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          Herdei de minha mãe — que, por sua vez, herdou da avó dela — este gosto pela redação descompromissada, lúdica, coloquial. Para mim, ainda está muito nítida, embora tantos anos depois, a lembrança dela escrevendo com uma caneta-tinteiro, horas a fio, num caderno grande e volumoso, de capa dura — e que se perdeu no tempo — os textos de sua própria criação.

          Ela escrevia crônicas, por vezes, com as histórias de nossa família e de nossa vida; algumas emocionantes e outras, divertidíssimas. Escrevia contos e escrevia poemas, numa redação escorreita e lírica.

          Talvez sonhasse em publicar aquilo algum dia, mas os tempos eram outros; não havia tantas facilidades para isto, quanto agora. Assim, o seu privilegiado público leitor se limitava ao meu pai e, principalmente, aos seus quatro filhos, que éramos nós, o seu restrito e ardoroso fã-clube.

          Estou seguro, portanto, de que esta ânsia de escrever, que me tem acompanhado pela vida afora, é uma necessidade que está atrelada a esta origem de que falo. É muito mais do que uma simples questão de prazer e vontade: é uma necessidade que carrego na minha informação genética.

          Com a singeleza de quem considera escrever algo gratificante por si só, mas não tem qualquer pretensão literária...