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Perfil

Biografia histórica do autor.
 
  Paul Coast nasceu em uma grande capital. Neto de um avô de origem africana, do outro de origem índia, de uma avó espanhola e de outra austríaca. Quando ainda era menino seus pais mudaram-se para uma pequena cidade monoindustrial, e implantada pelo Governo Federal. Uma empresa-cidade estatal.
  Cresceu em companhia de muitos irmãos na cidadezinha, que assim como outras do seu gênero, não possuía diversão, lazer, opções de vida, de estudos, cultura ou outras dessas coisas essenciais para o desenvolvimento humano. E como muitos jovens dali ele seguiu o caminho das gangues de luta, e mais tarde das de motocicletas. Vivendo tudo de ruim que elas trazem, inclusive assistiu muitos de seus amigos morrerem em acidentes e outras coisas do gênero.
  Após ele próprio sofrer vários acidentes violentos nas motos, e uma passagem pelo estado de coma, Paul finalmente acordou para a vida. Ingressou em uma grande universidade da capital, se formou em engenharia, e foi trabalhar justamente na única indústria de sua cidade.
  Ele atuou a partir daí com o meio ambiente, exercendo a função de auditor nas instalações de seu departamento da enorme fábrica. Foi o início de seus problemas, quando após várias descobertas de auditoria, se viu de frente pela primeira vez com um esquema organizado de roubos e fraudes que agia impunemente dentro da empresa.
  Basicamente este grupo, no departamento de Paul, jogava óleo lubrificante novo fora através de vazamentos “inevitáveis ou acidentais”, somente para em seguida comprar mais quantidades, acontecendo então o recebimento criminoso das comissões de compra em dinheiro, carros, etc.
  O agravante descoberto foi em relação as quantidades, já que milhões de litros de óleo novo eram lançados na natureza sistematicamente.
  A partir desse episódio Paul conheceu as duas faces da vida:
Em uma primeira época ele foi promovido para ser auditor interno do presidente da empresa, onde desvendou outros roubos em contratos, compras e concorrências fraudulentas. Conseguidas com laudos técnicos fajutos, gerados por engenheiros da mesmíssima quadrilha de antes.
  Com mais esta descoberta Paul virou alvo, e o poder criminoso escondido até então mostrou sua face. Primeiro conseguindo transferi-lo, apesar do presidente, para uma área onde ele não era especializado, a análise de sistemas de computadores. Onde ele teve que sair de circulação enquanto estudava a nova matéria.
  Quando voltou diplomado no novo curso Paul continuou suas investigações, e mesmo com pouco tempo de prática descobriu de novo um outro braço da mesma quadrilha. E dessa vez ela havia produzido mil softwares piratas para serem usados em PCs da própria empresa, enquanto na verdade eles haviam comprados apenas cinco legítimos, que foram pirateados até darem os mil.
  Mas a compra total foi realizada “normalmente”, com a quadrilha embolsando a verba destinada ao pagamento dos mil “verdadeiros”.
  Por todo o tempo em que esteve como auditor Paul recebia ameaças de morte, agressões, atentados contra sua casa, dirigidas somente para ele, para que ninguém soubesse ou acreditasse que pessoas tão eminentes e influentes na pequena cidade, pudessem estar fazendo aquelas coisas ruins.
  E mesmo no tempo da fábrica isto já acontecia, onde seu salário nunca foi corrigido na mesma proporção dos outros empregados “cegos”. Assim como ele era excluído dos cursos de aperfeiçoamento, viagens técnicas, conferências, etc.
Inclusive uma das formas de retaliação que mais usaram contra ele, foi escalá-lo seguidamente em todos os plantões de datas, feriados especiais, seu aniversário, ou de algum parente próximo.
  Eram constantemente plantões de madrugada, quando seria muito mais difícil para ele continuar investigando algo.
  Por esta época Paul já não tinha mais o apoio das pessoas da presidência da empresa, mas a quadrilha também não quis matá-lo ou mesmo demiti-lo, talvez com receio de que ele já estivesse com provas guardadas.
  Mas em compensação partiram para o ataque contra ele, e agora também contra seus irmãos que trabalhavam na mesma empresa. Que passaram a ser barrados em tudo que almejavam profissionalmente.
  Até que resolveram colocá-lo em uma nova área bem desconhecida para ele. Paul chegando lá ainda como auditor e sem o apoio de mais ninguém, já que todos já sabiam que ele era um sujeito marcado, procurou ao invés de estudar para descobrir o roubo, o que demoraria anos devido a complexidade do local. Ele preferiu então procurar roubos por semelhança. Porque se a quadrilha era sempre a mesma, e estava enraizada por toda a fábrica sem sofrer nenhum tipo de oposição, até então, era provável que roubassem seguindo sempre os mesmos métodos, o Modus Operandi.
  Seguindo essa lógica Paul descobriu uma nova compra de milhões de litros de óleo, comprados através da concordância técnica de engenheiros corruptos do grupo, que montaram laudos de engenharia perfeitamente falsos e furados tecnicamente, favorecendo o produto-insumo de pior qualidade. E que ainda por cima era fabricado por laranjas da quadrilha.
Paul usou pesquisas nos arquivos dos departamentos de compras, concorrências e contratos para descobrir a fraude milionária, e não sem antes comparar as performances do produto superior preterido na sua, e que não o fora em outras fábricas do País semelhantes à dele, com o produto introduzido fraudulentamente.
Até que por fim, constatar que o produto da quadrilha além de ser ilegal era de péssima qualidade.
  O fato da descoberta causou um enorme reboliço entre os criminosos, porque dessa vez apareceram os nomes de figurões da engenharia da empresa, nos laudos técnicos fajutos, contratos e compras da operação criminosa.
  Depois dessa Paul passou a ser caçado na empresa e na cidade, física e emocionalmente pela quadrilha. Perdeu o resto de sua dignidade e convivência social em campanhas orquestradas de difamação, na qual o objetivo principal era desqualificar o investigador em todos os sentidos. Sofreu punições seguidas, suspensões, péssimas avaliações de desempenho, isolamento e por fim foi transferido para uma área super insalubre, onde sempre era escalado de madrugada, e mesmo assim não mais com a função de engenheiro. Neste período ele foi rebaixado para menos do que um técnico.
  Seus irmãos na empresa também sofreram retaliações tais como:
Rebaixamento.
Demissão.
Redução de salário.
Bloqueio de ascensão de cargo.
Além das inevitáveis pressões e jogos psicológicos sobre como poderiam ter um irmão igual ao Paul.
  Mas de alguma forma ainda não descoberta, que Paul desconfia ter sido uma certa secretária de um dos chefões, tudo isto vazou para o sindicato dos trabalhadores da empresa, que por sua vez já vinha de um certo tempo brigando e denunciando partes das falcatruas da mesma quadrilha.
  O sindicato publicou a história em seus boletins, ocasionando um escândalo difícil de ser abafado na pequena cidade, e finalmente um dos chefões teve que ser demitido da empresa, para aplacar a raiva dos trabalhadores com tudo aquilo.
  Paul passou então a ser perseguido descaradamente a partir desses episódios, e as ameaças de morte já eram feitas em qualquer lugar da cidade.
  E foi quando infelizmente os anos de perseguição, ameaças, desilusões, inseguranças, fracassos, culpas pelos problemas com seus irmãos, e o descrédito geral, produziram em Paul a mais profunda das depressões.
  Ele sofreu vários acidentes dentro da empresa, e passou também a apresentar ansiedade, insônia, abalo no sistema nervoso, etc. Seu casamento com uma boa mulher se acabou, seus amigos se foram, e mesmo em sua família alguns ainda achavam que aquelas pessoas importantes e impolutas da cidade, não poderiam ter cometido aqueles crimes.
  Mas a história não acabou aí, nessa altura os desmandos eram tantos dentro da empresa onde a quadrilha praticamente já detinha o poder total, dando continuidade aos roubos em tal escala, que a empresa entrou em convulsão financeira. Simplesmente não sobrava mais dinheiro para pagar o salário dos trabalhadores, que eram os únicos que não faziam nada ilegal.
  E aconteceram greves violentas, atentados, sumiços de pessoas, agressões, intimidações, ameaças, assassinatos de trabalhadores, de sindicalistas, e até a explosão de um monumento na cidade, com o uso de explosivo plástico C-4.
  Um monumento dedicado aos três trabalhadores assassinados havia pouco tempo atrás, em uma longa e turbulenta greve, que inclusive só terminou com o cruel episódio.
  Que também contou com a invasão da pequena cidade por forças variadas do aparato policial e das forças militares. Que travaram uma verdadeira batalha campal com seus habitantes.
  Tudo explicitamente contrariando a lei, já que tais atos bélicos foram executados de noite, quando as balas traçantes cortavam a escuridão para indicar aos comandantes de tropas as direções a seguir, dentro da cidade.
  Os três trabalhadores foram covardemente assassinados durante a noite, dentro das dependências da empresa, por apenas três tiros de calibre especial e de precisão, um para cada um, tiros do tipo “sniper” profissional, com equipamentos de mira noturna, a longa distância.
  Tiros escolhidos, certeiros e letais, que posteriormente tiveram seus buracos reveladores camuflados por outros tiros, dados a curta distância por pistolas e fuzis normais.
  O monumento em homenagem aos três mortos, idealizado pelo maior arquiteto do país, o Sr. O. Niemeyer, foi explodido na mesma madrugada de sua inauguração, sarcasticamente no primeiro de maio de 1989 o dia do trabalho.
  Mas a pedido do mesmo grande arquiteto, nunca foi restaurado completamente, e está lá no mesmo local até hoje, semidestruído pela explosão covarde, como uma prova material do descaso das autoridades federais com o episódio nunca apurado.
  A frase escrita logo após o atentado terrorista ao seu monumento, pelo velho arquiteto, um dos símbolos do enorme País, paira eternamente sobre o triste episódio:
“-Nada, nem a bomba que destruiu este monumento poderá deter os que lutam pela justiça e liberdade”.
  E ainda, não satisfeitos “misteriosamente” logo a seguir, o Sr. J.A., principal líder sindical da greve motivadora de todos os eventos violentos, sofreu um “trágico acidente” rodoviário vindo a morrer no local.
“Acidente” este que guarda semelhanças incríveis com notórios acontecimentos vindos dos restos de uma época sombria, que ainda teima em estender alguns de seus tentáculos até os dias de hoje.
  Talvez vindos de remanescentes, talvez de simpatizantes, mas sem dúvidas as semelhanças com os procedimentos dos operadores da famigerada “Operação Condor” são muitos. São semelhanças com mais dois “acidentes” igualmente rodoviários, que nunca foram apurados devidamente:
  Um com um certo Ex-presidente da República, o Sr J.K. que falava em tentar se eleger de novo, assustando com isso determinados setores do País.
E o outro com a indignada Heroína do Túnel, a Srª Z.Z.A., que nunca se cansou de denunciar o “sumiço”, tortura ou assassinatos de pessoas muito próximas dela ou não.
  Até que por fim, a grande e corrompida empresa foi vendida para a iniciativa privada, que não precisou esperar muito tempo para se livrar da enorme quadrilha.
Uma coisa que os próprios criminosos fizeram sozinhos, porque eles sabiam que não teriam chances com uma administração normal e honesta.
Os criminosos simplesmente se retiraram, e hoje, a empresa está livre desta verdadeira praga humana.
  A cidade “vai indo”, apesar de seus Prefeitos que se comportam como síndicos, e se esquecem de que o povo precisa mesmo é de empregos, verdes é claro. Se esquecem que empresário não é papai noel. E por isso mesmo os empresários que se preocupam com as coisas que geram empregos, não devem ser hostilizados indevidamente, principalmente em uma cidade monoindustrial.
  Uma cidade que nunca se recuperou dos próximos de quarenta mil empregos exterminados, e isso em um universo não muito maior. Foram milhares de famílias largadas a própria sorte com seus pais, filhos ou filhas demitidos, uma maioria absoluta de pessoas inocentes.
  Foi quando o Governo Federal da época criminosamente não acionou nenhum tipo de plano de contingência, para recolocar ou treinar, as milhares de pessoas desempregadas pela privatização, que perderam empregos diretos ou mesmo os multiplicados indiretos.
  Mas o tempo mostrou que tudo fez parte de uma vingança mesquinha, cuja causa foram os assassinatos dos três trabalhadores da cidade, um fato que provocou tamanha revolta no resto da população do País, que como consequência o Presidente da República da época, e seus dois comparsas políticos de São Paulo. Viram inacreditavelmente seu melhor homem de confiança, perder as eleições já praticamente ganhas, para prefeito. E justamente na maior e mais importante cidade do País, e ainda por cima, segundo palavras do próprio, para uma mulher! Erundina.
  Mas, como retaliação este homem com “h” minúsculo se vingou de forma baixa, colocando logo em seguida a pequena cidade, que ousou contrariá-lo, em primeiro lugar no recém criado “Plano de Privatizações Federal”. Que cabalmente intencional em muitos casos fundamentais, e não em alguns outros, cometeu todos os erros e desmandos possíveis e cabíveis numa ação dessas.
  Inclusive as coisas escabrosas como os assassinatos e a explosão do monumento de Niemeyer, nunca foram devidamente apurados. E para encerrar o caso, o tal Presidente bigodudo da época, o Sarney, mandou queimar todos os arquivos, dos medonhos fatos acontecidos. O exército brasileiro cumpriu rapidinho a ordem canalha, e queimou tudo o que havia sobre “A Sangrenta Greve da CSN em Volta Redonda, RJ”.
  Paul tem noção que esses fatos serão aos poucos varridos para baixo do tapete, pois o Governo tem pressa em virar esta página negra da história do País, e por isso e outras coisas mais, ele não trata desse assunto no seu livro.
Paul foi diagnosticado por vários psiquiatras solos, psiquiatras em juntas médicas, que também continham neurocirurgiões e outras especialidades, enfim, como tendo desenvolvido esquizofrenia, depressão e bipolaridade. Doenças que ele nunca teve antes da luta que travou contra o sistema corrupto da sua cidade.
  Ele continua em tratamento dos seus problemas e sequelas, uma vida entre os remédios controlados, doses diárias cavalares de cafeína e o inevitável alcoolismo. Ele não consegue mais se libertar de seu comportamento bipolar.
  Mas nem tudo foram perdas, e generosamente, por absolutamente não ser o responsável, o novo dono da empresa reconheceu as tentativas de desmantelar a quadrilha empreendidas por Paul, e os danos que esta luta havia causado em sua vida. O magnânimo empresário destinou diretamente para ele, voluntariamente através da Justiça, uma verba indenizatória trabalhista, além de apoiá-lo em seu tratamento.
  Com tais ações humanitárias o empresário B. Steinbruch praticamente salvou a vida de Paul, já que tratamentos médicos neste País não são nada baratos. Além de também demonstrar suas boas intenções bem além do falatório inútil dos políticos locais, que teimam em não reconhecer que sem a privatização, a empresa e, portanto a cidade estaria hoje falida por tantos roubos, corrupção, desmandos, incompetência e demais coisas falidoras, que somente a iniciativa privada conseguiria resolver. Verdade, a privatização era mesmo a única saída, mas o tal “Presidente da República” da época & JSerra/FHC é que a fez igual a cara da mãe deles.
  Hoje Paul tenta seguir sua vida, consciente que sua geração de certa forma está entre as últimas que viram, pelo menos grande parte do Mundo como ele era, se bem que isso até mesmo Phil, a marmotinha da Pennsylvania, já percebeu.