Alcoolismo "Uma luz no fim do túnel" 3 - Liberté – Egalité - Fraternité

Liberté – Egalité - Fraternité

Apresenta-se uma oportunidade única para vencer.

Basta ter coragem e vontade de chegar ao topo.

Diante o impasse para resolver a situação e as dificuldades pelas quais minha mãe passava, ela resolveu que o melhor seria mudarmos para França, pois lá já estavam meus irmãos Santiago e Daniel, alem de meus tios (Nonô, marido e dois filhos). Meu pai deficiente e doente por causa do derrame, ficava ali sentado e contrariado pois ele adorava sua cidade “Sitges”.

No segundo semestre de 1.961 mudamos para a França no subúrbio leste de Paris, exatamente na cidade de Gournay sur Marne, era lá que moravam minha tia Nonô e família, afinal minha mãe se sentiria menos sozinha perto de sua irmã caçula, naquelas alturas minha irmã Odette estava sozinha com três filhas e veio conosco. Meus tios já tinham mas o menos arrumado algo para alugarmos, era uma edícula térrea no fundo de um grande terreno, somente havia dois quartos e no meio a cozinha, o banheiro (privada) estava fora, para se lavar não era nada cômodo, precisávamos esquentar água e dar um jeito para lavar o corpo em pé numa bacia na cozinha, ou seja nenhum conforto, e um frio desgraçado porque somente havia o fogão a lenha na cozinha e deixávamos as portas dos quartos abertas para que esses quartos não estivessem muito frios. Ali morávamos meus pais meu irmão Daniel, minha irmã Odette com as três filhas pequenas e eu, para dormir era um quarto para os homens e outro para as mulheres.

Tinha estudado na Espanha ate os treze anos, não sei se o meu histórico escolar era ou não reconhecido lá na França, mas o que sim sei é que ninguém (nem meus tios nem meus irmãos) acharam que eu poderia continuar a estudar na França, e pelo visto tinha chegado minha hora de “pegar no batente” quero dizer de começar a ganhar algum ordenado para contribuir com as despesas de casa.

Após os traumas da infância vividos em Sitges, onde me senti um “afligido” sem direito a um pai e um modo de vida “normal” como tinham todos meus amigos, me encontrava de repente num outro país aonde ninguém me conhecia nem sabia das minhas aflições e problemas, lá seria mais um cidadão como os outros e com as mesmas chances, viva a “Liberté, Egalité, Fraternité”.

Não tive nenhum problema quanto à língua, pois já de criança minha mãe sempre conversou em casa em francês, as vezes brincando outras não, também na escola tinha o francês como matéria e sempre tivera muito boas notas sem fazer o mínimo esforço. Agora, seria necessário aguardar o meu aniversário em dezembro para completar quatorze anos, pois pela lei francesa era a idade mínima para trabalhar. Tinha tentado conseguir um emprego antes mas sem sucesso por causa da idade, numa concessionária Peugeot no almoxarifado e numa fabrica de doces, confesso que em ambas as tentativas durante a entrevista estava muito nervoso e frustrado por ser candidato a um cargo do tipo “operário”.

Em fevereiro de 1.962 tinha rabiscado no jornal “France soir” alguns anúncios, um deles era para trabalhar como office boy num escritório, a S.E.T.A.P. era um renomado escritório de urbanização e arquitetura cujos donos eram os três maiores arquitetos de Paris na época, entre os grandes empreendimentos estavam terminando o projeto da cidade de Abidjan na costa de marfim na áfrica. Meu tio (o marido da Nonô) que tinha um cargo executivo na diretoria de uma empresa fez questão de me acompanhar na entrevista de apresentação de modo a dar uma força e me ajudar a obter o cargo, e deu certo, no dia da entrevista foi quase somente ele quem falou, explicando a situação em casa e da importância e necessidade em eu conseguir aquele trabalho. Nos primeiros dias do mês de março de 62 começava neste meu primeiro emprego, ficava próximo ao arco do triunfo (Place de L’Etoile), na zona oeste de Paris, para chegar ao trabalho pegava um ônibus de minha casa até Paris e depois o metrô que me deixava a 50 metros do serviço, minha mãe preparava para mim todo dia a marmita para poder fazer minhas refeições no trabalho, bastava somente comprar meia baguette enquanto deixava a marmita esquentar no banho maria. Minhas atribuições eram de ir onde me mandassem para levar ou trazer documentos, passagens de avião para os arquitetos que viajavam muito, comprar cigarros para quem precisasse, ou simplesmente comprar um doce para alguma secretária. Entrosei-me muito bem com o trabalho, após alguns meses conhecia Paris e as linhas de metrô como a palma de minha mão, o pessoal gostava muito de mim. Foi nessa época que comecei a tomar gosto pelo fumo, aguardava o horário do almoço e durante o tempo que o pessoal saía para ir almoçar fora eu fazia uma blitz no escritório e pegava cigarros daqueles que por ventura tivessem esquecido seu maço de cigarros no escritório. Eram muitos desenhistas trabalhando nas pranchetas e rapidamente me interessei pelo que faziam, pois é claro que eu não iria passar toda minha vida comprando cigarros e doces para os outros . . . . tinha pressa.

Soube que na escola de “Arts et Métiers” havia cursos de desenhista, fiz a inscrição e comecei, somente fui duas ou três semanas, eram cursos noturnos gratuitos mas para mim se tornou inviável continuar por causa dos horários porque morava no subúrbio. Mesmo assim, no trabalho, durante o horário do almoço aproveitava para treinar em alguma prancheta vazia, inicialmente calcava (copiava), ou seja, fixava um desenho original na prancheta e por cima punha um papel vegetal, daí calcava por cima reproduzindo o desenho. Em poucos meses eu achava que já sabia desenhar, e tinha outros colegas mais antigos que também desejavam uma promoção para desenhista, como que não tinha paciência para ficar esperando na fila, achei que deveria procurar uma oportunidade em outra empresa me candidatando de cara como desenhista.

No mesmo bairro, perto do meu primeiro emprego surgiu uma vaga para desenhista numa das maiores empresas de instalações hidráulicas, desta vez fui na entrevista sozinho e marcamos num sábado de manhã para fazer o teste de admissão, desta maneira se não passasse pelo teste não perderia o emprego onde trabalhava. Passei muito bem no teste, não sei se era pela qualidade do teste ou se o empregador percebia que estava com muita garra para subir na vida, resultado, fui admitido imediatamente. Nesse novo emprego eu era o único desenhista e como havia bastante trabalho aprendi rapidamente a desenhar. Com o passar do tempo estava curioso em saber como se faziam os cálculos das tubulações que eu desenhava, seguindo o mesmo procedimento do meu primeiro emprego durante o horário do almoço lia os livros técnicos e sempre havia por perto um engenheiro que me explicava com detalhes o “como fazer os cálculos”. Eu brincava com todos os funcionários, eu era o mais novo da empresa e tudo indica que eles gostavam muito de mim, ninguém sabia sobre meus assuntos pessoais e meu passado, mas meu dinamismo e persistência no trabalho agradavam a todos. Um dia havia uma greve do metrô mas os ônibus funcionavam normalmente, não tive problema para ir de minha casa até Paris de ônibus, mas depois percebi que o metrô não funcionava mesmo, fui andando e atravessei Paris da zona leste até a zona oeste onde trabalhava, demorei umas duas horas a pé mas cheguei ao trabalho, os diretores não acreditavam mesmo e, minha reputação neste dia foi la em cima, foi bom para mim. O almoço de confraternização de fim de ano, foi feito num dos melhores restaurantes do XVI distrito de Paris perto do trabalho, era no famoso restaurante “Le Berlioz”, como caçula da empresa virei atração todos brincaram comigo, um garçom passou com uma bandeja de prata oferecendo cigarros a charutos avulso, enfiei as mãos e ia botando no meu bolso incentivado a fazê-lo pelos colegas mais antigos, acho que estoquei cigarros para mas de um mês. Neste almoço se a memória não me falha tomei o meu primeiro porre de minha vida, pois por se tratar de um banquete com cada um dos pratos era servido o vinho adequado e, haja mistura até chegar ao licor, voltei como pode até casa mas lembro que estava completamente tonto e minha mãe percebeu.

Um dia, saindo do serviço no fim do expediente ia pegar o metrô para voltar para casa, havia um camelô vendendo seus truques de magia, era o “Renelys”, fazia demonstrações com muita habilidade, me chamou muito a atenção e me interessei no assunto, alem do mais no trabalho havia um colega que era prestidigitador daí fiquei realmente contagiado, comecei a sonhar que poderia estar um dia fazendo um show onde sozinho iria intrigar os espectadores curiosos para conhecer meus truques, e desta vez eu dominaria a situação, não iria mais ser aquele “mais um” e me destacaria entre multidões, poderia ser alguém famoso. Além dos meus empregos comecei a engrenar nesta direção da prestidigitação, comprei bastante material, livros e pratiquei bastante na manipulação de cartas, lenços e muitas coisas mais, também me inscrevi em associações, levava o assunto muito a serio.

Fiquei neste emprego um ano e meio, meu irmão Daniel tinha resolvido retornar a Sitges por causa da Maribel sua ex-namorada que nunca tinha conseguido tirar da cabeça, por este motivo minha mãe resolveu que poderíamos voltar a Espanha. Lá vamos nós mais uma vez, ficamos de favor em casa de minha tia Josefina durante algumas poucas semanas até que houve novamente desentendimento entre minha mãe e a Josefina. Durante esta curta estadia continuava treinando as minhas mágicas, havia em Sitges um teatro desativado, tomei a iniciativa de conversar com a diretoria da associação para pedir autorização para fazer um show um domingo a tarde, a resposta foi afirmativa, fiz contato com um amigo que tocava o piano e planejamos o roteiro das musicas que ele tocaria durante minha apresentação. A associação de sua parte colocou um cartaz na praça principal de Sitges anunciando o evento para o domingo a tarde, eles colocaram o nome artístico que eu lhes dera, o grande “Xavier Magicus” que tinha feito muito sucesso em Paris (era tudo mentira). No dia do show o teatro estava quase lotado pois haveria uma trezentas pessoas, era gratuito e podia assistir quem quisesse, o espetáculo foi um sucesso e agradou a todos, nos dias após o evento era cumprimentado por todos na cidade, era o que eu mais queria, em outras palavras reverter a situação da infância quando totalmente impotente pela desgraça do derrame do meu pai. Meu orgulho falava mais alto querendo mostrar que eu era alguém importante e viajado, nessas alturas eu tinha somente dezessete anos de idade.

Logo fomos morar ainda de favor num casarão vazio de uma grande amiga de mamãe, seria provisório porque logo iríamos morar em Barcelona porque era lá que estava morando o Daniel numa pensão familiar. Ainda estávamos morando no casarão em Sitges quando arrumei um emprego como técnico projetista em instalações hidráulicas e de calefação para trabalhar em Barcelona que ficava a uns 35 km de distancia, ia todo dia de trem e voltava, eram uns 45 minutos de viagem. Consegui negociar com o dono da empresa para que me pagasse o transporte que pesava bastante no meu salário, ele concordou, e mesmo assim disse a minha mãe que era eu quem tinha que pagar, como era um passe anual para circular no trajeto durante um ano, ela me adiantou o dinheiro para comprar o passe, depois a empresa acertou também comigo esta despesa o que significa que lucrei com o dinheiro equivalente a um ano de transporte por trem de Sitges a Barcelona, guardei este dinheiro nos meus acessórios de mágica para que ninguém pudesse achá-lo, e conforme ia precisando ia tirando dinheiro do meu esconderijo. Minha irmã com suas filhas pequenas continuavam morando conosco, ela arrumou um emprego como telefonista de um hotel recém construído, era o Hotel Calípolis, já na condição de mãe solteira porque tinha se desquitado do marido inglês pai das três primeiras filhas, nesse emprego ganhou mais uma gravidez com um rapaz casado (mas que dizia ser solteiro) que trabalhava no almoxarifado do hotel, a quarta filha Silvia nasceu posteriormente em Barcelona, sem recursos, minha irmã pleiteou em deixá-la com umas freiras e abandona-la, mas o amor de mãe foi mais forte e a pegou de volta.

Quando mudamos para Barcelona meu irmão Daniel não morava mais la, simplesmente brigou com a namorada e tinha voltado à França, fomos morar num bairro bem central, meus pais, irmã e filhas, a uma quadra da Universidade, como o apartamento era muito grande minha mãe alugava um quarto em permanência para estudantes da universidade, assim conseguia mais um recurso para as despesas da casa, eu continuava a trabalhar no mesmo emprego mas não precisava mais pegar o trem, ia ao trabalho a pe e demorava uns quinze minutos, uma das vantagens era que não precisava mais comer sanduíche no almoço podia ir almoçar em casa. Conheci neste emprego o que iria ser meu grande amigo da juventude o “Fede” diminutivo de Federico, foi uma amizade que marcou muito nessa idade e acho que deva ser para qualquer um, pois se passa por experiências inesquecíveis como o primeiro carro, a primeira garota, e o grande desejo de mostrar permanentemente aos outros que a gente existe. Com o Fede íamos de férias, passávamos fins de semanas em Sitges onde havia muitas garotas no verão e sempre cada um com seu carro porque não sabíamos se ficaríamos com alguém, quase todo fim de semana no verão estávamos lá, bebíamos muito desde cedo na praia, porque gostávamos e porque queríamos chamar a atenção das pessoas, tivemos mulheres muito bonitas e de todas as nacionalidades tanto em Sitges como em qualquer canto na Espanha, pois os dois tínhamos boa aparência. Uma certa vez fomos a Sevilla no sul do país, la ficamos durante as famosas “Férias de Sevilla”, uma festa em forma de feira onde se bebe e dança “flamenco” todas as noites até o amanhecer, conhecemos duas garotas e foi paixão a primeira vista, nos divertimos bastante durante nossa estadia, mas tudo terminou quando fomos embora. No ano seguinte fomos viajar de férias na “Costa del Sol” exatamente em Torremolinos praia que estava na moda, fizemos amizade na praia com duas moças francesas com as quais curtimos até elas voltarem à Paris, no desespero e saudade das “sevillanas” uma noite, num porre pegamos o carro e fomos até Sevilla, no dia seguinte de ressaca demos uma volta com elas e retornamos mas sossegados a Torremolinos. Com as duas francesas também havia sido a grande paixão, a que saía comigo se chamava Annie, tanto é que na volta a Barcelona eu comecei a forjar planos para irmos passar uns tempos na França, convenci ao Fede e ele também embarcou nesse projeto louco, os seus pais não queriam me ver nem de longe pois estavam achando que de uma, ou eu era veado ou louco por tirar seu filho da linha.

Em Barcelona, saiamos diariamente após o expediente seja em discotecas ou em barzinhos para beber uns vinhos e comer algumas “tapas” (petiscos), sempre íamos acompanhados de moças que conhecíamos aos domingos numa boite e que marcávamos encontro durante a semana para dar continuidade ao flirt. Aos domingos sempre estávamos enfiados em boites, muito bem alinhados com terno da ultima moda, pagávamos entrada com direito a consumação de um drinque, para nós não era o suficiente para passar quatro horas filosofando com belas garotas, daí a razão que levássemos um estojo bem cheio com conhaque que guardávamos no bolso do paletó, assim era mais barato beber que se fossemos pedir mais bebida ao garçom, todo domingo era a mesma coisa ou seja tomávamos um porre para curtir “plenamente” às garotas, uma delas foi a Fuensanta, menina simpática e bonita de rosto mas de baixa estatura, só por este fato eu achava que estava lhe fazendo um favor de flertar com ela, hoje entendo que fui muito sem vergonha pois ela estava apaixonada por mim e não merecia ser tratada como a tratei. Desde a janela da minha sala de trabalho que era no décimo terceiro andar dava para perceber no pátio interno do prédio as janelas dos moradores do mesmo prédio, pois ele era triangular e tinha três alas, somente uma delas era destinada a escritórios, ficava olhando e paquerando tanto as empregadas na área de serviço como as moças de boa família cujos dormitórios também davam para o pátio, um dia conheci e fiz gestos para cumprimentar uma bela loira, com as mãos me deu seu numero de telefone, se tratava de uma moça holandesa que passava umas semanas em casa de amigas, seu nome era Ans, marcamos encontro pelo telefone e saí com ela por vários lugares de Barcelona, se apaixonou por mim mas do que eu por ela, era de uma família riquíssima holandesa, após sua partida mantivemos contato por correspondência.

Totalmente decidido a voltar à França comuniquei a noticia aos meus pais e ficaram assustados, pois minha ajuda financeira em casa era indispensável para sua sobrevivência, eu argumentei que precisava construir minha própria vida e que lhes enviaria dinheiro do meu salário. Minha irmã apenas ganhava o suficiente para o sustento dela e das quatro filhas. Fui preparando as malas como para uma viagem definitiva, não deixando nada em Barcelona, o Fede fez o mesmo mas combinamos que eu iria à frente para alugar algo onde a gente pudesse morar, o dono da empresa onde trabalhávamos ficou simplesmente furioso comigo, e eu nem quis saber.

Cheguei de trem na estação de Austerlitz em Paris sem endereço para morar, com muita bagagem, algumas economias, o suficiente para sobreviver até arrumar um emprego, meus irmãos moravam la mas não avisei ninguém sobre minha ida à França (questão de orgulho e independência), as viagens de trem eram sempre noturnas, as saídas era às 16 horas de Barcelona e chegava-se em Paris às 8 horas da manhã. A primeira coisa que fiz descendo do trem foi ir até a lanchonete para tomar o café da manhã, baguette fresca com manteiga e café com leite, tinha outro sabor, era uma delicia, liguei da cabine de telefone a Annie explicando que tinha acabado de chegar em Paris. Carregado com bagagem feito uma mula fui até a casa de um tio em Enghien para ver se poderia me hospedar durante os primeiros dias, almocei com ele e sua mulher mas inventaram que não tinham lugar para eu dormir la, entendi o recado e fui embora decepcionado. Peguei novamente o trem de subúrbio e o metrô e fui até o endereço de trabalho da Annie, aguardei na porta do escritório até que ela descesse, foi um agradável reencontro tête à tête matando saudades desde nosso ultimo encontro em Torremolinos, fomos até um hotel do bairro reservar um quarto para poder passar a primeira noite.

Em menos de uma semana tinha arrumado um quarto num hotel que alugava por mês sempre mais em conta que as diárias, ali dava para hospedarmos eu e o Fede. Durante os primeiros dias fiquei lendo os jornais para arrumar um emprego, costumava almoçar com a Annie e ia buscá-la no fim do expediente para passarmos alguns momentos juntos antes dela voltar pra casa no subúrbio sul de Paris.

Liguei para o Fede e disse a ele que já tínhamos onde nos hospedar, dei lhe o endereço do hotel e sinal verde para vir à Paris. Uns dias depois eu estava dormindo no hotel com a Annie e de manhã bateram na porta do quarto, surpresa era o Fede que tinha chegado, sem falar francês se virou para chegar até la. Foram uns dias muito divertidos vivendo as aventuras e sonhos de dois rapazes jovens com sede de viver novas emoções, ele dependia muito de mim, eu insistia em que aprendesse logo a falar francês senão ia se dar mal, um dia fiquei de saco cheio, íamos pegar o metrô e precisava comprar um passe semanal para viajar tranqüilo durante uma semana com o mesmo bilhete, la na França chamava-se de “carte de metrô” obriguei ele a se virar sozinho para comprar o passe e ele pediu no guichê “une lettre” a moça não entendia nada pois ali não era o correio, precisei intervir e ajuda-lo a comprar o passe. Ele saía com a amiga da Annie, saiamos os quatro, tentou vários empregos mas nada conseguiu, estava com muitas saudades de sua casa por ser a primeira vez que saía da casa dos pais, não demorou muito em querer voltar à Barcelona, alem do mais a grana ia acabando e não ganhava nada, acho que ele ficou no máximo um mês em Paris e voltou à Barcelona.

Arrumei logo um emprego e comecei a trabalhar, de noite dormia no meu quarto no hotel, às vezes aproveitava o horário de almoço e ia almoçar com a Annie pois não trabalhávamos muito longe um do outro, todo fim de mês quando recebia meu pagamento ia ao correio e enviava dinheiro aos meus pais em Barcelona.

Um dia estava no serviço e o carteiro trazia uma carta certificada aos meus cuidados, não entendia nem imaginava quem podia estar enviando, assinei o documento de recebimento e abri, era uma carta e uma passagem de ida e volta que à Ans (Holandesa que conheci em Barcelona) estava enviando para que eu fosse visitá-la na Holanda, não sei como chegou a me localizar mas acredito que tenha enviado ao meu antigo endereço em Barcelona e que de lá tenha seguido até o meu serviço em Paris. Pedi licença por alguns dias no meu serviço e la vou eu para Holanda de trem, mais uma aventura pela frente, a Ans de família riquíssima me apresentou à família e amigos como filho de um Conde de Barcelona, não sei porque ela tinha inventado essa historia, talvez assim fosse um romântico conto de fadas que ela estaria vivendo. Sua família gostou muito de mim, o tempo passou rapidamente na Holanda, todo dia com festas e sem fazer nada, passaram algumas semanas e retornei à Paris, os pais da Ans deixaram em aberto o convite para que fosse visitá-los quando bem entendesse. Quando voltei ao serviço fui comunicado de minha demissão, acertaram minhas contas e fui embora, aonde?, peguei o trem a noite daquele mesmo dia e voltava à Barcelona.

Meus pais superfelizes por eu estar de volta ao lar, o Fede já tinha arrumado outro trabalho e desta vez estava mais calmo e sossegado. Andei trabalhando por períodos curtos em vários lugares e varias profissões, como entregador de produtos para salões de cabeleireiro, numa fabrica de cimento como desenhista, etc. um estudante argentino que alugava o quarto para dormir em nosso apartamento me fez logo propostas para montarmos algum negócio juntos, sei que fomos os dois trabalhar numa firma que vendia lotes de terreno no litoral sul de Barcelona, nós dois cuidávamos da parte comercial e do quadro de vendas, trabalhamos durante alguns meses até descobrir que o suposto dono não era proprietário dos terrenos, simplesmente ele comprava do dono quando fechava a venda de um lote, não demorou e fomos embora.

Devido ao fato de ser filho de pai espanhol e mãe francesa tinha dupla nacionalidade até os 21 anos, idade esta que deveria optar por uma ou outra nacionalidade, como que me sentia alguém bem sucedido e importante na época que vendíamos terrenos, resolvi ficar com a nacionalidade espanhola e repudiar a francesa, foi o que fiz indo até o consulado francês, com um detalhe, não devolvi meus documentos franceses e prometi leva-los posteriormente, mas não os levei. Passou-se pouco tempo para que já me arrependesse de ter repudiado a nacionalidade francesa, pois quando terminou a fase eufórica dos terrenos fiquei sem nenhum emprego em vista, as saudades da França voltaram logo mas não podia mais voltar porque estava em idade de prestar meu serviço ao exército espanhol. Não tinha a mínima chance de voltar à França legalmente a menos que passasse a fronteira com os documentos franceses que nunca devolvi mas que não tinha o direito de usá-los por ter repudiado e assinado um documento, não pensei duas vezes em tomar o risco, afinal na fronteira os “gendarmes” nunca saberiam que não tinha o direito de usar o passaporte de todas formas ainda estava com data válida e era um documento original. O trem que me levaria à Paris novamente parava na fronteira em Cerbère a primeira estação em território francês, antes devia passar pela policia espanhola carimbando o passaporte e em seguida os gendarmes franceses o carimbavam novamente para a entrada na França, precisei interpretar o papel de legitimo francês perante a policia espanhola, quando me pediram o passaporte eu fiz questão de falar o francês de modo a não levantar nenhuma suspeita e com os gendarmes simplesmente falei seu idioma o que resultou numa entrada na França clandestina mas bem sucedida, uma vez dentro do trem francês quando partiu de Cerbère respirei fundo e aliviado, agora somente restava resolver mais pra frente o problema em Paris para regularizar minha situação.

Já tinha combinado com o Santiago, e ele se ofereceu para que me hospedasse em sua casa, como não gostava de favores por causa de meu orgulho, disse a ele que seria provisoriamente até regularizar minha situação, tanto para arrumar documentos como para conseguir trabalho. Sabendo que estava na França em situação ilegal, fiquei preocupado porque sabia que os franceses não brincam com as leis e que possivelmente poderia ser posto para fora e levado até a fronteira espanhola e entregue as autoridades. Uns dias após minha chegada fui até a Policia em Paris, expus meu caso e mandaram aguardar, veio o policial e pegou todos os meus dados para que pudesse ser localizado a qualquer momento, ele bateu um documento provisório explicando que já tinha me apresentado as autoridades Francesas e me diz para voltar na semana seguinte com dia e hora marcados para que me comunicassem a decisão, e saber se poderia ou não ficar na França. Voltei à policia na semana seguinte, bastante nervoso e preocupado tinha até me despedido do meu irmão Santiago e família, estava convencido que não voltaria e que seria deportado à Espanha, o policial mandou-me esperar e disse que iria ser recebido pelo seu chefe, pouco eu podia imaginar o que me estava esperando.

Fui convidado a entrar na sala do chefe da policia:

- O que você está fazendo na França se você repudiou à nacionalidade francesa?

- É que logo eu me arrependi, respondi.

- Vou confiscar seu passaporte e sua carteira de identidade, você está infringindo a lei, não tem mais o direito de usar esses documentos, você não é mais francês. Vejamos, você já trabalhou alguns anos aqui quando era mais moço?

- Sim, é verdade

- Você é espanhol, nascido em ....... Sitges. Que coincidência, justamente na próxima semana minha mulher e minha filha estão indo à Sitges passar uns dias de férias, você conhece bem a cidade?, parece que é muito bonita, não é mesmo?

- Claro que conheço, sou de lá e conheço todo o mundo (nesse momento acreditei que eu poderia interferir e ajudar em alguma coisa).

- Elas fizeram reserva no Hotel Sofia, você conhece esse hotel?

- Obvio, pois a Natália dona do hotel aprendeu a falar o francês com minha mãe que dava aulas de francês para ela, se o senhor quiser posso ligar para proprietária do hotel e tenha certeza que serão muito bem atendidas.

Não deu outra, nossa conversa foi muito simpática e amistosa, ele mandou bater uma certidão provisória para morar na França, válida para três meses. Quando voltei para renovar a validade do documento três meses depois não tive o menor problema, fiz questão de perguntar ao chefe de policia sobre as férias de sua esposa e filha e ele me agradeceu muito por tudo, daí em diante iniciei o processo de abertura para residente estrangeiro e tudo continuou normalmente, em fim poderia morar na França mesmo com o estatuto de estrangeiro, melhor assim que morar na Espanha que naquela época estava sob o regime da ditadura Franquista. Assim que minhas papeladas na França estiveram em andamento fui me apresentar ao Consulado Espanhol em Paris, ali as noticias eram menos boas, procuraram saber como estava minha situação militar e fui considerado desertor pelo exército. Foi lavrado um pedido de indulto, eu me apresentava periodicamente ao Consulado duas vezes por ano, após dois anos foi concedido o indulto e dispensado de me apresentar às forças armadas, isto é, podia novamente voltar a Espanha sem perigo de ir para cadeia.

Desta vez firmei pé na França, trabalhava na firma do Santiago e morava na casa dele em Gournay sur Marne, o escritório ficava no pavimento térreo e morávamos no primeiro andar, meu outro irmão Daniel que ainda era solteiro também morava lá. Sempre achei que não iria dar certo de trabalhar com irmãos, mas no momento não tinha outra escolha. Nunca esquecerei que minha cunhada Rolande esposa do Santiago era cozinheira de mão cheia, ela trabalhava fora, num escritório em Montrouge no subúrbio sul de Paris como secretaria e também secretariava a firma do Santiago por ser pequena. Eu, o ultimo a chegar na França contava piadas da Espanha o tempo todo, misturava o idioma francês com o catalão e eles não paravam de dar risadas, lembrávamos, longe de Sitges dos acontecimentos da nossa infância. O Santiago quando era época ia caçar aos domingos com seu dois cachorros; um epagneul Breton que chamávamos de Cartouche, e uma cocker preta e branco que se chamava Katy, sempre voltava com perdizes, faisões, patos selvagens, coelhos e lebres, durante a semana minha cunhada cozinhava e comíamos no jantar sempre com excelentes vinhos franceses. Durante a semana almoçávamos o Santiago, Daniel e eu sozinhos, mas a noite jantávamos todos juntos com a cunhada e os três sobrinhos.

Santiago era daqueles que gostava muito de bebida, não sei se ele é ou não alcoólico, mas com freqüência bebia alem do normal. Quando chegavam os tonéis com os vinhos que ele tinha encomendado era eu quem ia à adega para encher as garrafas, era divertido para mim porque bebia a vontade sem que ninguém percebesse o quanto tinha bebido, afinal eu dizia que somente tinha experimentado um pouco.

Fiquei somente três meses registrado na firma do Santiago, ele compreendeu que eu queria voar com minhas próprias asas, arrumei um emprego em Paris num escritório de engenharia para projetos de instalações hidráulicas e de calefação. Pegava o trem todo dia e meu serviço ficava próximo à estação Gare de L’Est, descendo do trem ia a pé até o serviço, durante uns meses peguei o habito enquanto aguardava o trem cedo de manhã, de tomar um cafezinho e uma aguardente no balcão da estação de trem, minha justificativa era porque estava frio e também porque tinha que ser macho.

Naquelas alturas, o Santiago chegou a ganhar algum bom dinheiro com sua firma, para investir decidiu comprar um terreno numa cidade vizinha para construir uma casa para meus pais, juntou o útil ao agradável aplicar seu dinheiro e ajudar aos meus pais, minha cunhada estava de acordo porque sempre foi gananciosa mas no que diz respeito aos meus pais, neste ponto ela nunca se deu muito bem com a minha mãe.

Como eu tinha voltado à França, as coisas em Barcelona não ficaram muito bem, pois com o pouco que eu enviava aos meus pais e o pequeno ordenado de minha irmã não era o suficiente para sobreviverem, tinha chamado a atenção varias vezes de Santiago e de Daniel sobre este assunto mas faziam-se de surdos ignorando a questão.

Quando o Santiago iniciou a construção da casa, empolgado disse aos meus pais para mudarem à França junto com a minha irmã e filhas e que uma vez lá na França daria um jeito, na casa somente tinha o porão pronto, faltava o pavimento térreo e o telhado. Meus pais avisaram que iriam chegar a Paris numa data determinada, meus irmãos muito irresponsáveis nem sequer foram até a estação do trem para buscá-los, eu tinha chegado cedo na Gare d’Austerlitz. Provisoriamente se hospedaram na casa de meus tios no porão, e as refeições eram feitas na lavanderia, diante da euforia do Santiago agora meus pais teriam que aturar o descontentamento de meu tio que por natureza era neurótico e “bocudo”. Uns dias depois eu fui la para morar com eles no porão, dormíamos os três no mesmo quarto, sabendo que a gente não podia ficar la por muito tempo e sem saber quando meu irmão iria terminar a obra para ir morarmos la. Durante este período minha irmã Odette aguardava em Barcelona para vir se juntar a nós com suas filhas.

Eu continuava firme no emprego, fiz novas amizades e a firma estava satisfeita com meu desempenho, logo comprei um carro praticamente novo com 6.000 km rodados, era um Fiat 124, me sentia a pessoa mais feliz da terra, comprado com minhas economias fruto do meu trabalho. O primeiro carro que tive em Barcelona era um Renault modelo “Dauphine”, minha mãe tinha sido meu avalista mas com meu trabalho ia pagando as prestações, desta vez já estava comprando o Fiat a vista, estava progredindo.

O Daniel conseguiu que os pais de sua namorada nos alugassem um andar na casa deles em Champigny sur Marne, a uns 20 km de Gournay, novamente mudamos meus pais e eu para o novo endereço aguardando que a construção de Champs ficasse pronta. Sem mais recursos, minha irmã precisou vir à França rapidamente, a primeira semana se hospedou num quarto de hotel com as quatro filhas enquanto Santiago mandava arrumar o porão da nova casa para que pudessem fazer a mudança, meus pais e eu também fomos para la quando a casa ficou “quase” pronta. Estávamos todos juntos novamente, minha irmã e filhas no porão da casa bem arrumado e de forma independente, e meus pais e eu no pavimento térreo, para mim as coisas não podiam estar melhor pois ganhava bem minha vida e estava progredindo profissionalmente, tinha carro e boas roupas para me vestir, quando dava vontade viajava, estive varias outras vezes na Holanda com a Ans, passei até uns feriados de Natal e Ano Novo, jantamos na véspera de Natal num restaurante famoso de luxo, era indispensável vestir smoking, para mim aquilo era o máximo, que diferença da vida que tinha levado na minha infância, no meu intimo estava satisfeito por ter chegado lá no topo. Como estava na moda naquela época dos hippies, Ans fumava baseado e propus para eu fumar, eu respondi lhe que não tocava nas drogas, descriminava as pessoas que usavam drogas “ilícitas” e achava que iriam acabar um dia injetando no braço num porão escuro até morrer, mas em comparação achava que ter o prazer de beber uns drinques era a melhor coisa do mundo sem pensar sequer aonde poderia me levar esta brincadeira.

O pai da Ans um dia dissera-me que queria conversar comigo em particular, descemos no pavimento inferior no escritório que tinha em casa, e começou a falar de mim e de sua filha Ans, deixou bem claro que gostavam muito de mim e que seria um bom marido para ela, fiquei surpreso porque eu não a amava e nunca teria pensado em me casar com ela, entretanto o luxo e a riqueza daquela família eram tentadores, nunca poderia ter imaginado que aquele senhor fosse me pedir em casamento para a filha dele, claro. Não lhe respondi, dei continuidade à conversa sem tocar de modo preciso no assunto casamento. Aquela família era a segunda fortuna da Holanda, eram muito conhecidos no mundo dos negócios pois atuavam em estaleiros, produção de madeira e no ramo imobiliário, todos os filhos trabalhavam com o pai nos negócios, visitei um dia uma usina de tratamento de madeira, muita matéria prima era importada da Finlândia e Suécia, tinham fornos imensos para secagem de madeiras.

Meu ego ficou lá em cima após ter conversado com o pai da Ans, a verdade era que meus sentimentos puros me impediam de pensar em aproveitar tal oportunidade, teria topado se realmente amasse à Ans, pensei bem os pros e os contras e achei que se tinha recebido esta proposta que somente me interessava pela metade, provavelmente apareceriam outras oportunidades no futuro, além do mais somente tinha 23 anos e ainda tinha muito chão pela frente.

Mudei para outro emprego melhor, era um escritório de engenharia que realizava um projeto aprovado pelo então presidente da França Mr. Georges Pompidou, tratava-se do museu que levava seu nome ou também chamado por Centre Beaubourg, o escritório estava na Avenida Réaumur Sébastopol perto de onde seria realizada a obra, participei do projeto idealizado pelos arquitetos Piano e Rogers, fazia parte do grupo de trabalho para as instalações hidráulicas, era um ambiente muito bom pois era um consorcio composto de ingleses e franceses, duas a três vezes por semana no escritório era habito improvisar um “happy hour”, la estava eu sempre na primeira fila dos habituais consumidores do bom whisky escocês. Para mim foi bom ter trabalhado no projeto seis meses, pois me dava uma boa referencia profissional, era uma obra impar, toda a estrutura do prédio era de aço cujo peso total é o dobro do peso da famosa “Tour Eiffel”, para trazer aquelas enormes vigas de aço desde o rio Sena até a obra foi preciso derrubar o bairro inteiro, as vigas eram fornecidas pelo Japão, nas grandes tubulações externas do prédio passava permanentemente água circulando internamente para o caso de haver algum incêndio.

Meu próximo emprego foi bem pertinho de onde morava com meus pais no subúrbio leste de Paris, a uns vinte quilômetros, era em Chelles e eu morava em Champs distante somente de dez minutos de carro, a empresa era pequena e os donos eram dois irmãos que tinham começado o negocio como encanadores, também faziam instalações de calefação e manutenção de caldeiras, pois por causa do clima todas as moradias tinham calefação. Topei porque os donos conheciam melhor o serviço na obra e serviços externos junto aos operários, e eu me ocuparia do escritório dos projetos e orçamentos e trataria com os clientes. Quando comecei nesta firma somente faziam instalações para residências particulares, e rapidamente começamos a trabalhar em prédios grandes de apartamentos, a firma cresceu muito durante o tempo que trabalhei com eles sempre com muita confiança e reconhecimento por parte dos donos, chegamos a ter uma amizade extra profissional, os dois irmãos moravam no mesmo prédio do escritório, o irmão mais velho o Bernard quase todo dia no fim do expediente me convidava para subir na casa dele tomar uns aperitivos.

Um ano depois, dando continuidade às minhas ambições pessoais pintou a oportunidade de comprar uma casa nova num loteamento que estava começando a ser construído em Thorinhy sur Marne a uns dez quilômetros de Chelles, pedi um adiantamento à firma para dar de entrada na compra, na verdade foi uma soma razoável de dinheiro que os dois irmãos me emprestaram para devolver em três vezes sem juros, era a primeira aquisição de um imóvel e o prazer era bem maior que quando comprei meu primeiro carro, em menos de um ano iria morar na “minha casa” e levaria meus pais junto, é claro. Foi sensacional para mim, com meus vintecinco anos era dono de minha casa, tinha que pagar as prestações mas depois a casa seria minha. A casa foi entregue pela construtora conforme o prazo prometido, chaves na mão estava pronta para morar e com todos os acabamentos terminados, mudamos para la com meus pais, não tinha moveis e eu não estava nem aí, tinha toda a vida pela frente para comprar moveis e decora-la ao meu gosto, parecia-me que tinha chegado ao meu ultimo objetivo de vida e ter dado a volta por cima aos meus problemas de infância. Aos poucos e com tempo nos fins de semana me dedicava totalmente a pequenos trabalhos em casa (bricolage), como que os quatro dormitórios ficavam no primeiro andar e meu pai não podia subir escadas encurtei a garagem e fiz um quarto somente para ele com banheiro, ficava no térreo e não havia problema para levá-lo ate seu quarto com a cadeira de rodas, lembro-me que no primeiro fim de semana subi no telhado para instalar a antena de T.V., como que não tinha nenhum eletrodoméstico já aproveitei e comprei todos os moveis para instalar a cozinha com armários embutidos e também os eletrodomésticos, construí um balcão para as refeições em lugar de uma mesa comum, fiquei feliz uma vez a cozinha ficou pronta. Contratei um empreiteiro português que fazia bicos nos fins de semana para que construísse os muros de fechamento da área do terreno e os portões de entrada para a garagem e para a casa, plantamos grama e revestimos os terraços com ardósia sem esquecer que mandei construir no porão uma adega para estocar até 3.500 garrafas de vinho, construída no capricho e com técnicas de profissional, deixando o solo com terra, temperatura e umidade relativa adequados.

Xavier T
Enviado por Xavier T em 08/06/2009
Código do texto: T1638352
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