Envolvi-me em meus planos, tracei-os tão perfeitos quanto
em sonhos. Encarei os percalços e as quedas com a coragem
de quem quer com o coração o mundo desbravar. Acreditei
em cada verdade e em cada mentira, retirando das palavras
toda força que queria. Deixei-me guiar pelo que em meu
peito batia. Esforcei-me para que nenhum laço fosse
desfeito, para que no cristal trincado nada fosse
perdido. Quis esconder perto de mim tudo o que podia.
Escondi-me de mim mesma.
Descobri então que o clarear do dia não depende do abrir
dos meus olhos. Entendi que existe um plano B. Que por
mais que haja uma previsão do tempo, os ventos podem
mudar de rumo. Que a perfeição lança fora tudo o que há
de surpreendente no que está fora do lugar. Percebi que
não posso abraçar o mundo. Hoje certifico-me de que há
caminhos sem volta, mas há também aqueles em que sempre é
possível recomeçar. Passo a traçar outros planos, sem
esperar do dia o nascer do sol. Faço graça das
exigências. Piada dos meus erros. Das memórias o impulso
para um novo caminho. Dessa vez com outro olhar.
