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Falar sobre mim. Ai meu Deus que sufoco!Uma frase que me despertou muito e que somente vim a aprender o significado depois dos 30 anos "conheça-te a ti mesmo e arma-te contra a ti mesmo". O pior é que tem sempre aquele lance da esfinge - pensava que a esfinge era coisa de egipcio, mas descobri que carrego uma esfinge dentro de mim e que por mais que eu tentasse entender o que ela dizia eu sempre estava sendo devorada. Ai que desespero! Acho que pra todos nós, saber quem somos é o momento mais dificil. Decifrar-se... Ou devorar-se... Em momentos infinitos de dúvidas e conchavos, muitos conchavos... Conchavos com aqueles que nos rodeiam no sentido de eles não nos devorarem. Coisa impossível, já que nos momentos atuais o que mais se ver é um devorando o outro mesmo que não saibam que são esfinges. Somos verdadeiramente enigmas e somos enigmas não só para com a gente mesmo, mas para com o mundo que nos cerca. E assim vivemos, vivemos nos devorando com vibrações de amor, com pensamentos de dúvidas, com sentimentos de ciúmes, invejas, traições, violências... Tanta violência! Como encontramos violência nessa trajetória finita e indecifrável que é a vida! Apesar de sabermos que a essência mais pura do amor "já fugiu da terra". Escafedeu-se pelo infinito eterno milimetricamente escondido entre as poeiras cósmicas e as saberdorias milenares deixadas pelos grandiosos magos e cientistas cabalistas, astrológicos, numerólogos, indecifráveis homens esfinges, que apesar de imaginarem-se definidos também nos confundiram com palavras difíceis, e conclusões mais difíceis ainda e com medo, muito medo de que um dia chegassemos a decifrar a esfinge que somos e a esfinge que os outros são.
Jogos, somente jogos! Somos todos simples como pombas que esfoaçam no território desconhecido chamado tempo, e tempo que se chama vida. Somos sagazes como gazelas, que saltitam nos campos e nem sabem de onde vieram e nem para onde vão.
Quem sabe para a boca de um ilustre leão? Rei dos matos, mas não reis de si mesmos já que morrem como nós. Somos prudentes como serpentes, galgando passo a passo a estrada do tempo que se chama vida, mas não queremos engolir sapos. Assim se alguém nos obrigar a algo que não queremos viramos outros bichos dessa vez peçonhentos aranhas caranguejeiras, mortíferas feras desenhadas pela raiva, pela ira, perdendo a pomba e vivendo vivendo a quimera de outrora tão mansa e branca voando...
No mesmo instante somos gazelas que mesmo sagazes morrem na companhia de uma idolatria que não questiona mas endeusa, não a si mesma porque sagacidade não é muito valorizada e o ser esfinge que Deus criou na terra joga fora, lá na lata do lixo essa dádiva pensando que nada vale para sua segurança na terra.
Ou então quem sabe nos tornamos prudentes? Ai nasce a serpente, mas repuscada de cores venenosas entre o preto e o vermelho espantamos ou engolimos coisas maiores que sapos. São os lados contrários de cada esfinge.
Ah!! Quisera me conhecer, poder definir além do finito ser o que mora por trás de mim.
Ah!! Quisera encontrar quem me decifrasse, me dando o recado de Deus para uma boa caminhada, tranquila, elevada quase uma brisa.
Mas, coisa impossível já que sou uma esfinge, simplesmente esfinge.
Ah!! Quisera dizer palavras cheias das mais lindas verdades. Mas como achar-me diante de tantos espelhos, e muitos rebuscados de sentimentos, mais indecifráveis ainda?
"Somente Deus conhece Deus em sua figura simples e hieroglífica" - Sou esfinge, ou seria hieroglífica? Não sei... Talvez os dois.
Mas verdadeiramente decifrar-me, falar sobre mim é dificil, as vezes até inconcebível, dependendo do estado de espírito. Mas sei que tenho qualidades, mas sei que tenho amor, ele ainda não fugiu de mim. Sei que ainda sou "amante a moda antiga", ainda espero as flores, ainda espero pelo "amasso no portão", o príncipe, o cadilac, a dança ao luar e tudo mais.
Quer saber? Isso não tem mais importância, o que me resta é a saudade. Doi... Tento guardar em meu ser, lá bem profundo. Pra ninguém achar, nem eu... Um tanto esquecida porque nos dias de hoje os saudosos são tolos, são fracos. A ternura morreu em todos nós, olhamos as nuances de responsabilidades, confundimos tudo, imaginamos que ser responsáveis é ser sofridos, doloridos, tristonhos e envelhecemos pensando tais bobeiras, tortuosas que levam a morte sem nos decifrar, e continuamos esfinges em busca de um lugar no infinito. Antes de morrer pela velhice traiçoeira deitamos nossa cabeça ao travesseiro, amigo e companheiro, e nos deleitamos em buscar Deus em uma prece, em uma lágrima. Passamos a dormir nosso sono na igreja, nas aleluias, mas não admitimos que a responsabilidade de nos decifrar é só nossa.
Nem ousamos olhar no espelho, nos escondemos e por fim em um momento qualquer uma semente renascida das cinzas que foram nossas - um filho, um neto, um bisneto - nos faz renascer numa lembrança de amor infinito que leva a reviver no Deus que procuramos na terra, e encontramos naqueles que não nos esquecem, nos amam. E assim nos conhecemos, nos deciframos, somos felizes, infinitos na memoria e no coração daqueles que ficam.
Enfim nos deciframos... e o buscamos uma vida se torna apenas lembranças e ai ficamos saudade... Mas ainda não é fim, talvez o começo de um novo anseio... VOLTAR - DECIFRA-ME ou DEVORO-TE, este é o meu retrato.
Zelia Vilarinho