PABLO NERUDA
A voz do Chile e uma voz do mundo

   Pablo Neruda, que recebeu o Nobel de Literatura em 1971, é, sem dúvida, o maior nome das letras no Chile e um dos principais poetas em língua espanhola. Nascido Ricardo Neftali Reyes Basoalto em 12 de julho de 1904, na cidade de Parral, o poeta passou a assinar com o pseudônimo com o qual ficaria famoso em 1920 – numa homenagem ao poeta tcheco Jan Neruda. Era filho de um ferroviário e de uma professora, que morreu logo após o nascimento do futuro poeta.
   Desde os 13 anos de idade, Neruda já publicava poemas, através de contribuições para jornais da região de Terruco. Estudou francês e pedagogia na Universidade do Chile e, posteriormente, entrou para a carreira diplomática. Entre 1927 e 1935, viveu em diversos países como representante do governo chileno – o que contribuiu para que sua poesia tivesse um tom universal, mesmo enraizada na cultura chilena.
   Em 1936, durante a Guerra Civil espanhola, Neruda era diplomata em Madrid e acompanhou de perto o episódio do assassinato do poeta Frederico Garcia Lorca – o grande nome da poesia espanhola. Neruda, então, aproximou-se dos republicanos espanhóis e foi destituído do cargo diplomático. O fato é que a poesia de Neruda refletiu o momento político conturbado do entre-guerras. São dessa época textos como “Espanha no Coração” e “Canto a Stalingrado”.
   Comunista, o poeta fez sua volta ao Chile em 1943 e, dois anos depois, foi eleito para o Senado. A intensa atividade política e divergências com o então presidente Gonzáles Videla levaram Neruda à clandestinidade, exilando-se em 1949. Publicou no México sua obra-prima, o “Canto Geral”, e viveu em vários países antes de retornar à terra natal em 1952.
   Foi casado duas vezes até que, em 1955, iniciou relacionamento com Mathilde Urrutia, com quem viveria até sua morte, musa do clássico “Cem sonetos de amor” – um dos pontos altos da lírica de Pablo Neruda. Para sua amada, construiu uma casa especial, hoje ponto turístico em Santiago, chamada de La Chascona. Lá, o casal viveu seu romance eternizado em versos. A felicidade do poeta parecia completa quando seu amigo, o também comunista Salvador Allende, assumiu o governo chileno em 1970 e o poeta recebeu a honraria do Nobel por sua obra. 
   Mas, em 11 de setembro de 1973 um golpe militar iniciou o período mais intenso da repressão política no Chile. O episódio foi cruel com Neruda, que sofria de um câncer de próstata. Sua casa foi invadida, vários de seus livros queimados, o amigo Allende morto. Poucos dias depois, em 23 de setembro, doente e deprimido, Pablo Neruda faleceu em Santiago. O corpo de Neruda foi velado, por insistência de Matilde Urrutia, em La Chascona, que tinha sido vandalizada. Amigos do poeta, muitos deles que seriam mortos pela ditadura de Pinochet, protestaram contra o golpe. 
   O poeta deixou – além de sua vasta obra já publicada – oito livros inéditos, que viriam a público nos anos seguintes, como “A rosa separada”, “O coração amarelo”, “Elegia” e “O livro das Perguntas”. Matilde, que viveu até 1985, lutou para restaurar a casa e o legado de Neruda. 

(Parte da coletânea HISTÓRIAS DE POETAS, de William Mendonça. Direitos reservados.)