Alcoolismo "Uma luz no fim do túnel" 4 - Possuído pelo cupido, amor à vista.
Possuído pelo cupido, amor à vista.
O amor não tem pressa ,e sem ele é impossível viver.
Não existe o acaso, o destino estava predeterminado.
Acho que mudamos com meus pais para minha casa em Thorigny no mês de abril ou maio de 1974, até o fim de ano foi uma euforia total curtindo minha casa e arrumando-a ao meu gosto, trabalhando nela todos os fins de semana e ao anoitecer sentado na poltrona para assistir à TV tomando meus drinques.
Meu cachorro “Vladimir” era o que mais curtia a casa nova. Comprei-o em 72 de um casal que morava perto da Torre Eiffel em Paris, era um cocker spaniel golden de pura raça, lá em Champs durante o dia ficava fazendo companhia aos meus pais, eu saía a passeio com ele três vezes ao dia para dar uma volta no quarteirão. Em Thorigny havia muito espaço para correr na rua e quase nenhum transito pois estávamos localizados num morro com vista panorâmica, naquele bairro somente circulavam os carros dos condôminos, de manhã e de noite após o jantar ia dar uma volta com ele e durante o dia minha mãe também saía com ele após o almoço, uma noite quando dávamos uma volta no bairro, o Vladi viu seu pior inimigo; um gato na rua, enfurecido sumiu e não o vi mais, voltei para casa preocupado pelo frio e a neve que tinha caído naqueles dias, nervoso porque não me tinha obedecido e corrido atrás do gato, pensei que seria bom lhe dar uma lição e tranquei a porta da garagem de casa sabendo que se volvesse ia ficar do lado de fora naquele frio, fui dormir preocupado com o cachorro. Levantei cedo com a intenção de sair à procura do Vladi, quando abri a porta da garagem lá estava ele mexendo seu rabinho e contente por poder entrar na casa que estava quente, do lado de fora estava tudo branco de neve menos um buraco marrom (cor da terra) que era onde ele tinha passado a noite no frio, fiquei triste por ele ter dormido la fora no frio mas os cachorros na Europa estão habituados às temperaturas baixas, tudo terminou bem e nada de mal lhe aconteceu.
Conheci o Gerard quando trabalhamos juntos pela primeira vez no escritório de engenharia próximo à la Gare de L’Est, ele tinha chegado naquela firma depois de mim mas pelo fato de morarmos no subúrbio próximos um do outro acabamos estabelecendo uma amizade duradoura até os dias de hoje, com poucos meses que eu estava trabalhando no emprego atual pedi aos donos para contratarem alguém para me ajudar pois com o crescimento da firma aumentava o volume de trabalho, com a habitual confiança que eles tinham em mim deram-me carta branca para contratar um projetista, e foi o Gerard que convidei para se juntar a nós e até porque ele morava em Chelles, na mesma cidade da firma.Antes de eu mudar para minha casa saímos por muito tempo juntos em farras inesquecíveis, conhecia a família dele, gente trabalhadora e simpática e seus pais gostavam muito de mim imaginavam que seu filho trabalhando comigo e saindo comigo eu o levaria pelos bons caminhos da vida. Uma vez fizemos juntos uma viagem a Holanda, compramos na França uns vinhos vagabundos para presentear conhecidos durante nossa visita, sabendo que ali são conhecedores de cerveja mas não de vinhos. Outra vez ele pegou uma viagem “charter” até Bangkok e me trousse uma estatueta típica da Tailândia, em fim sempre tivemos boa amizade e estávamos juntos por causa do trabalho. Em outra ocasião eu tinha batido meu carro “Austin Morris” numa noite de farra de porre, simplesmente entrei numa árvore, o prejuízo era total sem a mínima condição de reaproveitamento do carro e sem cobertura pelo seguro, forjamos uma falsa declaração de acidente (ele tinha uma mobylette) e a companhia de seguros aceitou, o único prejuízo que tive foi a perda do bônus mas pagaram todas as despesas para deixar o carro em ordem.
Num daqueles sábados à tardezinha, no dia 14 de dezembro de 1974, recebi a visita em minha casa do meu amigo e colega de trabalho Gerard, sorridente como sempre veio me perguntar se estava a fim de dar uma volta para jantar e tomar uns drinques em Paris como nos velhos tempos, eu tinha trabalhado o dia todo e estava cansado, mesmo assim me convenceu e fomos com meu carro a Paris.
Meu bairro predileto para minhas saídas noturnas sempre foi o “quartier latin”, onde se reúnem intelectuais, estudantes e boêmios, também gostava de ir a “Montmartre” na place du Tertre, tudo dependia do que eu estava procurando para me divertir.
Como que os dois morávamos no subúrbio leste, passamos na casa do Gerard para deixar seu carro e seguimos adiante, optamos por ir dar uma volta na Rue Saint Jacques, era difícil estacionar ali num sábado a noite, deixamos meu carro a algumas quadras e ainda mal estacionado. Entramos num pequeno restaurante para jantar, ele sem fome ficou tomando um drinque enquanto eu jantava prazerosamente após um dia de trabalho pesado em minha casa. Após a janta decidimos tomar alguns drinques nos bares das redondezas e finalmente fomos no “Caveau de la Huchette”, na rua que leva o mesmo nome, era uma boate onde se apresentavam diversos artistas de jazz de todas as nacionalidades, descemos no porão para curtir um pouco de musica, tinha uma mesa livre onde o Gerard sentou prontamente enquanto eu ia até o bar para buscar uns chopes para nós. Quando voltei à mesa com a bebida o Gerard dissera-me que na mesa ao lado haviam duas garotas estrangeiras que estavam falando espanhol, ele insinuou que não entendia nada do que falavam pois somente falava inglês além do francês, é claro. Começamos a criar conversa com as garotas estrangeiras, o Gerard dizia, Xavier é contigo mesmo pois não estou entendendo nada, nossa mesa estava a uns cinqüenta centímetros mais alta no mezanino enquanto que a das garotas estava na beira da pista de dança. Finalmente resolvi convidar uma das moças para dançar, percebi que ela não falava o espanhol fluentemente e eu achava isso bastante esquisito, finalmente me disse que era da América do Sul e deixou que eu tentasse adivinhar qual era o país. Finalmente acertei quando disse “Brasil”, perguntei lhe se era ou se conhecia o Rio de Janeiro e ela explicou-me que conhecia o Rio mas que era de São Paulo, eu nunca tinha ouvido falar desta cidade, para mim Brasil era sinônimo de Rio de Janeiro, na minha adolescência tinha assistido a alguns filmes como Orfeu Negro e outros policiais aonde sempre tudo terminava no Rio de Janeiro para os assaltantes gastarem o produto de seus roubos e falcatruas. Além disso sempre tive uma certa predisposição para conhecer novos paises e viajar pelo mundo, uns dois anos antes já tinha me interessado em partir para uma colônia francesa, exatamente em Noumea no pacífico. Quando a garota me falava do Brasil minha mente de fácil imaginação começou a viajar e sonhar, o nome da garota era Augusta, não parei de lhe fazer perguntas sobre seu país e sobre o que ela estava fazendo tão longe de sua casa, respondeu-me que tinha um restaurante num clube de São Paulo, que tinha trabalhado duro nos últimos tempos e que estava viajando pela Europa para conhecer, descansar e também para fazer alguns cursos, ela tinha chegado um ou dois dias antes a Paris e estava hospedada na cidade universitária, a viagem dela não se limitava a Paris, era uma viagem de aproximadamente seis meses visitando Portugal, Espanha, França, Suécia, Inglaterra, Alemanha e Itália.
Comecei a me interessar muito naquilo que a garota estava falando, era muito simpática e sorridente, educada e sensível parecia estar curtindo muito e estar de bem com a vida, o fato de ela ser de tão longe me atraiu muito, parecia-me estar naquele momento muito distante dos meus problemas e do meu passado, Augusta estava me contagiando com seu modo de ser e viver. Enquanto isso o Gerard estava paquerando a outra moça que era libanesa e se chamava Nurai. Eu continuava alternando com Augusta seja dançando ou sentados na mesa, mas sempre conversando e fazendo lhe perguntas. Não sei porque, mas a partir daquele momento preferi não beber mais bebida alcoólica, possivelmente porque naquela noite já tinha bebido minha cota e também porque queria ficar sóbrio para escutar o que Augusta tinha para me dizer, o Gerard ficou atônito em ver que de repente eu estava tomando refrigerante.
Durante o papo com Augusta eu ficava imaginando ao vivo e a cores a Bahia da Guanabara, Corcovado, Pão de Açúcar etc. parecia que estava vivendo um sonho, o tempo passou muito rápido e sem perceber já eram as três horas da madrugada, propus imediatamente leva-las ate a cidade universitária, o único detalhe é que quando fomos até o meu carro, tinha sumido e imaginei que o guincho o teria levado até a delegacia da policia. Não deu outra, caminhamos mais um pouco e paguei a multa mas as despesas do guincho para que liberassem o carro, deixamo-las onde estavam hospedadas e voltamos para casa. Eu tinha marcado um encontro com Augusta para o dia seguinte ir tomarmos um chá na Torre Eiffel às 16 horas.
Naquele domingo tinha o tempo suficiente para descansar algumas horas, almoçar e ir a Paris de novo para me encontrar com Augusta. A noite anterior, apesar do pequeno problema com o carro, tinha sido fantástica, estava com vontade de ver de novo Augusta, a tarde como marcado nos encontramos e fomos à Torre Eiffel, mesmo com minha vertigem subimos no primeiro andar e fomos no restaurante, mais uma vez não tomei bebida alcoólica e nossa conversa era interessante demais, senti que “algo” me atraía em Augusta sem saber exatamente o que. Terminamos o dia juntos namorando e conhecendo-nos melhor, ela iria viajar naquela semana para Aix em Provence onde se encontraria com uma amiga do Brasil que tinha casado com um francês e que estavam morando la. Ela disse que voltaria a Paris após as festas de fim de ano e que quando voltasse me ligaria para vermos de novo, honestamente eu não acreditei pois minhas experiências anteriores tinham me mostrado muito bem como funcionam as aventuras de um ou dois dias.
Este encontro com Augusta me marcou muito, isto significava que estava interessado nela sem entender realmente o porque. Continuei trabalhando nesses dias que antecediam as festas natalinas muito festejadas na França, não sei porque mas não conseguia tirar de minha cabeça aquele sábado a noite e domingo que tinha conhecido Augusta, seria que tinha simplesmente sonhado que tinha acontecido?.
Lembro-me muito bem que durante uma semana quando voltava a Thorigny após o serviço quase não falava nada com meus pais, tinha-me isolado no meu mundo pensando naquela garota que diga-se de passagem era quase três anos mais velha que eu, comprei numa loja de discos um long-play do Jorge Bem que escutava a noite quando chegava em casa. Minha mãe percebeu logo que havia algo esquisito no meu comportamento, ficou muito preocupada e até comentou com a Nonô sua irmã.
Após as festas de fim de ano, nos primeiros dias de janeiro no meu serviço alguém me chamou pelo telefone, era Augusta dizendo-me que já tinha voltado de viagem, fiquei perplexo, surpreso e emocionado porque eu não acreditava que ela poderia me procurar novamente, marcamos um novo encontro. Saímos varias vezes e a paixão estava lá por ambas as partes, criou-se uma relação honesta, sincera e transparente, descobrimos que nos amávamos, num sábado a noite fomos assistir um show brasileiro em Paris com participação de grandes cantores da musica brasileira, mas infelizmente quando chegamos todos os lugares tinham-se esgotado. Mas, como iria terminar esta historia se ela estava somente de passagem pela França?, havia outros paises que ela ainda precisava viajar e o tempo era escasso. Convidei Augusta para vir morar comigo em Thorigny, sem muita preocupação de quanto tempo iria ficar por causa da viagem dela, quanto aos meus pais seria simples, eles poderiam ir morar no apartamento de minha irmã Odette que tinha conseguido um apartamento do tipo BNH que a assistente social tinha conseguido para ela e as filhas. Augusta topou, antes fiz questão de apresentá-la aos meus pais num domingo a tarde, ela veio já sabendo um pouco sobre minha vida, passamos um bom fim de domingo e meus pais gostaram muito dela, especialmente meu pai que era pouco falador, alguns dias depois meus pais iam sem saber se era definitivo ou não para casa de minha irmã, somente o Vladi ficou comigo.
Nos primeiros dias de fevereiro fui até a cidade universitária em Paris, peguei as bagagens de Augusta e ela junto para irmos a Thorigny. Nosso relacionamento crescendo e como que Augusta tinha uns cursos a fazer em Paris sobre crianças defeituosas, resolveu ficar o maior tempo possível na França e terminar a viagem pelos paises que ainda estavam faltando de modo rápido e curto, pois a passagem de avião comportava os vôos para os paises mas sem data marcada, portanto poderíamos ficar juntos ainda uns cinco meses.
Foi a grande curtição e passamos a nos conhecer muito melhor em todos os aspectos, o tempo voava, ela representava para mim a liberdade e “libertação de um passado negro e das rotinas do dia a dia como se fosse um robô”, eu queria “viver a vida”. Eu ia trabalhar e Augusta pegava o trem até Paris diariamente, a noite nos encontrávamos novamente em nosso “ninho”. Apresentei Augusta aos meus irmãos, no serviço, aos amigos, todos gostavam dela e perceberam que nosso relacionamento era serio.
Durante estes meses que ficamos juntos em minha casa de Thorigny, aproveitei para mobiliar e decorar nosso quarto e a casa, pois tínhamos planos de ficar juntos para sempre e ela estava disposta a voltar ao Brasil e depois mudar definitivamente à França. Nosso quarto ficou muito bonito, pus carpete azul royal muito grosso, parecia caminhar sobre uma almofada, o papel de parede era azul claro com pequenos desenhos e comprei uma cama moderna com moveis ao longo das paredes, tudo em laquê branco, a cama tinha dois metros de largura e podia se regular em altura tanto a cabeceira como os pés da cama. Para a sala de estar e jantar pedi a Augusta de bolar algumas idéias para decoração, ela fez uns desenhos em perspectiva com mobília e cortinas.
O tempo passou muito depressa, estava chegando a hora que Augusta iria partir, eu sentia saudades por antecipação. O combinado foi que como eu queria muito conhecer o Brasil, se ela partisse em junho e terminasse o que faltava por visitar pela Europa chegaria em julho ao Brasil, e eu iria vê-la em outubro, passaria quatro ou cinco semanas com ela e voltaríamos juntos.
Estávamos vivendo uma paixão, eu com vinte e sete anos e ela com trinta, sabíamos o que fazíamos, não éramos mais duas crianças. Levei-a ao aeroporto para ir embora, na despedida falamo-nos, até breve.
Agora eu iria ficar sozinho com meu cão Vladi naquela grande casa, achei melhor leva-lo todo dia de manhã até o apartamento onde moravam meus pais, e pagá-lo de volta a noite para casa. Meus pais tinham conseguido muito rapidamente um apartamento para morar, no mesmo conjunto residencial onde morava minha irmã, as vezes quando dava eu também almoçava la, a noite jantava pegava o Vladi e voltávamos a Thorigny, lembro que o cachorro sentava no banco de passageiro na frente, ele ficava ali sentado e quietinho, quando pegava uma curva ele se inclinava para um lado tal como se fosse o cachorro que estivesse dirigindo, achava isso muito engraçado porque haviam bastantes curvas e com a velocidade ele ficava indo de um lado para outro o tempo todo. Entre Thorigny minha residência, Champs aonde moravam meus pais e Chelles que era onde trabalhava, ficava tudo bem próximo a uns dez ou quinze km uma cidade da outra.
A vida continuava, Augusta me enviava cartões postais de todas as cidades e paises por onde passava, sempre enviando milhões de beijos. Quando chegou ao Brasil, ela precisou explicar à família dela sobre a viagem sobre nossa situação, continuamos nos correspondendo por carta regularmente até duas ou três cartas por semana, quando eu voltava em casa a noite ia direto à caixinha do correio para verificar se tinha chegado carta de Augusta, foi uma fase divertida porque sabia que voltaria a vê-la em outubro, mas o tempo de espera era grande.
Comprei minha passagem após ter pesquisado bastante os preços, peguei um vôo “charter”, naquela época estavam iniciando este tipo de vôos, ainda lembro que paguei em 1974, 3.700 Francos Franceses ida e volta com datas preestabelecidas. Para aumentar ainda mais a emoção da viagem pegaria o avião em Paris no aeroporto de Orly com destino a Zurich na Suíça, onde viajaria pela Swissair num vôo Zurich- Rio de Janeiro com escala em Dakar na costa de marfim na África.
Algumas semanas antes de viajar numa das cartas que Augusta me escreveu, queria saber minha opinião a respeito do que eu acharia se a gente se casasse nem que fosse no religioso, ali no Brasil, seria uma maneira para que a família dela pudesse justificar sua ida a França, não acho que a tivessem influenciado para ela conferir realmente quais eram minhas intenções, nunca tínhamos pensado em casamento, o que sim queríamos era dar continuidade à nossa felicidade de viver juntos um perto do outro, nós dois não éramos do tipo que tinha que seguir a risca todas as formalidades tradicionais e costumes. Respondi que para mim tanto fazia, se ela achasse que seria bom para ela e sua família eu não via nenhum inconveniente em me casar na igreja no Brasil. Ficou assim combinado que casaríamos primeiro na igreja e se quiséssemos no próximo ano poderíamos casar no civil em Thorigny, eu estava sabendo que iríamos fazer o tal casamento mas não tinha a mínima idéia da data.
Minha data de partida de Paris estava marcada para o dia domingo 19 de outubro e chegada no Rio de Janeiro na segunda feira dia 20 cedo de manhã, apesar de ir sozinho levava bastante bagagem porque amigos de Augusta que nem conhecia, pediram para que levasse alguns artigos que não existiam ainda no Brasil, ia agasalhado na partida mas com roupa de verão por baixo para minha tão esperada chegada ao Brasil, paletó esporte, calça Jeans branca e camisa de manga curta. As noites que precederam a viagem foram mal dormidas por causa de meu nervosismo e ansiedade, ainda por cima na véspera da viagem, sábado, meu irmão Daniel tinha que ir a um casamento com Luisa sua esposa, pediu-me para ficar com a filha Nathalie no apartamento deles e disseram que não iriam chegar tarde, resultado, chegaram a altas horas da madrugada de domingo, dia que eu iria viajar e dormi pouco. Decolamos de Paris com um avião de pequeno porte, já em Zurich embarquei num DC-10 com destino ao Rio com escala em Dakar. No avião imenso sentei numa poltrona que dava no corredor era um conjunto de duas poltronas, o passageiro vizinho tinha como olhar pela janela, era uma senhora suíça que ia visitar sua filha casada com um argentino e que morava na Argentina, seriam aproximadamente onze horas de vôo, cinco até Dakar mais seis até o Rio de Janeiro, como esses vôos eram sempre noturnos dava para conversar um pouco, ler, jantar e assistir um filme. Com uma escala ficava bem menos cansativo que os vôos diretos e com muitas horas de viagem, lembro que tinha na poltrona um panfleto da companhia aérea e havia um mapa, eu me divertia traçando com a caneta duas linhas retas uma entre Zurich e Dakar e a outra entre Dakar e Rio de Janeiro, dividi a primeira em cinco partes e a segunda em seis, e olhando a toda hora para meu relógio podia ter uma idéia de onde estávamos voando e encima de qual país. Estava muito tenso e ansioso durante a viagem, ia realizar um sonho, bebi bastante whisky e fumava, nada de dormir. Avisaram que íamos pousar em Dakar, legal, ia pisar no solo de outro continente e posteriormente poderia contar que tinha estado na África. Quando o avião parou totalmente no aeroporto e autorizaram a saída para esticar as pernas pelo saguão, eu fui dos primeiros na fila para descer, aguardando enquanto a aeromoça abria a porta do avião, encostaram a escada para descer, quando sai do avião tive pela primeira vez a impressão de que estava entrando num forno ao ar livre. Mesmo após seis horas de viagem a ânsia não me deixava ficar sossegado, olhava tudo e todos, aqueles rostos africanos não eram novidade para mim porque na França há muitos imigrantes do continente africano, na maioria dos paises africanos fala-se francês pois a França sempre teve interesses naquele continente. Aproveitei para tomar algumas cervejas e dar uma volta pelas lojinhas do Free-Shop, estava quase vazio porque eram altas horas da madrugada. Fomos chamados para embarcar e seguir viagem rumo ao Rio de Janeiro.
Agora a próxima parada seria o ponto final, Rio de Janeiro, bastava atravessar o atlântico durante três horas e já estaria voando em território brasileiro. A euforia continuava, não dormi nada em toda a viagem nem teria conseguido mesmo que quisesse, mais tarde vieram servir o café da manhã, e finalmente uma hora mais tarde iríamos pousar no recente construído aeroporto internacional do Galeão. Durante esta segunda e ultima parte da viagem, vi o por do sol, um espetáculo maravilhoso, na véspera tinha anoitecido em Paris e agora o sol se punha nos trópicos da América do sul. Assim conforme meus cálculos estaríamos voando em território brasileiro (até por que dava para ver de longe a floresta amazônica), a toda hora ia até o corredor dos toaletes do avião para dar uma olhada pela porta lateral e admirar a bela paisagem, eu estava curioso em saber como poderia ser lá embaixo, eram horas voando e sempre no Brasil, enfim, um continente. Como qualquer estrangeiro que vem ao Brasil pela primeira vez achava que no aeroporto poderia haver crocodilos e mais outros bichos selvagens. Após o café da manhã retiraram rapidamente as bandejas dos passageiros porque estava em cima da hora e iríamos aterrissar no Rio, avisaram pelos alto-falantes para apertar os cintos de segurança sem tirá-los até após ter aterrissado e a aeronave completamente parada, eu não quis saber e fui até a porta para olhar pela janelinha e a baixa altitude a Bahia de Guanabara, por sorte na torre de controle mandaram o comandante de nosso avião dar um tempo para pousar por causa do imenso trafego nessas horas chegando aviões de todos os cantos do mundo, o piloto sem saber me presenteou dando umas voltas bem em cima do Rio e a baixa altitude, dava para ver tudo, estava um dia com muito sol, o mar verde, os morros, o pão de açúcar e o Cristo Redentor de braços abertos, fiquei totalmente arrepiado e emocionado, dava vontade de chorar de tanta alegria. Alguém deu uma tapinha nas minhas costas, era a aeromoça, me chamou a atenção e deu-me uma bela de uma bronca por estar ali em pe quando deveria estar sentado na poltrona com o cinto de segurança amarrado, eu fiquei rindo porque tinha conseguido ver o que eu queria, mas também reconhecia que ela tinha toda a razão e que estava certa. Uma vez pousado o avião fiquei esticando a cabeça pela janelinha da poltrona vizinha tentando ver todo quanto tinha direito, vi alguns aviãozinhos teco-teco, outros da FAB com motores a hélices, parecia-me que estava assistindo um filme, era tudo novo para mim, estava no Rio de Janeiro, no Brasil, na América do sul.
No desembarque não tive o menor problema para passar pela alfândega e tudo mais, na saída do aeroporto no fim do corredor externo ela estava la me aguardando, Augusta de braços abertos, eu a vi logo, avancei e cheguei até ela, era um momento muito esperado pelos dois, nos abraçamos e beijamos matando saudades. Ela tinha chegado ao Rio dois dias antes e se hospedado na casa do senhor Almeida, uns amigos da família em Jacarepaguá, estavam ali o senhor Almeida já com uma certa idade, um amigo dele que veio auxiliá-lo para dirigir o carro e Augusta, em fim uma verdadeira comitiva de recepção, carregamos minha bagagem no carro e perguntaram se queria ir descansar ou dar umas voltas pelo Rio até a hora do almoço, preferi a segunda opção. Com um sol esplendoroso e um céu azul começamos a andar de carro pelas praias, fizemos uma parada na rodoviária porque o senhor Almeida queria a qualquer preço que experimentasse o cafezinho brasileiro e foi o que fizemos, continuamos beirando as praias, era uma segunda feira e fiquei pasmado em ver tanta gente na praia, perguntei se não trabalhavam e se isto era normal, a resposta veio logo; “o carioca vai a praia todo dia e também trabalha”, eu dei risada, estava achando que tinha chegado ao paraíso. Fomos até o Corcovado com o carro, fiquei impressionado e filmando todo o que se mexia, filmei uma bela vista panorâmica sobre o Rio, e também o Cristo Redentor. Os planos para meu primeiro dia eram de dar algumas voltas rápidas para ter uma pequena visão, almoçar e descansar a tarde para ir jantar a noite com o Walter, filho do senhor Almeida que tinha nossa idade e depois do jantar pegaríamos um ônibus com leito para seguir até São Paulo.
Após o Corcovado fomos direto para Jacarepaguá, conheci a esposa do senhor Almeida, moravam num condomínio fechado, mas fazia um calor espantoso, era quase o horário do almoço, refresquei-me um pouco para relaxar, quando avisaram que o almoço estava na mesa perguntei à Augusta se no Brasil não se tomava aperitivo, o que mais eu queria naquela hora era tomar uma boa dose de whisky para festejar aquele evento, para mim tudo sempre foi motivo para beber, imediatamente me foi servido o aperitivo, almoçamos mas eu não tinha nenhum apetite, o calor e o cardápio eram totalmente diferentes dos meus hábitos. Descansei algumas horas a tarde, logo mais chegaram o Walter e sua esposa Lenita, tomamos uma cerveja, nos arrumamos e fomos embora para jantar, sei que passamos pela ponte Rio/Niterói, o restaurante tinha uma vista formidável sobre o Rio, o Walter que era bom de copo me fez experimentar a primeira “caipirinha” de minha vida, me arrepiei todo de tanto prazer, com aquele calorão caiu como uma luva, jantamos na base de mariscos e peixe regados com bastante chope, foi um jantar inesquecível. Já tínhamos colocado no carro as bagagens para poder ir direto a rodoviária pegar o ônibus, assim que depois do jantar la pela meia noite embarcávamos com Augusta para São Paulo. Durante a viagem não dormi porque simplesmente eu não consigo, além disso estava muito excitado e mesmo sendo a noite olhava pela janela, estava muito curioso e queria ver todo o que fosse possível.
Chegamos à rodoviária de São Paulo cedo de manhã, e pegamos um táxi que nos levaria até a casa de Augusta, lembro que como que nós falávamos espanhol o motorista devia pensar que éramos turistas e saiu da rota, daí Augusta chamou sua atenção e pegou novamente o caminho certo para chegar até o bairro da Pompéia. A mãe dela saiu da casa assim que viu o táxi parar na rua, veio direto para me cumprimentar e desejar as boas vindas. Quando entramos tinha na sala de jantar uma grande mesa posta com o café da manhã com muita fartura, nessas alturas estava realmente exausto e fui para quarto de Augusta e dormi. Por volta de uma hora da tarde me chamaram para almoçar, Augusta me disse que sua família estava me aguardando para almoçar, o irmão dela Elpidio e esposa, tios, em fim, umas dez ou quinze pessoas estavam na sala de jantar quando desci após tomar banho, eu não falava uma só palavra de português, aprendi logo a dizer “tudo bem?, prazer”, quando beijei no rosto os homens da família (como é o habito na França) ficaram surpresos, percebi de cara que não era costume. Sentamos para almoçar, o pai de Augusta sabendo que era um bom bebedor de vinho tinha comprado uma caixa de vinho verde português, nunca tinha experimentado antes e não gostei, preferi tomar cerveja. No dia seguinte terça feira seria o aniversario do pai de Augusta, e finalmente fiquei sabendo que no próximo sábado dia vinte e cinco iríamos casar religiosamente na capela da PUC Pontifícia Universidade Católica pois ela havia estudado lá e conhecia o padre, uma surpresa atrás da outra, Augusta me disse que tinha enviado o convite para mim na França, mas eu não o tinha recebido.
Nos primeiros dias as visitas de parentes e amigos de Augusta não paravam, era uma atrás da outra, não conseguia entender como podia conhecer tantas pessoas, ainda bem que eu não falava o português e somente escutava as conversas para descobrir sobre o que estavam falando, uma ou outra vez Augusta me traduzia o que as pessoas estavam dizendo.
Como que não tinha trazido roupa adequada para o meu casamento, fomos comprar minhas roupas e calçado. No sábado o casamento estava marcado para as quatro horas da tarde, Augusta saiu no horário do almoço para ir ate o cabeleireiro e se preparar para o evento, marcamos encontro na capela. Eu vestia uma calça marrom escuro, sapatos da mesma cor, paletó e camisa social bege e borboleta azul turquesa da mesma cor do vestido de Augusta, ela vestia também um chapéu muito bonito e grande, sempre na cor azul turquesa. Naquele dia importante para mim enquanto me arrumava para o casamento meu copo de whisky estava sempre cheio ao meu lado, meu futuro cunhado Elpidio me levou com seu carro até a PUC que era bem perto da Pompéia, aguardei no altar até Augusta chegar com seu pai, era um casamento bem diferente do tradicional, pois era uma capela pequena de ambiente colonial, haviam poucas pessoas e quando Augusta se aproximava do altar com seu pai tocavam em volume alto musica barroca do quinteto Armorial. Foi uma cerimônia muito emocionante, eu em pé no altar em outro país a quatorze mil quilômetros de casa sem nenhum dos meus familiares e sem falar uma palavra de português, mas tudo correu as mil maravilhas, uma vez a cerimônia terminada passamos ao jardim e recebemos os cumprimentos de todos, e eu mais uma vez dizendo “tudo bem?, prazer”.
A festa do casamento fizemos no mesmo bairro a poucas quadras da PUC, dava mesmo para ir a pé, numa sala de festas de um prédio onde morava uma amiga de Augusta, tinham tudo muito bem programado, fizeram uma festa muito bonita com bebida abundante, bolo de casamento e champanhe. Logo fomos até a casa de Augusta para trocar de roupa, ainda chegavam pessoas para nos cumprimentar que não tinham ido à capela por um motivo qualquer, até que em fim alguém nos deu carona e nos levou até o hotel Cá D’oro que tínhamos reservado para aquela noite no centro da cidade.
No dia seguinte escutamos barulho na rua, olhei pela janela do quarto, era um desfile mas não sabia do que se tratava. Descemos e nos misturamos com a multidão, era o João do Pulo desfilando em carreata pela cidade, por ter conseguido uma medalha de ouro na olimpíada.
Em nossa programação estava previsto irmos à Salvador na Bahia, os pais de Augusta tinham dado de presente a viagem, para eles seria como uma viagem de núpcias, não tenho certeza se eles sabiam que morávamos juntos na França, em todo caso eu iria viajar e conhecer a Bahia. Nos hospedamos na casa de uma medica amiga de Augusta, fizemos a viagem de ônibus leito, acho que ficamos por ali uns dez dias, conheci a ilha de Itaparica, comi o típico “acarajé”, e bebi o suco de abacaxi mais delicioso de minha vida. Núbia a amiga de Augusta nos recebeu muito bem, estivemos em festas em club particular, visitamos o mercado central onde comprei uma pele de vaca que usaria mais tarde na nossa casa em Thorigny, estivemos uma noite numa casa de espetáculos onde assistimos a uma demonstração de capoeira.
De volta à São Paulo ainda fizemos uma viagem de uns poucos dias à praia no litoral norte de São Paulo, visitamos Campos de Jordão, Ubatuba e Caraguatatuba, viajamos com o carro do Armando (primo de Augusta) o que nos permitiu nos locomover com facilidade e admirar as belas praias. Começamos os preparativos para a viagem de volta à França, para Augusta seria uma mudança porque iria morar ali definitivamente. Na volta ela conseguiu um lugar no mesmo vôo pela companhia Swissair, saímos de São Paulo com o carro do Armando e fomos até Taubaté onde ele morava e trabalhava, lembro-me muito bem que era de noite e na Via Dutra Augusta admirava o céu azul com pequenas nuvens, dizia que aquelas pequenas nuvens pareciam carneirinhos. Ficamos em Taubaté um dia e devolvemos o carro, depois até o Rio prosseguimos viagem de ônibus. No Rio ainda ficamos um dia na casa do Walter em Jacarepaguá, a noite embarcávamos no Galeão para retornar à Europa. Surpresa, o avião da Swissair estava avariado e suspenderam o vôo, a companhia nos hospedou no Hotel Gloria até o dia seguinte, a viagem de volta tinha o mesmo percurso que na ida, Rio de Janeiro/Dakar/Zurich, na escala na África Augusta comprou um belo vestido cumprido nas cores verde e amarelo.
Em Zurich, aproveitei para ligar ao Daniel durante a conexão para explicar lhe sobre o incidente e o atraso, ele já tinha sido avisado pela companhia. Chegamos a Paris, o Daniel e a Luisa estavam a nossa espera no aeroporto, ao total eu tinha ficado cinco semanas no Brasil, todas as pessoas ficavam olhando para Augusta e eu porque estávamos muito queimados pelo sol, claro que no fim do mês de novembro em Paris era um fato raro porque ali estava um frio desgraçado, Voltamos para casa em Thorigny, era bom retornar ao “ninho”. Fomos ver meus pais, irmã e sobrinhas e pegamos o Vladi de volta.
A vida voltava a tomar seu curso normal. No mês de maio de 1976 casamos novamente, desta vez na prefeitura de Thorigny pelo civil. Após a cerimônia fomos até nossa casa para fazer um almoço com minha família reunida, estavam todos reunidos menos meu irmão José Maria e esposa, infelizmente mais uma vez não iria dar certo, o bate boca provocado pela bebida alcoólica fez com que meus irmãos, cunhadas e cunhado ultrapassassem os limites e partissem para a briga verbal, eu tinha deixado justamente meu gravador ligado, foram quatro horas de discussão com o tom de voz bastante alto, Augusta chorou muito e sentiu-se ofendida por não respeitarem nosso casamento, tratava-se de uma família muito diferente da sua, que por causa dos problemas já antigos nunca houve paz nem solidariedade, eram todos neuróticos.
Na semana seguinte convidamos para uma pequena festa meus amigos, os donos da firma onde trabalhava e colegas de trabalho, foi bem diferente e divertido sem extrapolações, estavam presentes uma turma de amigos que iam sempre comigo durante as férias a Najac, uma bela pequena cidade medieval no estado de Aveyron no sul da França, lá aprontei muito com minhas bebedeiras e fiquei conhecido pelas paqueras com as moças da região. Continuamos nossas vidas curtindo ao máximo que podíamos, íamos viajar as vezes nos fins de semana para o interior, ou quando haviam fins de semana prolongados íamos mais longe, como por exemplo a Londres aonde havia uma amiga de Augusta que morava lá. No verão de 1976 veio nos visitar a sobrinha de Augusta, a Josi, aproveitamos para viajar e lhe mostrar lugares diversos, fomos num fim de semana à Holanda, visitamos Amsterdam, e aproveitei no caminho para lhes mostrar a casa onde morava Ans e que eu tinha me hospedado alguns anos antes. Na volta à Paris (domingo) o radiador do meu carro furou, não achamos nenhuma oficina mecânica aberta que pudesse consertar o carro, a solução foi colocar goma de mascar (chicle) no buraco do radiador e parando a cada meia hora para enchê-lo de água novamente, enchíamos garrafas de água nos canais perto da estrada, chegamos finalmente a Thorigny bem tarde à noite.
Na data prevista para retorno, levamos a Josi no aeroporto de Orly para embarque e voltar a São Paulo, por coincidência saindo do aeroporto continuamos nossa viagem de férias rumo a Najac e Sitges. Era de algum modo o jeito de mostrar à Augusta parte do meu passado e me conhecer melhor, em Najac não ficamos muito tempo só de passagem, logo continuamos para a Espanha aonde antes de chegar a Barcelona paramos em La Garriga para apresentá-la ao José Maria e sua família. Quando chegamos a Sitges, Augusta ficou encantada pela beleza da cidade, nos hospedamos no Hotel Arcádia cujos proprietários eram grandes amigos de nossa família, não lhe apresentei a família por parte do meu pai porque eu tinha rompido o relacionamento onze anos antes quando morava em Barcelona. Na volta, Augusta queria conhecer algo de Barcelona, mas não dava tempo e seguimos direto em direção à França.
A saúde do meu pai tinha piorado, precisou ser internado no hospital de Lagny que ficava entre Champs e Torignhy, íamos regularmente com Augusta visitá-lo, eu ficava muito triste porque imaginava que estava chegando ao seu fim, no dia 16 de dezembro ele faleceu e a ultima pessoa com quem ele falou foi com Augusta na ultima visita, ele assegurava a mão dela fortemente no seu peito, tenho absoluta certeza que gostava muito de Augusta. Foi um grande choque para mim, no enterro e durante o velório isolei-me num canto e comecei a meditar sobre minha vida e meu pai, ele não tinha tido sorte nem eu, infelizmente nunca conseguiu me presentear com um cavalo de verdade se ele conseguisse sarar, lembrava quando na minha infância fazia a barba dele e as vezes ele gritava porque o tinha cortado com a gilete, sentia que mesmo distante dele o amava muito porque era uma pessoa bondosa, eu não estava nem um pouco arrependido de ter sido o arrimo de família e tê-lo sustentado juntamente com minha mãe, por outra parte sabia que após vinte cinco anos de sofrimento ele iria estar bem melhor assim, e que infelizmente o destino fez com que não pudesse ser enterrado na cidade que tanto amava, Sitges. Havia bastantes pessoas no enterro, foi enterrado no cemitério de Champs. Naquela mesma noite, na cama sentia que algo me apertava no peito, eu não tinha soltado nenhuma lagrima porque o meu orgulho não tinha deixado, de repente tive uma crise de chore muito forte, soluçava e Augusta me abraçou até passar.
Por causa do falecimento de meu pai as festas de fim de ano foram diferentes e menos alegres, sem menosprezar as comidas e bebidas típicas durante estas festividades. Em janeiro estava um dia chegando com atraso no meu serviço, um dos donos me chamou a atenção e simplesmente não gostei, achei que após todo o que tinha suado naquela firma para que crescesse não era justa tal observação, olhei bem nos olhos dele fixamente e dissera lhe; não terei mais a oportunidade de chegar atrasado porque estou me demitindo. Não esperava por este tipo de resposta, caiu como um balde de água fria. Naquela época a França estava vivendo uma violenta crise do petróleo porque os paises produtores aumentaram exageradamente seus preços, havia crise nos negócios e a economia estava meio estagnada, isso me ajudou a tomar a decisão por impulso de querer largar tudo e tentar começar tudo novamente no Brasil. Ainda fiquei até contratar eu mesmo meu substituto. Minha mãe quando ficou sabendo de minha decisão achou que perder meu pai recentemente e depois eu ir morar ao outro lado do mundo seria muita coisa para ela, portanto com esta justificativa dissera que viria conosco ao Brasil por um ano e depois voltaria à França.
Consegui rapidamente vender minha casa e a mobília em Thorigny, meu carro eletrodomésticos e outros objetos diversos, me desfiz de tudo para começar vida nova no Brasil com um pequeno capital.