Gosto de escrever. Aliás, gosto da linguagem. Mas não é um gostar manso e reconfortante; minha relação com as letras é complexa e ambígua. Uma paixão que avilta e apazigua, que atrai e repulsa, e, por se dar assim num campo de conflito, entre a guerra e a paz, tem o poder de  me manter alerta.
          Essa prontidão para o embate a que a linguagem me incita advém do reconhecimento de sua natureza absolutamente estruturante do humano. Ao que tudo indica, somos seres fabuladores, por excelência, criadores de histórias, de narrativas. Esse é o nosso expertise, a técnica que desenvolvemos para sobreviver e se destacar no mundo natural. E o principal  instrumento dessa técnica de sobrevivência, de adaptação, é , sem dúvida, a linguagem, especialmente a língua articulada.
          Ocorre que a língua é um sistema econômico de comunicação. As palavras, que compõem a estrutura de nossos enunciados, são sacos compressores de uma multiplicidade de eventos e seres que portamos em nossas incursões, pequenas caixas classificatórias onde depositamos, como crentes, uma gama imensa de impressões e percepções que recolhemos do campo de batalha da existência humana, celas onde aprisionamos as diferenças para torná-las semelhantes.
          Os textos a que me proponho publicar aqui nesse espaço são fruto dessa reflexão; são armas que empunho para combater as saraivadas normatizantes que a linguagem impõe nas relações cotidianas, ao reduzir a complexidade das experiências humanas a traços generalizantes.
          Essa é a minha declaração de guerra apartidária e sei que não estou sozinha nessa estratégia. Compartilhando um reduto poético,  de poetas ou prosadores, sensíveis e anônimos, sinto que estou do lado certo. Posso, portanto, nessa arena, apresentar meu nome de guerra: Arché, um termo grego, provavelmente enunciado pelos primeiros filósofos gregos ( pré-socráticos), para dar conta da noção de princípio, da força que dá vida à natureza, da lógica que a governa. E convidá-los a visitar o site www.orbitas/recantodasletras.com.br onde pretendo reunir o arsenal de minhas ponderações.