O PERIGO DA FALTA DE ASSUNTO
Num dia em que eu não deveria ter saído de casa, tive a infeliz idéia de aceitar ir a um churrasco com minha irmã no lugar em que ela trabalhava. Eu não conhecia quase ninguém. Sem saber, eu me candidatava a comparações tolas e comentários depreciativos.
Quase todos bebiam e fumavam. Dentre as banalidades que conversavam, o assunto predominante era a vida alheia. Não sei por que muitas pessoas gostam tanto de falar da vida dos outros. Talvez não tenham coisas interessantes em suas próprias vidas.
Eles passaram grande parte do tempo falando mal de uma mulher que não estava presente e que eu não fazia idéia de quem era. Mesmo que eu quisesse, não saberia dar minha “valiosa contribuição” para ajudar a falar mal de uma pessoa que eu não conheço.
Não é difícil perceber a quantidade de lixo auditivo que é produzido quando pessoas que não têm o que falar e não admitem ficar de boca fechada se reúnem. Uma imundicie sonora onde sobra barulho e falta conteúdo.
Quando o assunto se esgotou, fui a vítima da vez: zombaram o quanto puderam da minha timidez extraordinária. É sempre assim, quando as pessoas ficam sem ter o que falar, resolvem tripudiar de algum tímido que estiver por perto, talvez supondo que não irá reagir nem dar uma resposta atravessada. Se nos defendemos,eles esbravejam e nos chamam de antipáticos. Nós que quase sempre ignorados, somos lembrados apenas para ser motivo de chacota. Há aqueles seres que ainda mais sádicos, logo fazem a clássica comparação com o irmão super extrovertido que julgam melhor que o pobre tímido em tudo. Maldade pouca é bobagem. Certas criaturas parecem ter feito um curso para diabo e estar concluindo a pós-graduação.
Nunca fui tão humilhada, foi uma das piores experiências da minha vida.
Vim embora chorando, me tranquei no quarto e me arrependi amargamente de ter ido.
Acredito que todo tímido já tenha passado por situação semelhante.
Não entendo por que as pessoas quase não conversam sobre livros, música, cinema, viagens, esportes e tantos outros assuntos.
Mesmo inutilmente, eu gostaria de dar – lhes um conselho: Encha sua mente, alimente sua alma. Isso enriquecerá suas conversas e seus relacionamentos.
Eu queria também lhes sugerir que quando “necessitassem” falar mal de alguém, pensassem nos políticos desse país, tão corruptos. E falar mal de político é um assunto que nunca sai de moda.
Se eu pudesse, iria de novo naquele maldito churrasco, com as mesmas pessoas, só que nos dias de hoje. Eu os faria perceber que eles mexeram com a pessoa errada e aprender que quem fala o que quer, ouve o que não quer.