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CRÍTICA LITERÁRIA:

Maria de Fátima é uma poeta, cuja escrita vinga pela beleza que a imanta, por nos devolver a possibilidade de uma escuta poética do mundo e explorar a imaginação da matéria a partir do veio onírico, de arquétipos como a água. Isso sem recorrer a um regionalismo tacanho, ao fetiche da cor local ou da temática telúrica. Em seu trânsito Paraíba-Pernambuco, ela se destaca como caminho possível contra o recesso da poesia.
Um dos méritos de sua poesia está na musicalidade, na consciência da motivação do signo. Ela compreende que, se o sentido que o fonema propõe não é imanente, da natureza da palavra (a linguagem não adere à coisa), tampouco é inteiramente arbitrário como supôs Saussure. Em comunhão com o corpo do texto, os sons sugerem significados – assim já nos mostram os estudos de Maurice Grammont e de Wolfgang Köhler. Seu texto vai, portanto, na contracorrente de muitos contemporâneos, que dessonorizam o verso, esquartejado. Tal labor da melodia verbal relembra inevitavelmente Cecília Meireles, quando, em meio a alguns experimentalismos deletérios, recuperava a essência da poesia, para usar a feliz fórmula de Eliot.
Fluida, a escrita de Fátima traz sempre a esperança de fixar grandezas: “o riso / de netuno / ecoa no mar.../ e nas marés / vão caravelas / à toa... / e traz o vento / vagas / ao convés...” Tudo posto, contudo, em letras minúsculas, como quem falasse baixo e discreto. Ali, a palavra é sempre metáfora, navegando para reencontrar sua origem, Ítaca simbólica. Função maior, aliás, da poesia: devolver a linguagem às suas fontes, já dizia Borges. Em sua palavra aquática, a língua, em linhas e símbolos, escoa como rios, tal como se lê no título do seu primeiro livro, Discurso das Águas.
Por tantas evidências, é preciso celebrar a poesia de Fátima, em que se revela a paixão da forma, razão da arte – da literatura.

PERON RIOS

MINIBIOGRAFIA:

Pernambucana, nasceu em 1960. Viveu a infância e a adolescência em Olinda. Publicou os livros de poemas Discurso das Águas (João Pessoa, 2006), Cores do Outono (São Paulo, 2012) e Certa Poesia (Lisboa, 2013). Participou, entre outras, da Coletânea Ladjane Bandeira de Poesia (Recife, 2006/2009) e da Antologia Entre o Sono e o Sonho (Lisboa, 2014).