oportunidade de tentar ser um “pai”, mudei muito mas ainda acho pouco, sei que isso só acontecerá lentamente mas não desanimo, amo vocês. Obrigado do fundo de meu coração a todos aqueles que hoje são meus amigos e que conheci durante estes últimos nove anos, aos que moram no Brasil, no exterior, a vocês amigos reclusos, amigos internados, vocês esposas e esposos, filhos e filhas de alcoólicos, vocês que me ajudam a tratar do meu pânico e de minhas fobias, a todos vocês que igual a mim foram atingidos por “algo” que nos tornou “diferentes”, e especialmente a você . . . . . . Henrique.