Nunca fui muito de fazer críticas e elogios às obras literárias. Gosto ou não, e isso é uma questão pessoal. Ao longo de décadas de relacionamento com a literatura, percebi que o mais importante, o que fica mesmo, não é tanto o resultado em si, mas o gesto. Escrever é liberar a alma, é buscar nas palavras a melhor forma de traduzi-la, num gesto abnegado e solitário, que poucos são capazes de fazer — e isso realmente é o que tem valor.
Calazans é um grande poeta menor. Ele não se esconde, em nenhum momento, atrás de uma forma ou de um personagem. É límpido, transparente, verdadeiro. Poderia se aventurar a formas mais sofisticadas e complexas da expressão poética e literária. Mas não. Opta pelo caminho da sua alma, transformando-a numa expressão genuína de seus sentimentos e ideias. Não é isso que esperamos da poesia e da literatura?
Aqui temos um bom exemplo dessa coragem e destemor. E o simples fato de o autor se atirar nessa busca, de enfrentar sua verdade, já é capaz de produzir momentos tocantes, de identificação e emoção. Versos que ecoam uma alma coletiva, frases que traduzem reflexões comuns a todos, momentos tão rotineiros perpetuados com frases simples como a vida.
Além de tudo, Calazans de tem uma história de vida intensa em que cada episódio está sempre incorporado de paixão pela vida e pelas pessoas. É um apaixonado. E não é possível refreá-lo, jamais. Assim como não lhe foi possível conter essa gesto de amor, essa pequena, intenso e contundente manifestação poética de sua vivência. Perambular por essas páginas será sempre uma lição de vida, de poesia e de paixão.