TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA
O inconfidente

   Se o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, não tivesse assumido a frente e pago com a vida por participar do principal movimento de independência do Brasil, um poeta talvez tivesse se tornado a figura máxima do que ficou conhecido como Inconfidência Mineira: Tomás Antônio Gonzaga. Assim como outros amigos - tal qual Cláudio Manoel da Costa e Inácio Alvarenga - Tomás era um jurista de carreira e um poeta por excelência, quando o fim daquele movimento o levou para a prisão e, posteriormente, ao exílio.
   Ainda jovem, bem sucedido já como juiz, Tomás Antônio Gonzaga era um dos principais nomes da Arcádia Ultramarina, o grupo de poetas neoclassicistas radicados nas Minas Gerais daquele tempo (fins do século XVIII). Exaltando os ideais românticos e pastoris, virtuoso sonetista e conhecido pela capacidade de versejar de improviso, Gonzaga ganhou notoriedade, especialmente, pelas liras “Marília de Dirceu”, que tratam do seu amor pela jovem Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, e pelas Cartas Chilenas, escritas em parceria com Cláudio Manoel da Costa.
   É exatamente nessas últimas que Gonzaga denuncia sua participação na Inconfidência, fazendo ataques ferinos às autoridades portuguesas da época. Nos textos, Gonzaga assumia a persona de Critilo, um morador de Santiago do Chile que contava ao amigo Doroteu (Claudio Manoel da Costa) fatos da gestão absurda do Fanfarrão Minésio (que representava, de fato, o então governador Luís da Cunha Menezes). Sendo o próprio Gonzaga um português, nascido em 11 de agosto de 1744 na cidade do Porto, filho de pai brasileiro e mãe portuguesa, o poeta fez do Brasil sua pátria e lutou por sua libertação de Portugal. 
   Em 1789, Gonzaga foi preso. Cumpriu pena de três anos na Fortaleza da Ilha das Cobras, no Rio. Seus bens foram confiscados. Por ironia, a prisão ocorreu pouco tempo antes de seu ansiado casamento com Maria Dorotéia - que nunca mais aconteceria.  Quando, em 1792, a pena de morte é modificada para degredo e o poeta é enviado a Moçambique, a primeira parte da Marília de Dirceu, com 33 liras, é publicada em Portugal. A segunda parte, composta por 65 liras, só veio a público em 1799.
   E foi lá, em Moçambique, que morreu o poeta, supostamente em 1810, sem ver a sua terra livre, sem ter podido viver o amor que sua poesia imortalizou e sem ser aclamado como herói. Mas, ainda naquele século, outra geração de poetas resgatou a importância daqueles árcades, que deram um sopro de qualidade à iniciante poesia brasileira. Castro Alves, principal nome da terceira geração romântica, elevou, enfim, Gonzaga à categoria de herói, ao escrever a peça teatral “Gonzaga, ou a Revolução de Minas”.
   A relevância de Tomás Antônio Gonzaga também pôde ser registrada na geração seguinte. Ele, mesmo sendo português de nascimento, foi escolhido pelo filólogo e poeta pernambucano Silva Ramos como patrono da cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras – que foi ocupada por escritores relevantes como João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar, Alcântara Machado, Ivan Junqueira e até mesmo o presidente Getúlio Vargas e o magnata da comunicação Assis Chateaubriand. 

(Parte da coletânea HISTÓRIAS DE POETAS, de William Mendonça. Direitos reservados.)