Ouvindo o som da chuva de dentro do seu quarto vazio de paredes brancas e manchadas, ele sonha com o amor que jamais terá, fingindo-se de poeta. A dor no seu peito pede pela morte, a cabeça faz perguntar os "porques" e o corpo faz pose de intelectual.
Ele sonha acordado fingindo-se de qualquer coisa além de si mesmo.
A sua escrivaninha é ocupada por um caderno velho de rascunhos, algumas canetas e uma xícara de leite com chocolate, que acompanha-o junto à lapiseira na sua boca e o lápis na mão direita a escrever no caderno surrado com linhas sem sentido fingindo-se de escritor, daqueles bem culturados que fumam cigarro e tomam café.
A criança que odeia a si mesma e sua vida desintersante não faz nada além de escrever sobre si mesmo, usando as frases mais bonitas limitadas pelo seu linguajar simplório, para tornar sua história "digna" de ser lida. Tornando-a, talvez, mais interessante.
Cultivando a sua infelicidade, a criança torna-se feliz, mas ao desenhar o ponto final da sua lingua élfica, volta ao estado melancólico da vida de um curitibano qualquer... Até suas mãos voltarem a coçar daquele jeito insano e ele colocá-las no seu caderno para traçar mais um parágrafo exagerado do mais simples cotidiano de um jovem corno.