Autores

Perfil

Donde venho sou poeta, amigo,
Trazendo, dentro, comigo,
A canção de quem chorou?
Venho das brisas errantes,
Venho das plagas distantes,
Onde a saudade morou;
Venho do verde das matas,
Das cantigas das cascatas,
Da sombra dos umbuzeiros;
Venho das sombras cansadas,
Dos cochilos, das manadas,
Do canto dos pegureiros;
Venho da vaga ignota,
Da grimpa serena, imoto,
Da primavera ridente;
Venho das monções flagrantes,
Das folhagens sibilantes,
Venho do acaso tristonho,
Do campo verde risonho,
Das tardes mansas de estio;
Venho dos longos abrolhos,
Do pranto que banha os olhos,
Das longas noites de frio;
Venho da bruma caída,
Da folha seca fugida
Ao vale da imensidão;
Venho do canto da fonte,
Do patético horizonte,
Do imo do coração;
Venho do canto da ave,
Do desabrochar suave
Da flor agreste, sozinha;
Venho da louca procela,
Do sorriso da donzela,
Da saudade que definha;
Venho da lua lacrimosa,
Venho da estrela chorosa,
Do sorriso da criança;
Venho da flor da montanha,
Singular, divina, estranha,
Do perdão e da esperança;
Venho das velas batidas,
Das notas graves sentidas,
Da bonança, da magia;
Do soluço das quebradas,
Da inércia das cumeadas,
Da magoa, da nostalgia;
Sou poeta, sou tristeza,
Sou filho da natureza,
Gêmeo da simplicidade;
Sou poeta, sofro tanto,
Cada estrofe do meu canto
É uma estrofe da saudade.
(...e sigo desenhando letras...)