NÃO SOU O QUE FUI

Eu não sou o que fui, nos primórdios da minha existência. Não continuo sendo hoje o que posso ter sido há três décadas atrás. Embora muitas pessoas de olhar paralítico insistam em me enxergar no período paleolítico da minha vida.

Eu não sou o que eu era, mas o que me tornei, com tudo o que aprendi, tudo o que a vida me fez.

Ainda não sou o que deveria ser, estou me tornando o que Deus quer fazer de mim. Estou em crise, sofrendo, em conflito, passando por uma tremenda metamorfose, me transformando cada vez mais.

Tenho uma força dentro de mim que pesa mais que os meus olhos pesados.

Sou uma alma violentada; uma inocência sacrificada; um coração bombardeado que volta a pulsar; um olhar ensanguentado que mais ainda sabe enxergar.

Não tenho medo de chorar, nem vergonha de admitir que sou triste, se na tristeza eu puder garimpar o ouro, como quem encontra um tesouro nas profundezas do mar.

Eu queria que as pessoas aprendessem a ser realistas ao meu respeito, parassem de fantasiar e me enxergassem como sou de verdade, com todas as minhas mazelas e os estragos que me fizeram.

Existe um abismo entre o que imaginam ao meu respeito e o que sou de verdade.

Não sou um docinho de pessoa, um anjinho, uma ‘santona’. Não nasci para viver encolhida num cantinho, não vou me recolher à minha insignificância nem me enterrar antes de morrer.

Não sou “quietinha” droga nenhuma, digo o que deve ser dito e sei que o que tenho a dizer, muitas vezes não irá agradar.

Não penso nem sinto de maneira convencional, como a maioria.

Hoje, mais do que ontem, sou mais forte e resoluta, sem nunca mais fugir de uma briga ou evitar uma luta.

De prisioneira a liberta; de lagarta a borboleta; de figurante a protagonista. O que permanece em mim é a mudança. Mudança que muitos não aceitam e tentam não perceber.

A quem me ama não peço que me aceite como sou, mas como me tornei. E entenda que mudei.

Eu não queria por mais nem um dia a vida que suportei.

Não sou como os que já nascem do jeito que deverão ser por toda a vida. Minha personalidade levou muitos anos para ser construída.