Cresci num ambiente musical, meu pai, André Afonso, tocava violão e cavaquinho. Desde pequena com um hábito forte de leitura, a vida familiar liricamente permeada de poesia, todo o ambiente bem fértil para o estímulo da escrita. Houve um despertar. A responsabilidade de ser escritora é muito grande, não me considero como tal, faço exercícios poéticos literários. Sinto uma estranha necessidade de escrever para me sentir melhor na vida, no mundo.Escrever é uma necessidade profunda e um prazer, porque após a construção de um poema o sentimento é de me livrar de algo que doía, ou me incomodava, como uma pedrinha dentro do sapato, é expulsão.
Nos meus poemas rezo estranhas orações, as profanas e as sagradas... A essência de minhas lembranças poéticas é a relação com elementos da natureza: o profano e o sagrado. È o jeito em que me situo no espaço, minha concepção do tempo em que vivo.
É simbiose e ao mesmo tempo o limiar entre estes modos de ser o profano e o sagrado. São as rosas profanas com as quais fantasio a vida, mas, são especialmente, as rosas sagradas das minhas lembranças, os segredos, a verdade e o amor.
É a melodia das águas da lembrança onde corre um rio de saudades e lágrimas, como a inocência de uma criança, trazendo consigo as flores de maio! E, nessa simplicidade, a beleza do singelo!
São minhas experiências, minhas possibilidades, meus enredos e segredos dionisíaco e apolíneo, evidente no alicerce de minha poesia, essa relação com a paisagem, a natureza, musicalidade, beleza e minha trajetória na vida no lugar onde nasci, na minha aldeia, minhas raízes e o meu porto, terra forte na qual construir meus laços, minhas memórias: Cruz das Almas, Fazenda Araçá e na Fazenda Campo Limpo.